17 Janeiro 2025
Na vanguarda dos movimentos que fizeram frente à extrema-direita de Bolsonaro, as mulheres negras têm uma longa história na disputa política brasileira. Um livro reúne sua genealogia e suas visões para o futuro.
A entrevista é de Sarah Babiker, publicada por El Salto, 16-01-2025.
Ana Carolina Lourenço e Fabiana Pinto vieram a Madri no outono com a Fundação Rosa Luxemburgo e visitaram vários espaços locais antirracismo para partilhar experiências e reflexões. Elas chegaram com uma obra coletiva debaixo do braço, a imaginação política radical das mulheres negras brasileiras e latino-americanas (Fundación Rosa Luxemburgo/Oralituras, 2024), um pequeno e enorme volume como repositório de experiências, memória e horizontes, que começou a ser escrito in Em 2020, em meio ao bolsonarismo, “estávamos, como a maioria das comunidades negras brasileiras, e outras partes da Diáspora e da África, atravessado pelo medo”, explicam os coordenadores do volume: a própria Lourenço e a atual ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco no prefácio. “As mulheres negras brasileiras foram a vanguarda dos movimentos que derrotaram a extrema-direita nas urnas”, afirma o texto.
A tradução do livro para o espanhol vem com vocação de diálogo com o restante da América Latina e com o Estado espanhol, num contexto marcado por ameaças e desafios semelhantes, em parte, aos que o ativismo negro brasileiro vem enfrentando. Está dividido em duas partes, na primeira, chamada Ecos do Agora, é feita uma genealogia dos caminhos ainda percorridos, passando pela participação política, pelas lutas por direitos sociais ou culturais e pelas políticas raciais. Com o nome: Itinerários do fazer, a segunda parte explora os modos como demandas e propostas se concretizam em movimentos e instituições. Conversamos com Lourenço e Pinto, graduadas em Saúde Coletiva e autores participantes do livro. Ambas fazem parte do movimento Mulheres Negras Decidem.
Comparado a trabalhos que propõem leituras individuais e teóricas, focadas na perspectiva de um autor, o seu é um trabalho coletivo, um compromisso de agregar diferentes vozes e perspectivas. Qual é o valor político desta polifonia?
Ana Carolina: A ideia inicial do livro era justamente essa, incluir vozes diversas. Sem dúvida, os debates sobre o espaço ou a posição das mulheres afro no poder cresceram muito, ganharam muita visibilidade. Mas prevaleceu uma certa perspectiva, uma perspectiva que veio com a crença de que esse debate era algo recente, iniciado recentemente. Portanto o nosso trabalho é também um trabalho de memória, de tornar visível até que ponto este compromisso, que é um compromisso das mulheres afro de contestar no quadro da política nacional, é na verdade um compromisso do século XX, do século XXI, não é nada novo. A novidade é que quando isso entra com mais força no debate público, há sem dúvida uma ideia de agrupamento, que é um conceito que implica que quando é preciso gerar espaços ou abrir caminhos, isso é agrupado, coletivizado, feito em conjunto para torná-lo mais visível.
Você falou sobre memória, sobre olhar para trás. A ideia de ancestralidade também é introduzida no livro. O que a ancestralidade acrescenta à memória?
Ana Carolina: Há uma contribuição mais concreta da perspectiva cultural afro-brasileira que reside em ditados muito comuns “eu sou porque nós somos”, a ideia do Ubuntu... Há várias contribuições no livro de uma perspectiva mais cultural perspectiva do que é história, do que é memória, do que é política, em que a ideia de ancestralidade é importante.
O livro é dividido em dois momentos: Um deles coleta esses ecos do passado, com uma visão muito ampla de como nós, como movimento de mulheres negras hoje no Brasil, estamos onde estamos devido a uma consolidação, uma grande contribuição daqueles que foram já existiam antes, também em termos das nossas estratégias. Destaca-se esta ideia de continuidade, de circularidade. Mas a outra parte do livro centra-se nos ecos do presente: como nós, a nova geração, estamos a interpretar as apostas dos mais velhos.
Aliás, o livro começa lembrando Antonieta de Barros (a primeira negra eleita deputada em 1935). Você fala sobre essa jornada da década de 1930 até os problemas estruturais atuais e como ela vai dessa figura de De Barros até Marielle Franco, que entendo serem duas perspectivas políticas diferentes, em momentos diferentes. Por que é importante refletir esta evolução?
Ana Carolina: Há no livro toda uma tentativa de organizar vitórias, derrotas e aprendizados. Existe uma aposta: primeiro, quando lutamos, vencemos. Devemos entender isso, que estivemos envolvidos nas grandes vitórias dos direitos políticos na história do Brasil, Antonieta de Barros esteve envolvida nos movimentos sufragistas pelo direito ao voto. Junto com Marielle também foram escolhidas Áurea Carolina ou Talíria Petronio, cujas vozes ficam ainda mais fortes por causa do ocorrido com Marielle. A ideia de que para além dos diferentes contextos, da diversidade, estamos a fazer apostas, contribuições concretas, é uma frase do livro. Afirmar que também vencemos, que aprendemos, que há coisas que podem ser recuperadas em outro tempo histórico.
Por exemplo, Antonieta de Barros, além de toda a sua relação com o movimento sufragista e com os direitos políticos, foi também uma política comprometida com o debate da educação pública. Sua visão em relação à educação pública não foi aproveitada diretamente em seu tempo histórico. Mas acreditamos que – nesta ideia de ancestralidade – se estabelece uma ligação, que décadas depois queremos incorporar as suas contribuições para partir não do ponto zero, mas de toda uma genealogia de debates.
O livro aborda por outro lado, relembrando os anos noventa e uma certa apropriação neoliberal da identidade, como passamos do particularismo identitário para esta revolução das políticas sociais, do estrutural. Por que essa evolução também é importante?
Ana Carolina: Os movimentos de mulheres afro, de mulheres negras, principalmente no Brasil, durante a ditadura militar, já são forças de resistência. Mas o movimento negro organizado da forma moderna, tal como o conhecemos, articulou-se na década de 70, passou pela fase mais brutal da ditadura e depois desorganizou-se: muitos dos seus dirigentes foram obrigados a abandonar o país. E quando voltam, que é no final dos anos 80, é justamente quando chega a onda neoliberal.
É, portanto, uma relação complexa. Mas sim, certamente há efeitos diretos até na forma como tudo está organizado, com o papel das ONGs nos movimentos. Mas gosto muito de destacar a perspectiva de que existe um quotidiano muito politizado entre as mulheres afro: embora muitas vezes tenham sido feitos acordos para estabelecer algumas políticas institucionais, a visão vai mais longe. Assim, embora na década de 90 muitos dos movimentos de mulheres afro tenham vivido o seu momento mais institucional – por se configurarem como ONGs, mas também por cooperarem com governos a partir de uma marca de Estado participativo, numa cooperação que não era tão belicosa, nem tanto de resposta – foram justamente as mulheres negras as primeiras a gerar as críticas mais concretas sobre o que estava acontecendo na democracia brasileira, por exemplo, em 2015, antes das Olimpíadas.
Este mesmo movimento é o primeiro que trará 50 mil mulheres negras para a capital, quando a democracia gera seus primeiros cenários mais perigosos, anunciando a chegada de Bolsonaro e tudo o que vem depois. Acredito que esses movimentos, pela sua particularidade, fazem leituras políticas muito ágeis, e se formam a partir da visão de onde podemos avançar mais. Acho que é por isso que, a partir de 2015, teremos movimentos com outro formato como Mulheres Negras Decidem, Mulheres Negras por Direitos... com um compromisso muito mais concreto de crítica ao Estado. Com os seus candidatos, formando poder, mas num confronto muito direto.
Acho muito interessante o que você diz, um olhar mais matizado sobre o debate entre domesticação e contestação, que às vezes termina na lógica do tudo ou nada.
Ana Carolina: Sim, acho que é muito complexo, quando falamos de movimentos que vão ao encontro de direitos muito fundamentais e básicos, às vezes não cooperar também é uma decisão um tanto fatal. Parece-me que o que caracteriza os movimentos de mulheres negras no Brasil é uma extrema responsabilidade com suas comunidades, diretamente, mas também com o próprio projeto do país, a nação. Eles vão embora quando percebem que isso está em perigo. Eles também emergem desse debate entre cooperação e contestação. Eles dobram a aposta e ficam mais fortes desde a resposta.
Você aborda isso, Fabiana, detalhadamente, quando fala da importância do movimento de mulheres negras nas lutas pela saúde pública.
Fabiana: É muito interessante ver como o movimento de mulheres negras, sobretudo, esteve envolvido não só na construção do que é hoje o sistema de saúde brasileiro, o Sistema Único de Saúde, mas também em uma proposta liberal mais radicalizada e menos radical. deste sistema.
Outro marco importante é a investigação sobre as políticas de esterilização em massa de mulheres negras e nordestinas (da região Nordeste, também majoritariamente negras) que estavam sendo submetidas à esterilização, muitas vezes graças ao financiamento do governo dos EUA, e à chegada de serviços de saúde reprodutiva para cidades como o Rio de Janeiro. Houve uma deputada na altura, Benedita da Silva, que ainda hoje é deputada federal no Brasil, que liderou esta investigação, que acabou por condenar este processo de esterilização. E não só isso, ele também contribuiu muito para o que viria a ser a política de saúde sexual e reprodutiva que temos hoje no sistema de saúde público brasileiro. Esses também são elementos que aparecem no livro, que são resgatados tanto na parte de análise do presente que Carol mencionou, quanto na parte de resgate histórico de documentos e contribuições históricas do movimento de mulheres negras.
Ana Carolina: Essa investigação não só mudou a política de pensamento dos direitos reprodutivos no Brasil, mas também é considerada um dos momentos mais claros em que, dentro do Estado, fica comprovado que o Brasil conduz uma política pública com segregação racial. De forma muito específica, Da Silva coleta dados que mostram que há maior incidência dessa prática nas regiões e cidades mais negras e pobres do Brasil. Também destaca como a agenda da saúde como direito fundamental é central. É justamente a partir desse momento que foi possível comprovar, no contexto da democratização, que o Estado brasileiro conduzia uma política particularmente eugenista voltada para as mulheres negras e pobres. Algo muito difícil e no século XX.
Acabamos de participar de um tour pela Madri Negra, que falou sobre a dificuldade de recuperar a história da escravidão na Espanha devido à falta de registros populacionais que incluíssem raça. É um debate que aqui ganhou uma certa relevância nos últimos anos, com a exigência do movimento antirracista de que a autopercepção racial das pessoas fosse registada em estatísticas para medir desigualdades e preconceitos. De um certo senso comum espanhol, continua a ideia de que perguntar às pessoas sobre a sua raça é racista.
No Brasil temos esse projeto de lei, incluído no livro, que foi apresentado em 2012 pela deputada Leci Brandão e virou lei em 2018, que exige que todos os documentos públicos e registros civis possam perguntar sobre cor, categoria e raça, e é justo fazer políticas públicas. A gente entende toda a história, toda essa ideia da declaração da UNESCO sobre a discriminação racial , de que a raça foi usada durante o século 20 para perseguir pessoas, mas sem dúvida é impossível desconstruir algo que foi construído com base na raça. , organizar, compreender e gerar um diagnóstico do problema, caso a raça não seja levada em consideração.
O Brasil hoje tem alguns dos melhores sistemas de dados para orientar políticas de desigualdade racial, justamente porque nosso censo pergunta sobre raça desde o século 19, mas foi depois da democratização que foi lançado um sistema com o qual conseguimos nos conectar com a raça, desde sistemas de saúde, ao ensino primário, ao acesso à universidade ou ao momento em que devem ser definidas políticas públicas de habitação e assistência. É assim que temos um diagnóstico muito completo que ajuda a desenhar políticas públicas capazes de reduzir as dificuldades.
O livro também fala sobre a importância da presença nos espaços de poder, da chamada “bancada negra”.
Primeiro, a chegada de um número maior de pessoas negras, que trouxeram uma agenda de defesa de direitos, que vieram de movimentos antirracistas no Brasil, sem dúvida melhorou as políticas públicas. Talvez não seja suficiente para um horizonte muito revolucionário, mas, no quadro da democracia deliberativa liberal, esta pluralidade de origens conduz a uma democracia melhor e mais completa, pois realmente orienta o desenho das políticas públicas a partir das próprias experiências e perspectivas.
E, mais recentemente, vemos ações mais coordenadas das bancadas de mulheres afro. Por exemplo, a bancada antirracista e negra no Congresso está organizada para defender algumas políticas, como a política nacional de ação afirmativa [de discriminação positiva], ou para apoiar e agregar contribuições específicas com o nascimento de programas como o Juventud Viva. Acredito que uma ação coordenada numa perspectiva multipartidária (embora, claro, haja sempre mais peso dos partidos de centro-esquerda) gera mais força, permite legislar e institucionalizar reivindicações, além de promover ações muito específicas.
No livro você fala sobre a dimensão comunitária dos feminismos negros. É interessante como esta dimensão ganha importância na luta pelo direito à saúde.
Fabiana: Sim, ampliando o que eu disse antes sobre as lições aprendidas pelas mulheres negras antes da formação do Sistema Único de Saúde brasileiro, elas contribuíram para a criação de um modelo municipal que se organizava basicamente nas periferias. Aqui podemos citar algumas cidades como exemplo, como no Rio de Janeiro, na Baixada Fluminense, onde existiam organizações lideradas por mulheres negras que funcionavam como uma espécie de Conselho Municipal Popular de Saúde, modelo que contribuiu para a configuração de ambos o sistema de saúde, bem como outras políticas que foram construídas ao longo da década de noventa e dois mil. Hoje, essas contribuições de ONGs, organizações, grupos e movimentos locais levaram a uma série de melhorias nas políticas de saúde e, como eu disse, na principal política pública, esse Sistema Único de Saúde, que é a política de atenção primária à saúde no Brasil. Assim, esses movimentos comunitários organizam e contribuem para as políticas públicas de saúde. Esta mesma dinâmica repete-se no domínio da educação, da cultura ou da habitação.
Acho o título do livro muito sugestivo, gosto de ler ali a palavra “radical”. Por que essa imaginação política das mulheres negras brasileiras é radical?
Ana Carolina: Existem muitos tipos de imaginação ou imaginações. E a imaginação é uma coisa agnóstica, não é uma ideologia. Há também a imaginação dos fascistas, uma imaginação enorme, cheia de fantasias. Então, antes de mais nada, falar de radicalidade permitiu-nos definir o enquadramento: estamos a organizar contribuições políticas de mulheres que construíram, em partidos, frentes ou movimentos de esquerda, uma perspectiva mais progressista. Uma visão de esquerda, mas também radical no sentido Audre Lorde, de abordar os problemas desde as suas raízes. Em seguida, abordaremos como essas ideias têm sido capazes de resolver questões que estão na raiz dos problemas. Não é uma forma leve de lidar com as questões, mas sim fazê-lo com essa radicalidade.
Acredito que a importância de organizar a imaginação é a luta do nosso tempo. Poderíamos ter chamado o livro de “soluções radicais”, por exemplo, introduzindo um olhar a partir da solução, a partir das respostas, mas não creio que essa seja a tarefa de um movimento como o nosso, que vive o agora. O agora é a nossa capacidade de questionar as pessoas, conectar os seus sentidos, as suas próprias emoções com uma possibilidade de construção de um futuro, de alternativas, isto é sem dúvida o que devemos fazer. A capacidade de imaginar, de gerar outros olhares que possam sustentar outras maravilhas, outras fantasias, outros desejos, parece-me que além de ser tarefa de um movimento como o nosso, é também tarefa de grande parte dos dissidentes movimentos, especialmente os movimentos originais, daqueles que sofreram a experiência da colonização em todo o mundo. Temos – de forma mais direta – um repositório da construção de outros caminhos e de outros mundos.
Que tipo de debates comuns surgiram nesta viagem?
Fabiana: Dentre as atividades das quais participamos, fizemos uma visita guiada à exposição sobre memória colonial no Museu Thyssen. Ali Yeison F. García, que é um dos curadores, a certa altura falou sobre a ideia de um futuro ancestral. Acho que é disso também que a Carol está falando, da possibilidade de imaginar e projetar, imaginar e construir. Porque a gente também está construindo esse futuro a partir desses aprendizados do livro, desse resgate histórico da memória que o livro proporciona. Acho que se trata de conectar esses conceitos.
Esta ideia do futuro ancestral é muito poderosa.
Ana Carolina: Tem a ver com a distinção entre imaginar e inventar. Não estamos inventando – embora pudéssemos – estamos imaginando. E a imaginação se baseia no que sabemos, o que se conhece é o que delimita o que imaginamos. Não estamos inventando um mundo político, mas a partir das histórias que conhecemos, das pessoas que as geraram, estamos imaginando, e esta é uma ação coletiva. A invenção pode ser individual, pode-se inventar sozinho, mas a imaginação não é uma capacidade individual, mesmo as fantasias, as histórias, as fábulas partem dos costumes, das histórias das avós. Assim, a política que estamos imaginando é uma ação verdadeiramente coletiva, porque o que acontece na minha cabeça acontece na cabeça de tantos outros, de diversas formas.
A primeira edição do livro no Brasil, publicada em 2021, sai em espanhol após três anos intensos. Que expectativas você tem com esta edição em espanhol?
Ana Carolina: Em 2021 já tínhamos a sensação, em conversas com colegas de outros países, de que o que acontecia no Brasil ressoava com o que acontecia em outros contextos. Mas sobretudo no nosso país, com os movimentos que existiam, havia um nível de organização, de sistematização, que não era o mesmo que noutros países. Não porque tivéssemos qualidades especiais, mas porque, por exemplo, o facto de os movimentos de mulheres afro terem sido talvez a principal força contra Bolsonaro, de extrema-direita. Não estamos melhores, mas talvez por termos justamente uma das mais longas experiências de escravidão, por estarmos vivendo um momento mais complexo de liderança de extrema-direita, isso talvez tenha gerado uma qualidade na nossa resistência.
Então, a primeira coisa foi compartilhar estratégias, compartilhar opiniões. Diga: olha, isso aconteceu no Brasil assim. Mas o segundo e mais importante foi gerar diálogos, pois sabemos que a construção do conhecimento também possibilita essas trocas. Ao organizar a nossa experiência, estamos também a dizer: vejam, sabemos que isto acontece noutros lugares e adoraríamos ler como respondem as imaginações radicais que existem noutros lugares. Porque, como a imaginação, mais uma vez, é um exercício coletivo, quanto mais ordenarmos e sistematizarmos, mais geraremos imaginações políticas, talvez ainda mais radicais, ainda mais capazes de realizar as transformações de que necessitamos.
E que ressonâncias você tira da sua visita?
Fabiana: Tudo o que ouvimos hoje de manhã na visita guiada sobre escravidão nos era familiar: porque o que acontece aqui no processo escravista, no Brasil, na Espanha, em outros países das Américas, é muito parecido. Mas especialmente o que mais me marcou hoje em dia foi encontrar outros movimentos, não necessariamente movimentos de mulheres negras. Quando nos conhecemos no SOS Racismo, pudemos conversar com outras pessoas que são lidas como racializadas, aqui na Espanha – migrantes, pessoas do Peru, da Bolívia, das Américas, povos indígenas em geral – e foi interessante ver essa semelhança nas estratégias de luta, estratégias de resposta, construção de contranarrativas. É algo que pudemos ver, por exemplo, no dia 12 de outubro. As estratégias de resposta, a energia para produzir outra narrativa possível dentro de um campo de esquerda para aquela data ou para aquela memória tradicional, sinto que essa foi a principal semelhança que vi e que ressoa muito em mim. Acho que essa experiência também mostra as possibilidades que temos de trocar e construir novas estratégias com base no que temos feito nos diferentes países.