20 Agosto 2024
Ataques ocorridos nos dias 3 e 4 de agosto na TI Panambi-Lagoa Rica, que deixaram 11 Guarani-Kaiowá feridos, foram motivados por desinformação, afirma o CIMI.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 20-08-2024.
Organizações alertam que a lei que estabeleceu o marco temporal cria uma insegurança jurídica que aumenta a violência contra os Povos Indígenas. Isso porque, apesar de já ter sido declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a legislação continua vigente, já que a própria corte, em vez de dar um “basta” definitivo à tese, criou uma “conciliação” do que é inconciliável.
No rastro dessa incerteza, políticos ligados ao agronegócio destilam ódio, disseminam desinformação contra indígenas e incitam a população ao ataque. Uma situação que é particularmente grave no Mato Grosso do Sul, em áreas próximas a Terras do Povo Guarani-Kaiowá.
A Agência Pública dá o exemplo do deputado federal Marcos Pollon (PL-MS). Em vídeo nas redes sociais, o parlamentar mentia ao afirmar que Mato Grosso do Sul vivia “uma onda de invasão de propriedade privada, especialmente propriedades rurais, onde supostos indígenas estão atacando proprietários rurais, invadindo fazendas e destruindo, pondo fogo, atirando, ameaçando, estuprando mulheres, matando crianças e cometendo uma série de crimes”.
Acusações falsas como essas contra os Guarani-Kaiowá da TI Panambi-Lagoa Rica, em Douradina (MS), têm sido recorrentes. Os vídeos incitam a reação contra as comunidades, mesmo sem apresentar provas dos supostos crimes.
Segundo o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), os ataques em 3 e 4 de agosto na TI, que deixaram 11 Guarani-Kaiowá feridos, foram motivados por desinformação. Na ocasião, corria a informação de que os indígenas haviam retomado mais áreas, além das sete que já existem dentro dos 12.196 hectares delimitados pela FUNAI. Apesar de uma representante do órgão afirmar, após ir ao local, que a informação era falsa, a mentira já tinha se espalhado.
A desinformação continua sendo alimentada e provocando reações extremadas. Na sexta-feira (16/8), fazendeiros realizaram um “tratoraço” contra o que o Midiamax – um veículo de imprensa que deveria estar mais bem informado – chamou de “retomadas indígenas” na TI Panambi-Lagoa Rica. Havia uma ameaça de que os ruralistas iriam retirar as barracas, mas, segundo uma liderança indígena, não houve nenhuma ação contra os indígenas.
A desinformação alimenta movimentos ideológicos que têm atuado para promover despejos ilegais, como o Invasão Zero, citado com recorrência por produtores rurais e políticos sul-mato-grossenses. Fundado por produtores da Bahia, o Invasão Zero é acusado por indígenas de atuar como uma organização criminosa e incitar crimes, e já está sendo investigado pela Polícia Federal.
A violência no Mato Grosso do Sul, porém, não é o único episódio contra indígenas, destaca o Brasil de Fato. Desde julho, já foram registrados ataques ao Povo Anacé, no Ceará; ao Povo Kaingang, no Rio Grande do Sul; e ao Povo Avá Guarani, no Paraná.
Lideranças do Povo Parakanã estiveram em Brasília para denunciar novas invasões e ameaças dentro da Terra Indígena (TI) Apyterewa, no Pará. A nova denúncia ocorre cinco meses após as lideranças do Povo Parakanã receberem uma Certidão de Conclusão de Desintrusão da TI, documento do governo federal declarando a retirada dos invasores de dentro do território após anos de ocupação ilegal. “A desintrusão aconteceu, mas não adiantou nada. Os fazendeiros estão voltando, estão trazendo gado de novo”, disse o cacique Mama Parakanã, à InfoAmazonia.
Para marcar a 1ª colheita de soja da fazenda Talismã, no ano passado, Debs Antônio Rosa contratou a dupla sertaneja Bruno e Barreto e promoveu uma apresentação gratuita para milhares de pessoas. Às margens da Transamazônica e vizinha à hidrelétrica de Belo Monte, a propriedade é anunciada por um imenso outdoor na estrada. Antes do show, Debs promoveu a fazenda ao lado de prefeitos e deputados da região durante o chamado “Dia de Campo”. A prefeitura de Vitória do Xingu (PA) transmitiu o evento pelas redes sociais. Mas, em 2015, a fama de Debs era outra. Em vez de ser reconhecido como empresário do agronegócio no Vale do Xingu, ele era acusado de sequestro, formação de quadrilha e assassinato, com passagens pela prisão, detalha a Repórter Brasil. Em 2015, seis agricultores sem terra foram assassinados na região, com 79 ameaças registradas. Uma das mortes implica diretamente Debs Antônio Rosa, condenado em 1ª instância e preso pelo crime. Hoje, ele recorre em liberdade, criando gado e plantando soja. E, pelo visto, também sendo bajulado por políticos, apesar dos crimes.
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Políticos desinformam e incitam população contra indígenas no MS - Instituto Humanitas Unisinos - IHU