14 Mai 2025
Milhares de satélites já orbitam a Terra, transformando o céu noturno e o equilíbrio espacial. Esta revolução tecnológica implica desafios ambientais, geopolíticos e éticos.
A reportagem é de Juan Ángel Asensio, publicada por Ethic, 08-05-2025. A tradução é do Cepat.
Olhar para o céu estrelado não é mais o que costumava ser. O aparecimento de cadeias de luzes se movimentando mudou a cúpula celeste do nosso planeta: são satélites. Milhares deles.
A responsável por grande parte desta transformação é a SpaceX, a companhia aeroespacial fundada por Elon Musk, que, por meio da Starlink, está implementando uma megaconstelação de satélites em órbita baixa com o objetivo de oferecer acesso à internet de alta velocidade em todo o planeta. Contudo, esta revolução tecnológica levanta questões urgentes sobre o futuro do espaço, do meio ambiente e até sobre a soberania das nações.
A ideia por trás da Starlink é simples em sua formulação: colocar uma rede enorme de pequenos satélites na órbita terrestre baixa (LEO, em inglês) que, trabalhando em conjunto, possam oferecer cobertura de internet até mesmo nos locais mais remotos. Ao contrário dos satélites geoestacionários tradicionais, que orbitam a aproximadamente 36.000 km da Terra, os satélites da Starlink operam a menos de 600 km de altitude, o que permite reduzir a latência e melhorar a qualidade da conexão.
Até inícios de 2025, a SpaceX já havia lançado mais de 8.000 satélites Starlink e recebeu autorização para implementar até 42.000. A Amazon (com seu Projeto Kuiper), a OneWeb e a rede Guowang (da China) também estão competindo para ocupar o espaço orbital.
Um dos efeitos mais visíveis é o impacto na observação astronômica. Os telescópios, tanto profissionais quanto amadores, começaram a registrar rastros brilhantes causados pelos reflexos dos satélites, especialmente durante o amanhecer e o anoitecer. Isto interfere na captura de imagens do universo profundo, essencial para a pesquisa científica.
Embora a SpaceX tenha tentado mitigar este problema com versões escuras de seus satélites (DarkSat) e escudos refletivos (VisorSat), os resultados foram limitados. Organizações como a União Astronômica Internacional alertaram para a necessidade de estabelecer normativas internacionais para regular a presença destes objetos em órbita baixa.
A implementação em massa de satélites também tem implicações ambientais, tanto na Terra quanto no espaço. Para começar, cada lançamento consome quantidades enormes de combustível, gerando emissões de CO2 e outras partículas poluentes na atmosfera superior. Embora a SpaceX utilize foguetes parcialmente reutilizáveis, como o Falcon 9, o impacto acumulativo de lançamentos frequentes não é desprezível.
Em órbita, o problema mais crítico é o dos detritos espaciais. Quanto mais satélites são colocados no espaço, maior o risco de colisões. Um único impacto pode gerar milhares de fragmentos que permanecem flutuando por anos, colocando em risco outras missões espaciais, estações tripuladas e operações futuras. É o que se conhece como a Síndrome de Kessler, uma reação em cadeia de colisões que pode tornar certas órbitas inservíveis.
Os satélites Starlink têm uma vida útil média de 5 a 7 anos. Quando se tornam obsoletos ou falham, espera-se que desçam de forma controlada para a atmosfera terrestre, onde se desintegram. No entanto, este processo nem sempre é perfeito e alguns fragmentos podem sobreviver à reentrada. Além disso, nem todas as empresas contam com mecanismos avançados para a retirada segura de satélites.
A falta de uma legislação global vinculante sobre o fim da vida útil destes aparatos gera um vazio legal que pode ter consequências graves. Atualmente, cada país é responsável pelos objetos que lança, mas o controle efetivo é limitado.
E a implementação de constelações de satélites também está mudando o tabuleiro geopolítico. Controlar uma rede global de comunicações do espaço implica poder estratégico. Durante conflitos, como o que está acontecendo na Ucrânia, o acesso ou a interrupção de serviços de satélite pode inclinar a balança informativa e militar.
Além disso, a ocupação intensiva de órbitas baixas por empresas estadunidenses tem gerado tensões com outros países e reavivado o debate sobre a governança do espaço. O espaço deve ser considerado um bem comum da humanidade ou apenas mais um recurso na concorrência global?
Na perspectiva econômica, o acesso global à internet tem o potencial de reduzir a lacuna digital em regiões sem infraestrutura terrestre. No entanto, também existe o risco de concentrar a infraestrutura de conectividade nas mãos de poucas empresas privadas, com escassa supervisão pública.
A longo prazo, a comercialização do espaço pode consolidar um oligopólio da conectividade global. Embora o serviço Starlink já esteja operando em dezenas de países, seu custo continua sendo alto em muitos contextos, o que limita o seu alcance real em comunidades vulneráveis.
Ninguém pode negar, então, que a era das constelações de satélites representa um marco na história da tecnologia e das comunicações. A SpaceX e outros atores demonstraram que o espaço não é mais apenas para agências estatais, mas também para corporações privadas com ambições globais. No entanto, esta revolução não é inofensiva, traz consigo novos desafios ambientais, legais, sociais e políticos que exigem uma reflexão coletiva. Enquanto isso, o céu noturno continua mudando. E com ele a nossa relação com o cosmos, a tecnologia e o planeta.