Relacionamento tóxico: pesticidas usados em plantações prejudicam abelhas polinizadoras

Foto: Pixabay

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02 Julho 2024

Apenas 48 horas após exposição a agrotóxicos amplamente usados no país, as abelhas apresentaram danos na sua locomoção e no seu sistema imunológico.

A reportagem é de Duda Menegassi, publicada por ((o))eco, 01-07-2024.

Não é novidade que pesticidas podem ter consequências perigosas para os insetos e o uso indiscriminado dessas substâncias têm preocupado cientistas em todo mundo, em especial nos impactos sobre os polinizadores. Um estudo liderado por brasileiros confirmou que três agrotóxicos amplamente utilizados no Brasilglifosato, imidaclopride e piraclostrobina – prejudicam a sobrevivência de uma espécie de abelha nativa sem ferrão do país. Após 48 horas de exposição às substâncias, as abelhas apresentaram dificuldades de locomoção e danos no seu sistema imunológico. Cientistas reforçam a necessidade de restrições mais rígidas para os pesticidas.

A pesquisa foi feita com a abelha sem ferrão uruçu, ou uruçu-do-nordeste (Melipona scutellaris), que ocorre nos estados da Bahia, Paraíba e Pernambuco, entre a Mata Atlântica e a Caatinga, e é conhecida pela qualidade do seu mel. Além disso, as abelhas nativas sem ferrão como a uruçu são consideradas fundamentais para polinização de muitas plantas silvestres e culturas economicamente importantes.

O estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (UNESP), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Universidade Federal de Viçosa (UFV), destaca que até agora a maioria das análises sobre os impactos dos agrotóxicos em abelhas concentraram-se nas abelhas europeias e norte-americanas.

Durante a pesquisa, os cientistas expuseram um grupo de abelhas aos três pesticidas, de forma oral e com as substâncias isoladas ou combinadas, por 48 horas. Foram avaliadas mudanças no comportamento, morfologia e fisiologia das abelhas, e os resultados foram comparados com um grupo controle, sem contato com os agrotóxicos.

As abelhas contaminadas pelos agrotóxicos andavam menos e se moviam mais lentamente. Além disso, apresentaram danos morfológicos e fisiológicos, com danos no seu corpo gorduroso – um órgão vital para armazenamento de energia –, no seu metabolismo e na regulação da resposta imunológica.

“Descobrimos que os pesticidas, tanto isoladamente como combinados, interferiram gravemente no comportamento das abelhas, danificando o seu corpo gorduroso e prejudicando a atividade de proteínas importantes para o sistema imunológico e a sobrevivência celular”, explica o pesquisador da UFSCar Cliver Fernandes Farder-Gomes, um dos autores do artigo, publicado em junho na revista científica Environmental Pollution.

O pesquisador acrescenta que por mais que os resultados mostrem a sobrevivência das abelhas à exposição aos pesticidas, o seu sistema imunológico fica tão enfraquecido que não consegue combater adequadamente bactérias e doenças, o que as torna mais propensas a infecções.

“A morte das abelhas é sempre chocante, mas deve-se ter em mente que muitas vezes pode ser ainda mais perigoso se sobreviverem à exposição aos pesticidas, porque as colônias ficam enfraquecidas e diminuídas, com efeitos adversos na produção de mel e na polinização, o que por sua vez significa perdas para a produção de frutas e hortaliças”, explica a professora do CCA-UFSCar, Roberta Cornélio Ferreira Nocelli, e também autora do artigo.

Roberta é presidente de um grupo de trabalho da Comissão Internacional para Relações Planta-Polinizadores (ICCPR) com o objetivo de desenvolver métodos para testar a toxicidade em abelhas nativas brasileiras.

Outro autor do estudo, Osmar Malaspina, professor do Instituto de Biociências do campus da UNESP em Rio Claro, destaca a importância de usar esses dados sobre os impactos dos agrotóxicos em abelhas para justificar restrições mais rigorosas aos pesticidas. “Queremos que a agricultura seja mais sustentável e ande de mãos dadas com a conservação. Esta é a única forma de garantir a segurança alimentar futura”, pontua o pesquisador.

O estudo foi realizado no âmbito do Programa FAPESP de Pesquisa em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade (BIOTA-FAPESP).

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