25 Março 2025
No eco constante de vozes e discursos, de exortações e ameaças, a Palavra já não é ouvida; é o tempo de hoje, destas semanas em que vivemos, num caos crescente, em posturas cada vez mais retóricas e cada vez mais perigosas. Muitas palavras ressoam no discurso público e na mídia, e essas palavras não são a Palavra.
O comentário é de Sergio Di Benedetto, professor de Literatura Italiana na Universidade da Suíça Italiana, em Lugano. O artigo foi publicado por Settimana News, 23-03-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o texto.
Há um silêncio da Palavra e daquelas palavras que ela inspira; misericórdia, perdão, amor, fraternidade, acolhida, gentileza, serviço são palavras que saíram de moda.
Se olharmos com coragem para o panorama que temos diante de nós, temos de admitir que estamos perante uma derrota: a Palavra já não diz, a Palavra já não fala. O discurso é continuamente alimentado pela violência e opressão. E tragicamente, palavras são seguidas por ações.
É uma derrota do Evangelho. Mesmo aqueles que, com autoridade e convicção, representavam publicamente a única voz credível da humanidade, enraizada na Palavra, agora experimentam extrema fragilidade, profunda fraqueza, dentro dos limites de um quarto de hospital.
Esta Quaresma de 2025 é uma verdadeira Quaresma; dveria ser uma Quaresma Jubilar, mas quão distante está do Jubileu de 2000, que teve outras ressonâncias, outros horizontes!
E, no entanto, hoje, essa derrota pública da Palavra, essa fraqueza do Evangelho, é o verdadeiro Evangelho, o Evangelho autêntico: o que é a Quaresma senão o período em que o cristão se aproxima do testemunho radical de Cristo na cruz? É claro que temos fé na ressurreição e sabemos que há sinais de vida, mesmo que todo o aparato de ação e discurso pareça afirmar o contrário. O bem está lá e sobrevive. Mas hoje é difícil ver isso.
Mas isso é a Quaresma: derrota, fragilidade, silêncio.
O cristão vive na confusão, numa preocupação com o destino do mundo que o torna companheiro dos homens de boa vontade. Certamente não é a primeira temporada sombria da história, nem será a última. Mas cada estação sombria tem seu peso, e nós, hoje, temos que suportar isso.
Esta Quaresma de 2025 é verdadeira, no entanto: porque nos aproxima de Jesus que permanece fiel ao Deus que Ele revela, até o fim, até a entrega de sua vida, diante da mentira e da violência.
Continuaremos a nos esforçar para ver o bem, continuaremos a buscar a verdade da palavra, continuaremos a tentar perspectivas de humanidade. Mas o silêncio da Palavra não deve ser escondido: nestes dias, ela parece ter se calado, parece não ressoar mais. Sufocada, ignorada ou, pior ainda, usada e explorada para afirmar o que não é, o que rejeita: a maldade, o egoísmo, a arrogância, o engano.
São dias em que se sente a tentação da indiferença, esmagados por tanto caos, por tantas injustiças. Estes são dias em que a medida da impotência do bem pode levar alguém ao fechamento egoísta.
Em vez disso, vamos encarar essa derrota, vamos superar essa fragilidade. Voltemos à Palavra, detenhamo-nos no Sermão da Montanha; Lembremos que a lei da história não é somente a da força, mas também a do Magnificat: "Ele derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes".
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