20 Março 2025
“Desarmar, desarmar, desarmar”. O Papa Francisco escreve por nada menos que três vezes na breve carta de resposta datada de 14 de março - um dia depois que o Parlamento Europeu aprovou o plano ReArm Europe - dirigida ao diretor do Corriere della sera Luciano Fontana (que havia enviado uma mensagem ao pontífice nos últimos dias) e publicada ontem de manhã no diário milanês.
A reportagem é de Luca Kocci, publicada por Il Manifesto, 19-03-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Devemos desarmar as palavras, para desarmar as mentes e desarmar a Terra”, diz o texto de Bergoglio. “Há uma grande necessidade de reflexão, de calma, de sentido da complexidade”, continua ele. “Enquanto a guerra só devasta as comunidades e o meio ambiente, sem oferecer soluções para os conflitos, a diplomacia e as organizações internacionais precisam de nova seiva e credibilidade. Desse ponto de vista, é importante o papel das crenças religiosas, que - conclui o pontífice - podem se valer da espiritualidade dos povos para reacender o desejo de fraternidade e justiça, a esperança de paz”.
Alguns se apressarão em dizer que isso é uma coincidência. No entanto, não parece coincidência que o novo apelo ao desarmamento feito pelo Papa Francisco - que está hospitalizado na policlínica Gemelli, em Roma, há mais de um mês devido a uma pneumonia bilateral, em processo de melhora nos últimos dias, tanto que os médicos confirmaram o prognóstico em 10 de março - chegue no exato momento em que a Europa decide correr a se rearmar, aprovando um plano de oitocentos bilhões de euros. “Daqui (do hospital, ndr) a guerra parece ainda mais absurda”, Bergoglio havia escrito para o Angelus de 2 de março. Um conceito também reiterado na carta a Fontana, acrescentando que “a fragilidade humana tem o poder de nos tornar mais lúcidos com relação ao que dura e ao que passa, ao que nos faz viver e ao que mata”.
Também a Conferência Episcopal Italiana, na semana passada, havia criticado o ReArm Europe. “Em um momento histórico em que se insiste nos temas da segurança e da defesa, é fundamental que tais preocupações não se tornem tambores de guerra”, afirmaram os bispos no comunicado final do Conselho Episcopal, enfatizando ‘a urgência de que os investimentos públicos sejam direcionados principalmente para o atendimento dos necessitados, das famílias pobres, das camadas sociais mais fragilizadas, para garantir serviços educacionais e de saúde adequados para todos, para combater as mudanças climáticas”.