17º domingo do tempo comum – Ano B – A partilha solidária, sinal do amor de Deus em nós

26 Julho 2024

"A multidão segue Jesus, por causa dos sinais que ele realizava. Levantando os olhos, Jesus vê a multidão que vem ao seu encontro. Prestemos atenção na pergunta que Ele fez a Filipe: “onde vamos comprar pão para eles comerem?” Filipe já tinha visto outros sinais realizados por Jesus, mas ele ainda não era capaz de ver que Jesus lhe pede uma resposta de fé, fé como nos fala a segunda leitura de hoje (Ef 4, 1-6): “há um só Senhor, uma só fé que nos une, é Cristo nossa fé”. Filipe fica num terreno meramente humano, ele procura soluções ilógicas, pensa no dinheiro que não tem e não tem nem onde comprar pão no meio do deserto." 

A reflexão é de Celia Aparecida Lucio, missionária da  Fraternidade Missionária Verbum Dei. Ela é licenciada em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUCMinas e é bacharel em teologia pelo Instituto San Pablo Apostólo, Universidade Urbaniana de Roma.

Leituras do dia

Primeira Leitura: 2Rs 4, 42-44
Salmo: 144, 10-11.15-16.17-18
Segunda Leitura: Ef 4, 1-6
Evangelho: Jo 6, 1-15

Eis a reflexão.

Estamos na 17ª semana do tempo comum do Ano B. O evangelho deste domingo (João 6,1-15) traz o tema da “multiplicação dos pães”. Os milagres que falam os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, no Evangelho de João são chamados de sinais. João nos fala de sete sinais. Os sinais no Evangelho de João revelam a Glória de Deus, para que acreditemos que Jesus é o Senhor. “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna” (Jo 3,36). Esses sinais nos apontam para a vida sobrenatural, a vida eterna.

O evangelho de hoje está dentro do livro dos sinais: é o quarto sinal, o sinal do pão partilhado. O contexto desta passagem é a festa da Páscoa dos Judeus. “Estava próxima a Páscoa dos Judeus”. A Páscoa que os israelitas comemoram a passagem da escravidão do Egito para a liberdade, o êxodo. Deus através de Moisés liberta o seu povo e o conduz pelo deserto a caminho da Terra Prometida, e nesse caminho, em meio ao deserto, os alimenta com o maná, o pão descido do céu (Ex 16,35).

Neste contexto da Páscoa Judaica, Jesus vai para o outro lado do mar da Galileia, vai celebrar a Páscoa no meio do povo que viviam nas margens, “Galileia dos Gentios” (Mt 4,15), terra dos pobres e dos marginalizados.

A multidão segue Jesus, por causa dos sinais que ele realizava. Levantando os olhos, Jesus vê a multidão que vem ao seu encontro. Prestemos atenção na pergunta que Ele fez a Filipe: “onde vamos comprar pão para eles comerem?” Filipe já tinha visto outros sinais realizados por Jesus, mas ele ainda não era capaz de ver que Jesus lhe pede uma resposta de fé, fé como nos fala a segunda leitura de hoje (Ef 4, 1-6): “há um só Senhor, uma só fé que nos une, é Cristo nossa fé”. Filipe fica num terreno meramente humano, ele procura soluções ilógicas, pensa no dinheiro que não tem e não tem nem onde comprar pão no meio do deserto.

Outro discípulo, André, observa que no meio da multidão havia um menino com cinco pães de cevada e dois peixes. Para o sinal acontecer é preciso que coloquemos tudo o que temos da nossa parte, era todo o alimento que tinha no meio da multidão. Esse menino partilhou o que tinha, mesmo sabendo que não era suficiente para todos.

Que mensagem para a vida este evangelho nos deixa?

Jesus nos fala de uma fé em ação: para que o sinal aconteça, ele conta com o que temos e somos e Ele coloca o que falta, e o que não podemos colocar. Muitas vezes pensamos que o que temos é muito pouco. Assim também acontecem em relação aos nossos dons, talentos e capacidades que o Senhor concede para cada um de nós, se eu não coloco vai ficar faltando, ninguém pode colocar por mim.

Quando partilhamos o que temos, Jesus abençoa e multiplica. No evangelho de João é Jesus mesmo quem abençoa e reparte o pão que sacia a fome do povo, que estavam sentados. Esse gesto nos recorda a Páscoa dos judeus que eles estavam celebrando. Jesus está celebrando a Páscoa com o povo, saciando a sua fome, esse gesto também nos faz pensar na Eucaristia. O gesto da partilha é um gesto humano e fraterno, é um sinal do amor generoso de Deus, que Jesus nos pede que coloquemos, para que ele possa multiplicar.

Com esse sinal Jesus nos quer introduzir no terreno divino, isso nos fala de encarnação. “Na encarnação, Jesus assume nossa humanidade para que nós pudéssemos fazer parte de sua vida divina” (Cfr. Sto. Agda vida, do acolhimento, da doação, dando condições de trabalho e de vida digna para todos, lutando para que isso aconteça.ostinho no Sermão de São João 2,13). Ele nos une pelo amor. Esse amor que nos une nos convida a mesa da partilha, não só do pão, mas também da vida, do acolhimento, da doação, dando condições de trabalho e de vida digna para todos, lutando para que isso aconteça.

Parece impossível acreditar que num país como o nosso existem milhões de pessoas que enfrentam insegurança alimentar e condições de vida desumanas. No meio dessa realidade existem pessoas que, movidas pelo amor ao próximo, se fazem solidárias, como aquele menino no meio da multidão que é capaz de colocar os cinco pães e os dois peixes que se multiplicam para muitos. Estou segura que a solidariedade é a que vai salvar o nosso mundo, ela é o sinal do amor de Deus em nós.

Que a partilha solidária dos nossos dons, capacidades e experiências postas em comum, possam oferecer a todos as oportunidades. A partilha do pão e de tudo o que temos e somos é o que Jesus nos pede, a nós como a seus discípulos e discípulas e nos envia a ser sinal do amor do Pai, alimentados por Ele, o pão da vida que nos ensina a repartir o pão e os dons.

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