17 Janeiro 2025
Viktor Frankl, psiquiatra e sobrevivente do Holocausto, argumentou que a busca por sentido é fundamental para a saúde mental e emocional. Quando os estudantes enfrentam uma crise de sentido, como a falta de propósito ou conexão com os outros, podem se tornar vulneráveis à crueldade. A ausência de significado em suas vidas pode levá-los a agir de forma insensível e prejudicial.
O artigo é de Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves.
Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves é teólogo, filósofo, historiador. Graduado em História, Filosofia e Teologia. É mestre em Teologia, especialista em Ética e em Projetos e Inovação na Educação. Leciona Teologia, Ensino Religioso, Filosofia e Projeto de Vida.
“Em nome de interesses pessoais, muitos abdicam do pensamento crítico, engolem abusos e sorriem para quem despreza. Abdicar de pensar também é crime” — Hannah Arendt
Nos corredores da escola, palco de sonhos e aprendizados, um drama silencioso se desenrola: a crueldade humana assume formas brutais, falta de respeito e dificuldade em impor limites a jovens e adolescentes, tem comprometido a vida de muitos.
Hannah Arendt, em sua obra "Eichmann em Jerusalém", introduziu o conceito da "banalidade do mal". Segundo Arendt, o mal pode ser cometido por indivíduos comuns, que não necessariamente possuem uma natureza malévola, mas que agem de maneira insensível e irrefletida, seguindo ordens ou normas sociais sem questioná-las. No contexto escolar, essa teoria pode ser observada no comportamento dos estudantes que praticam crueldade contra seus colegas. Muitas vezes, os atos de bullying e exclusão não são perpetrados por jovens intrinsecamente maldosos, mas por aqueles que seguem a dinâmica do grupo, sem refletir sobre as consequências de suas ações.
A banalidade do mal se manifesta na conformidade social e na falta de empatia. Estudantes podem participar de atos cruéis não por uma intenção deliberada de causar sofrimento, mas porque essas ações são normalizadas dentro do ambiente escolar. A pressão para se adequar ao grupo e a necessidade de afirmação social podem levar jovens a cometerem crueldades, sem considerar a gravidade de seus atos.
A crueldade humana na escola é um fenômeno complexo que se manifesta de diversas formas, desde bullying verbal e físico até a exclusão social, discursos de discriminação socioeconômicos e o cyberbullying. Para entender essa problemática, é fundamental considerar os conceitos de Hannah Arendt e Viktor Frankl, cujas reflexões filosóficas e psicológicas proporcionam uma compreensão mais profunda das dinâmicas envolvidas.
Arendt argumentou que o mal muitas vezes não surge de intenções malignas ou fanatismo extremo, mas sim da falta de pensamento crítico e reflexão. A “banalidade do mal” ocorre quando pessoas comuns se tornam cúmplices de atrocidades, agindo de forma mecânica e desprovida de empatia. Essa ausência de questionamento e reflexão leva à privação de responsabilidade e à perpetuação do mal.
Viktor Frankl, em sua obra "Em Busca de Sentido", explora a ideia de que o ser humano tem uma necessidade intrínseca de encontrar sentido em sua vida. Frankl argumenta que a falta de sentido pode levar ao vazio existencial e ao comportamento destrutivo. No ambiente escolar, essa crise de sentido pode se manifestar de diversas formas, incluindo a crueldade contra os outros.
Os estudantes que sofrem de uma crise de sentido podem sentir um profundo vazio interior, que tentam preencher através de comportamentos agressivos ou de exclusão. A crueldade, nesse caso, pode ser vista como uma tentativa disfuncional de lidar com a própria falta de propósito e significado. Ao infligir sofrimento nos outros, esses jovens podem estar tentando afirmar sua própria existência e buscar uma sensação de controle e poder em um ambiente onde se sentem impotentes e desorientados.
Além disso, a falta de sentido pode ser exacerbada pela ausência de valores e de orientação moral no ambiente escolar. Quando os estudantes não encontram apoio emocional e não são incentivados a refletir sobre questões éticas e de propósito, tornam-se mais suscetíveis a comportamentos cruéis. A crise de sentido, portanto, não apenas contribui para a crueldade na escola, mas também é alimentada por ela, criando um ciclo vicioso difícil de romper.
Com o avanço de algumas realidades, um fator determinante deve ser observado: a crise de sentido. Sendo assim é necessário explorar como essa ideia se relaciona com a conduta dos estudantes nas escolas e a crise de sentido proposta por Viktor Frankl. Sob a ótica de Frankl, a crise de sentido emerge como um pano de fundo inquietante. O ser humano imerso em um mundo fragmentado, desprovido de valores e propósito, busca na dor do outro uma falsa sensação de poder e significado.
Viktor Frankl, psiquiatra e sobrevivente do Holocausto, argumentou que a busca por sentido é fundamental para a saúde mental e emocional. Quando os estudantes enfrentam uma crise de sentido, como a falta de propósito ou conexão com os outros, podem se tornar vulneráveis à crueldade. A ausência de significado em suas vidas pode levá-los a agir de forma insensível e prejudicial.
Em resumo, a crueldade humana muitas vezes surge da falta de reflexão e empatia. É essencial promover a conscientização e a educação para combater essa banalidade do mal e criar ambientes mais compassivos e solidários.
A integração das perspectivas de Arendt e Frankl oferece uma compreensão abrangente da crueldade humana. A banalidade do mal nos alerta para a importância da reflexão crítica e da resistência à conformidade social, enquanto a crise de sentido nos lembra da necessidade de oferecer aos jovens um propósito e uma orientação moral clara.
Para combater a crueldade nas escolas, é crucial fomentar um ambiente onde a empatia, a reflexão crítica e a busca por sentido sejam valorizadas e incentivadas. Isso pode ser feito através de programas de educação emocional e ética, que ajudem os estudantes a desenvolver habilidades de pensamento crítico e a encontrar um propósito em suas vidas. Ao abordar tanto a banalidade do mal quanto a crise de sentido, podemos trabalhar para criar um ambiente escolar mais humano e compassivo, onde a crueldade seja a exceção, e não a regra.