11 Janeiro 2025
Vídeos antigos mostram um homem parecido com o novo ministro da Justiça da Síria supervisionando a execução de duas mulheres em 2015. O Verify Syria sugere uma forte probabilidade de que seja Shadi Al Waisi, ao mesmo tempo que alerta contra múltiplas campanhas lideradas pelo Irã e pela Rússia contra o novo governo.
A reportagem é de Julie Connan, publicada por La Croix International, 08-01-2024.
Em meados de dezembro, ele proclamou o “fim da era da opressão” em um dos grandes outdoors que apareceram em Aleppo após a queda do regime de Assad. O novo ministro da Justiça sírio, Shadi al-Waisi, agora se encontra no centro de revelações profundamente embaraçosas sobre seu passado em Idlib.
Dois vídeos recentemente divulgados mostram um homem muito parecido com al-Waisi, usando óculos e barba espessa, supervisionando as execuções de duas mulheres acusadas de prostituição e adultério em janeiro de 2015. Em meio à guerra civil, Idlib estava então sob o controle da Frente Al-Nusra — um braço da Al-Qaeda na Síria, mais tarde se tornando Hayat Tahrir Al-Sham (HTC) — dentro da qual al-Waisi, um graduado em lei islâmica, estava então servindo como líder religioso.
O primeiro vídeo mostra um homem, vestindo um kufi preto, pronunciando a sentença de morte para uma mulher ajoelhada na rua, cercada por homens armados. No segundo, o indivíduo suspeito de ser al-Waisi é filmado interagindo com uma mulher acusada que pede para falar com seus filhos antes de ser sumariamente executada a tiros no meio da rua.
Foto: Reprodução | Verify Syria
Além da mera semelhança física e vocal, a plataforma de verificação de fatos síria Verify Syria confirmou a autenticidade dos vídeos e a identidade do ministro de 39 anos. “Dado o debate público levantado por este caso, a equipe de pesquisa interveio para verificar as fotos. Usando ferramentas de código aberto, a equipe comparou as características faciais e a voz no vídeo com entrevistas recentes de Shadi al-Waisi. Apesar da baixa qualidade das imagens, os resultados mostraram uma forte correspondência”, explicou Zouhir Al Shimale, jornalista, pesquisador e oficial de comunicações da Verify Syria, no X.
O site também contatou o novo governo sírio, que fez da justiça e da igualdade a pedra angular de sua governança. O novo homem forte, Ahmad al-Chareh (Abu Mohammed Al Joulani por seu nome de guerra), não comentou essas revelações. No entanto, um oficial confirmou ao Verify Syria que Shadi al-Waisi, então juiz, era de fato o indivíduo que aparecia nos vídeos.
O mesmo oficial, que pediu anonimato, tentou justificar as ações do ministro recém-nomeado, explicando que essas execuções foram realizadas “de acordo com as leis em vigor na época e como parte do procedimento”, relatou Zouhir Al Shimale. Esta fonte garantiu ao Verify Syria que essas imagens “refletem um estágio que superamos” e que o governo conduziria uma “revisão completa”.
Desde o reaparecimento desses vídeos, os pedidos pela renúncia do ministro se multiplicaram na jovem Síria pós-Assad. “Nomear alguém que participou da execução a sangue frio de uma mulher em 2015 como ministro da Justiça é um tapa na cara de todos os valores de justiça e humanidade e uma mensagem chocante tanto interna quanto externamente”, denunciou um usuário da internet.
“Se Ahmad al-Chareh se opõe a medidas punitivas dessa natureza, ele deve fazer com que isso seja conhecido pelos islâmicos linha-dura da Síria que aspiram a elas. Ele deve começar demitindo o ministro da Justiça e todos os outros membros de seu gabinete que representam essa ideologia”, acrescentou o jornalista e ativista sírio-britânico Rami Jarrah em sua mídia social.
Apesar dessas revelações e da confirmação da identidade de Shadi Al Waisi, o Verify Syria alerta simultaneamente contra campanhas de desinformação online ligadas à Rússia e ao Irã, que proliferaram desde a queda do antigo regime para desacreditar o governo interino em Damasco.