22 Outubro 2024
Recentemente, ele alertou que havia um preço sobre sua cabeça, colocado pelo crime organizado. Este domingo (20/10), o padre Marcelo Pérez Pérez, um sacerdote indígena do grupo étnico Tsotsil, foi assassinado em San Cristóbal de Las Casas, no estado mexicano do Chiapas. O padre Pérez, conhecido no Chiapas por seu trabalho incansável e corajoso pela paz e pelos direitos dos povos indígenas, foi assassinado em San Cristóbal de las Casas, logo após celebrar a Missa. O ataque ocorreu quando o padre estava dirigindo seu veículo e foi interceptado por dois homens armados em uma motocicleta. De acordo com a mídia local, o padre Pérez foi atingido por pelo menos oito tiros e morreu instantaneamente.
A reportagem é publicada por Vaticano News, 21-10-2024.
Houve uma forte impressão, acompanhada de indignação, na Igreja local, na Igreja mexicana e na Igreja latino-americana em geral. Ordenado em 2002, o trabalho pastoral do padre foi profundamente marcado por seu compromisso com as comunidades mais vulneráveis, especialmente em áreas afetadas pela violência, pelo crime e pela exploração. Ao longo de seu ministério, o padre Marcelo desempenhou um papel fundamental como mediador em conflitos sociais complexos, particularmente em Pantelhó e Simojovel, outra área assolada pela violência decorrente do tráfico de drogas e da exploração ilegal de âmbar, onde o padre liderou marchas e movimentos sociais para denunciar o tráfico de pessoas, o tráfico de armas e a exploração de recursos naturais. Padre Marcelo foi um dos fundadores da Rede eclesial ecológica mesoamericana em 2019.
O cardeal Felipe Arizmendi, bispo emérito de San Cristóbal de Las Casas, recorda assim do sacerdote assassinado: “Ele foi um dos primeiros padres indígenas que ordenei como pároco. Sempre esteve comprometido com a justiça e a paz entre os povos originários. Nunca se envolveu em política partidária, mas sempre lutou para que os valores do Reino de Deus fossem vividos nas comunidades. Esses são os valores da verdade e da vida, da santidade e da graça, da justiça, do amor e da paz”. Ele era um sacerdote “muito concentrado em sua vocação, muito orante, muito próximo do tabernáculo e muito comprometido com seu povo”.
Seu assassinato, conclui o cardeal, nos mostra, mais uma vez, o clima de violência que foi desencadeado no Chiapas e na maior parte do país. Há uma decomposição social que começa com a destruição da família e é consolidada pela impunidade com que os grupos armados agem. Nem tudo é culpa do governo, mas é uma indicação de que o governo e todos nós, inclusive as Igrejas, estamos subjugados”.
Mensagens também da Conferência Episcopal Mexicana e do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), entre outros. A presidência da Conferência Episcopal Mexicana, em uma nota, ressalta que o assassinato do padre Marcelo Pérez Pérez, “não apenas priva a comunidade de um pastor dedicado ao seu povo, mas também silencia uma voz profética que lutou incansavelmente pela paz com verdade e justiça na região do Chiapas. Marcelo Pérez foi um exemplo vivo de compromisso sacerdotal com os mais necessitados e vulneráveis da sociedade”. Os bispos pedem que as autoridades realizem “uma investigação exaustiva e transparente que esclareça esse crime e faça justiça ao padre Marcelo Pérez”, implementem “medidas efetivas para garantir a segurança dos sacerdotes e agentes pastorais” e redobrem “seus esforços para combater a violência e a impunidade que assolam a região do Chiapas” e o país em geral.
Em uma mensagem dirigida a dom Rodrigo Aguilar, bispo de San Cristóbal de las Casas, a presidência do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam) assinala: “Sabemos que o padre Marcelo foi incansável em buscar a paz e a justiça entre seu povo, fruto de seu fiel compromisso com o Evangelho e de sua total dedicação a Cristo presente entre os que mais sofrem”.
A Companhia de Jesus do México, em um comunicado ulterior, destaca o compromisso com a justiça e a solidariedade que caracterizou o padre Pérez”. E condena “qualquer tentativa de minimizar esses eventos como casos isolados”. Ademais, assegura que o crime organizado semeia medo e dor em várias regiões do país e que a violência no Chiapas reflete um problema estrutural que exige uma resposta integral e urgente do Estado: “Apelamos urgentemente às autoridades para que respondam com firmeza e restaurem a ordem e o estado de direito”.
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Padre indígena assassinado no México. Arizmendi: “lutou por valores da verdade e da vida” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU