16 Julho 2024
Como o Brasil, México, Argentina, Guiana e Equador usam a exploração dos países ricos como desculpa para produzir mais combustíveis fósseis, apesar da emergência climática.
A informação é publicada por ClimaInfo, 16-07-2024.
Os países se comprometeram com o “Transitioning Away” dos combustíveis fósseis na COP28, em Dubai, em dezembro do ano passado. Em seu discurso nos primeiros dias da conferência, o presidente Lula destacou essa necessidade. No entanto, tudo é promessa por enquanto, já que nenhum cronograma foi estabelecido. E pelos planos de alguns países da América Latina, muito mais petróleo e gás fóssil vão virar fumaça pelo mercado nos próximos anos, colocando em xeque os esforços contra as mudanças climáticas, mostra o Guardian, que fez uma série de reportagens sobre o tema.
Pelo menos 16 dos 33 países da América Latina e do Caribe estão envolvidos em cerca de 50 novos grandes projetos de petróleo e gás onshore e offshore. Entre eles o Brasil, que inclusive está prestes a aprovar um projeto de exploração na foz do Amazonas (ver nota aqui).
Questionados, os países latino-americanos argumentam que têm o direito de “enriquecer” com os combustíveis fósseis como fizeram os países ricos e que não são os maiores responsáveis pela crise climática. Mas ignoram que a “riqueza” do petróleo sempre concentrou renda e socializou os impactos sociais e ambientais. Foi assim, explorando os países pobres, inclusive em seus recursos naturais, que a Europa e os Estados Unidos se tornaram ricos. Um modelo de desenvolvimento que já se provou falho, além de catastrófico para o meio ambiente e o clima do planeta.
Mas é essa “esperança de desenvolvimento” que os líderes latino-americanos vendem para seu povo pobre. Caso da Guiana, mostra o Guardian, que se tornou um novo Eldorado mundial do petróleo. Enquanto parte da população espera, a outra questiona. Em um país onde o custo dos alimentos disparou, muitos sentem que estão pagando o preço ambiental da exploração de petróleo e gás, mas não lucrando com o boom econômico.
Mark Murray, 38 anos, trabalhador da construção civil, está considerando emigrar. “Você não consegue alimentar sua família como gostaria. A pessoa média não consegue comer ganhando US$ 20 por dia na Guiana”, desabafou.
O México tinha um “caso de amor” com sua petroleira estatal, a Pemex, lembra o Guardian. A companhia já foi responsável por metade das receitas do país, mas está em declínio há anos. No entanto, o governo mexicano agora quer investir na falida estatal, sob o argumento de garantir “autossuficiência energética”. O que, por outro lado, vai reduzir os recursos para as fontes renováveis de energia.
Na Argentina, o governo de extrema-direita patrocina um projeto de lei para disponibilizar várias áreas para exploração de combustíveis fósseis. O projeto beneficiaria a indústria de petróleo e gás e a extração de lítio, deixando para trás quaisquer ambições sérias de transição energética e lançando o país de cabeça na corrida pelo petróleo latino-americano, informa o Guardian.
Já no Equador, onde em agosto do ano passado um plebiscito histórico aprovou o fim da exploração de petróleo e gás fóssil no Parque Nacional de Yasuní, em plena Floresta Amazônica, a crise econômica é usada como justificativa para adiar o cumprimento da decisão, destaca o Guardian. Como o país está com uma grande dívida e um déficit fiscal de mais de US$ 5 bilhões, os formuladores de políticas estão relutantes em se afastar do petróleo.
Em tempo: Do outro lado do Atlântico, no Reino Unido, o governo trabalhista recém-empossado está enfrentando um dilema legal em seu plano de proibir imediatamente novas explorações de petróleo e gás no Mar do Norte antes do encerramento da última rodada de licenciamento do setor, explica o Guardian. Se não cancelar o processo em curso, pode acabar concedendo um pequeno número de novas licenças no Mar do Norte, violando sua promessa. Se cancelar, pode ter de enfrentar ações judiciais das empresas, que podem ter gasto milhões preparando suas propostas.
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América Latina vive corrida por petróleo que ameaça esforços contra mudanças climáticas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU