19 Julho 2024
A líder do partido ecologista, Marine Tondelier, condena a “guerra de liderança” entre o Partido Socialista (PS) e a sigla França Insubmissa (LFI) pela indicação de um nome para chefiar o governo francês. Ela se desculpou pelo "espetáculo" que a esquerda está oferecendo à população francesa.
A reportagem é publicada por RFI, 17-07-2024.
Em entrevista ao canal France 2, nesta quarta-feira (17), a ecologista disse estar "com raiva, enojada e farta” do bloqueio das discussões para a escolha de um primeiro-ministro da Nova Frente Popular (NFP) de esquerda, aliança vencedora do segundo turno das eleições legislativas. Passados dez dias da publicação dos resultados, as negociações entre a esquerda radical, socialistas, ecologistas e comunistas, que formaram uma coligação eleitoral para impedir a vitória da extrema direita, estão travadas.
O fundador da França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, ex-candidato à presidência, tenta impor por todos os meios um nome de seu partido para o cargo de primeiro-ministro. Mélenchon já recusou duas propostas dos aliados e se vê no papel de chefe do governo, apesar de ser o político com maior índice de rejeição do país, de acordo com várias pesquisas. Diante dessa insistência, o jornal Le Parisien questiona se a estratégia de Mélenchon "não é simplesmente a do ódio".
Em entrevista ao canal BFMTV, o líder comunista Fabien Roussel disse que a França Insubmissa talvez prefira ficar na oposição, destacando se tratar de uma posição "muito mais confortável".
A França se encontra num impasse político porque nenhum dos blocos eleitos – de esquerda, centro e extrema direita – alcançou maioria na Assembleia dos Deputados para formar um governo estável.
Em entrevista ao Le Parisien, um deputado próximo de Olivier Faure, secretário-geral do Partido Socialista, tem uma interpretação semelhante à do colega comunista. “A LFI persiste na sua leitura radicalmente revolucionária. Eles preferem não governar pensando que um dia as pessoas os levarão ao poder. Mas não estamos em abril de 1917, Mélenchon não ganhou as eleições e não temos a Revolução de Outubro à nossa frente", disse o parlamentar que preferiu não se identificar.
A França Insubmissa exige a aplicação “do programa e nada mais que o programa da NFP” num eventual futuro governo. Já o secretário-geral do PS, que também disputa o cargo de primeiro-ministro, defende "concessões na Assembleia para encontrar maiorias" nas votações de projetos de lei compatíveis com propostas defendidas pela esquerda. "O que podemos fazer é chegar a um acordo com parte do bloco central”, admite um estrategista do PS ouvido pelo Le Parisien.
O primeiro-ministro Gabriel Attal, que teve a demissão aceita pelo presidente Emmanuel Macron para liderar a bancada do partido presidencial na Assembleia, já sinalizou que iniciou discussões com deputados de todos os grupos políticos, exceto os de extrema direita e da esquerda radical, com o objetivo de compor uma maioria no plenário e um eventual governo de coalizão. Macron já deu sinais que aceitaria nomear um primeiro-ministro da oposição de direita. Para Attal, os socialistas também são bem-vindos nesta hipotética coalizão.
A imprensa francesa se exaspera com a crise política, embora o cenário tenha sido desenhado desde a publicação dos resultados do segundo turno, em 7 de julho.
Em entrevista ao canal BFMTV, Marine Le Pen declarou nesta quarta-feira que qualquer alternativa é melhor que um governo liderado pela Nova Frente Popular de esquerda. A fundadora do partido Reunião Nacional, agora líder da bancada de 143 deputados de extrema direita na Assembleia Nacional, insistiu num cenário de demissão do presidente Emmanuel Macron, afirmando que seria uma solução respaldada pela Constituição. Le Pen está indignada com as tentativas de impedir que a extrema direita seja eleita para a presidência de comissões importantes da Assembleia.
Nesta terça-feira (16), Macron aceitou a demissão do governo de Gabriel Attal. Mas o premiê permanece no cargo, encarregado de garantir a continuidade do funcionamento mínimo do Estado até a nomeação de um novo governo. Essa situação, prevista na Constituição francesa, permite a Attal e aos 17 ministros eleitos para mandatos legislativos acumularem as duas funções. Não há vazio de poder, uma vez que o governo demissionário continua a tocar o dia a dia da administração e tem poderes para tomar medidas urgentes em caso de catástrofe natural ou atentado, por exemplo. Se necessário, o atual governo poderia até propor um orçamento para o país, o que analistas consideram que seria um desrespeito total à democracia, no atual contexto pós-eleitoral.
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França: Líder ecologista lamenta 'espetáculo' oferecido pela esquerda à população francesa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU