A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 5,1-12a, que corresponde à Solenidade de Todos os Santos e Santas, ciclo B do Ano Litúrgico. O comentário é Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Naquele tempo, vendo Jesus as multidões, subiu ao monte e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se, e Jesus começou a ensiná-los:
“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus.
Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados.
Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.
Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus.
Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim.
Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus”.
Neste domingo, lembramos aqueles que nos precederam no caminho de seguir a Jesus. O Evangelho nos diz que “vendo Jesus as multidões, subiu ao monte e sentou-se”. Hoje, Jesus também nos vê, acompanha-nos em nossa jornada e procura sentar-se com nossas comunidades para nos dar a conhecer o dom de suas boas novas. Para compreender melhor a riqueza desse texto, talvez nos ajude reconhecer, em primeiro lugar, a quem dirigimos nosso olhar, nossa atenção e nossa escuta. Fazemos parte dessa multidão que caminha e dentro da qual existem diferentes grupos em que cada um segue um determinado líder, simpatiza com suas ideias, apoia suas propostas de renovação, de mudança, de possíveis laços de paz, de estabilidade social, econômica e política.
Todos nós, de uma forma ou de outra, estamos caminhando em direção a diferentes objetivos, no tempo e no lugar em que vivemos. Fazemos parte de uma humanidade que caminha, como diz a perspectiva da fé católica, somos uma Igreja peregrina. Somos seres temporais e o curso de nossa jornada nesta terra tem um determinado momento, ou seja, um determinado tempo. Mas a eternidade que pulsa dentro de nós nos leva a ansiar pelo eterno, a buscar aquilo que não morre e, ao mesmo tempo, a procurar eternizar nosso tempo. De diferentes maneiras, queremos permanecer, continuar “sendo” mesmo que não estejamos mais fisicamente presentes. E quando esse profundo anseio é confrontado com a morte, ele nos leva a pensar sobre o “além”, o que acontecerá, como será, e temos medo desse fim incerto e possivelmente doloroso. Essas são expressões diferentes sobre o significado de nossa vida, sobre a morte e sobre a existência e/ou presença de Deus.
Seja com perguntas, dúvidas, preocupações, seja simplesmente bebendo a água oferecida pelo imediatismo do momento, continuamos caminhando. Somos caminhantes por natureza e neste domingo nos perguntamos: para onde estamos indo? Quais as ideias ou projetos que orientam nossas atividades, que iluminam nossa caminhada, que captam nossa atenção? Quem (ou quem) está sentado naquela montanha que nos leva a levantar os olhos para ouvir e seguir seus conselhos, mensagens ou talvez mandatos? Qual é a fonte da qual bebemos água junto com outras pessoas e que nos torna parte de um determinado grupo? Essas são perguntas existenciais que nos ajudam a contemplar o rastro de nossos passos, a explorar o caminho que estamos seguindo e a reconhecer as vozes que estamos seguindo. A partir daqui, poderemos esclarecer as vozes que chegam aos nossos ouvidos e como olhar para cima e ver Jesus que “subiu ao monte e sentou-se”.
O texto narra que “os discípulos se aproximaram” e, a partir desse momento, “Jesus começou a ensiná-los”. Os discípulos se colocam ao lado dele. É uma iniciativa tomada por esse pequeno grupo para melhor receber o ensinamento de Jesus, para acolher suas palavras. Eles não permanecem na caminhada do grupo com o ritmo incerto de alguns deles, mas decidem se aproximar mais de Jesus. Assim, o texto nos convida a tomar essa iniciativa de nos aproximarmos dele, para que, livres de outros ruídos e saindo do caminho batido e conhecido, possamos receber seu ensinamento.
“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus”.
Com suas palavras, Jesus conforta o grupo de discípulos que o acompanha e, neles, cada pessoa que, de diferentes maneiras, se aproxima dele: eles são abençoados, são abençoados por Deus, são os privilegiados do Reino! Sua mensagem é clara e simples: os pobres em espírito, os aflitos, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os que promovem a paz e, por fim, os que são perseguidos por causa da justiça a recebem com a simplicidade de quem a entende de coração. Em cada um desses gestos, que é um modo de vida, eles “se aproximam de Jesus” e podem ouvir seu ensinamento e receber por meio dele seu consolo. Muitas vezes, este texto é lido como um programa de vida, mas também podemos recebê-lo como o amor de Deus que já está presente naqueles que adotam esse estilo de vida, porque é a ponte, o caminho que os torna abençoados, bem-aventurados! A eles pertence o Reino, são eles que possuem a terra, que alcançam a misericórdia, que veem Deus! Sua busca pela paz os leva a serem chamados de filhos de Deus.
Deixamos ressoar as palavras do Papa Francisco: “Bem-aventurados os que suportam com fé os males que outros lhes infligem e perdoam de coração; felizes os que olham nos olhos os descartados e marginalizados fazendo-se próximo deles; felizes os que reconhecem Deus em cada pessoa e lutam para que também outros o descubram; felizes os que protegem e cuidam da casa comum; felizes os que renunciam ao seu próprio bem-estar em benefício dos outros; felizes os que rezam e trabalham pela plena comunhão dos cristãos... Todos eles são portadores da misericórdia e ternura de Deus, e d’Ele receberão sem dúvida a merecida recompensa” (Francisco: “As bem-aventuranças são a carteira de identidade do cristão”)
Como poderemos agradecer-te
se somos incapazes de saber
tudo que recebemos?
Por que nos escolheste para existir
entre possíveis seres infinitos?
Quem poderá catalogar agora
o que Tu nos dás em um segundo?
De quem foram as mãos e o cansaço
que asfaltaram a rua em que caminho?
Quantas vezes no escuro detiveste
nossa vida à beira do abismo?
Como a vida eterna dentro de mim
já impregna de infinito meus instantes?
Se todos somos dom uns para outros
bastará que entoe sozinho meu canto?
Apenas Jesus Ressuscitado poderá agradecer-te
e a nós restará somente unir-nos a seu canto de louvor?
Benjamin Gonzalez Buelta
Salmos para sentir e saborear internamente as coisas