28 Agosto 2024
"[Os comentaristas políticos] são incapazes de entender os efeitos da montagem de redes sobre a política, mesmo após a ascensão de Bolsonaro. São incapazes de entender que quem afronta as regras do jogo, não pode permanecer no jogo", escreve Luis Nassif, jornalista, em artigo publicado por Jornal GGN, 27-08-2024.
É inacreditável a incapacidade brasileira de aprender com a tragédia. O país testemunhou o que foi a leniência da Justiça com os abusos do então deputado Jair Bolsonaro. Está testemunhando o que acontece agora com Pablo Marçal.
Não assisti sua entrevista à Globonews, mas a enquete que o Globo fez com colunistas do jornal é uma demonstração cabal da ignorância coletiva nacional. Nem se diga do artigo de Joel Pinheiro da Fonseca, na Folha, o grande sem-noção da atualidade, que defende até o comércio de órgãos humanos. Mas o tratamento dele, como “empresário”, é a maior demonstração da falta de senso de mídia.
E os comentários do Globo são de arrepiar.
Pablo Ortelado, um sociólogo da USP, tratou Marçal como um “Dória goiano Tik Toker”. Ortelado foi o principal defensor dos “black blockers” nas manifestações de 2013, o fator que provocou a reação que jogou as manifestações nas mãos da direita. Logo depois, foi contratado pela revista Veja para um trabalho visando equiparar blogs de esquerda aos blogs de ultradireita geradores de fake news.
Agora, trata como “empresário” um coach que vende livros de autoajuda disfarçando-se de convicto evangélico, atropela todos os procedimentos legais, tem vinculações claras com pessoas ligadas ao PCC e defende uma radicalização mais ampla que a de Bolsonaro.
Outros colunistas elogiaram a postura “mais amena” de Marçal, como se não fosse uma encenação. Se vissem Hitler tocando violino, o tratariam como um sujeito de bons sentimentos.
Poucos se ativeram ao essencial para um candidato a prefeito: as propostas para São Paulo. Ou as implicações de sua candidatura para viabilizar uma ultradireita mais rancorosa e irracional.
São incapazes de entender os efeitos da montagem de redes sobre a política, mesmo após a ascensão de Bolsonaro. São incapazes de entender que quem afronta as regras do jogo, não pode permanecer no jogo. São incapazes de questionar sequer os negócios de Marçal. Ou as acusações absurdas de que Boulos é usuário de drogas.
Nada disso contou para esses analistas do momento presente.
Recentemente, o próprio Marçal admitiu que está sendo investigado pelo COAF. Tem negócios nebulosos com Angola, não registrados no Banco Central. Em 2023, uma investigação da Polícia Federal constatou que as inúmeras empresas que declarou são meros CNPJs, sem demonstrações contábeis adequadas.
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O processo de naturalização de Pablo Marçal. Artigo de Luís Nassif - Instituto Humanitas Unisinos - IHU