12 Junho 2024
Adiar ações ambiciosas contra as mudanças do clima até 2035 impossibilitará limitar o aquecimento do planeta em 1,5 °C.
A reportagem é de Priscila Pacheco, publicada por Observatório do Clima em 11-06-2024.
O consórcio de cientistas Climate Action Tracker - CAT publicou nesta segunda-feira, 10-06, relatório no qual reforça que as metas climáticas dos países estão longe do necessário para controlar o aquecimento global. Segundo o documento, os governos não estão implementando com a ambição e a urgência necessárias nem mesmo as metas insuficientes que apresentaram. A análise destaca quatro elementos-chave – ambição, finanças e equidade, credibilidade e transparência – para que a próxima rodada de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês), em 2025, seja mais efetiva, o que inclui olhar com atenção para 2030. Veja abaixo as lacunas em cada um deles:
Uma estimativa do CAT confirma o quanto as atuais metas são insuficientes: se cumpridas, gerariam 2,5ºC de aquecimento em 2030 (extrapolando em 1ºC a meta de Paris). Apesar de os governos terem prometido em 2021, na Conferência do Clima (COP26), em Glasgow, revisitar e reforçar as metas para 2030, o impacto de aquecimento das atuais metas piorou 0,1ºC nos dois últimos anos, saindo de 2,4ºC para 2,5ºC. “Adiar a ação até 2035 não é uma opção e não é aceitável. Será tarde demais. Sem metas e ações imediatas e reforçadas para 2030, não será possível limitar o pico do aquecimento global a 1,5 °C e provavelmente levará a uma ultrapassagem elevada deste limite durante décadas, mesmo que seguida de metas fortes para 2035 e de uma remoção significativa de dióxido de carbono”, diz o relatório. “Para alcançar o reforço necessário das metas para 2030, os governos devem passar para modo de emergência”, completa.
Segundo a publicação, embora os objetivos globais exijam uma abordagem personalizada por região, cinco ações de mitigação até 2030 são urgentes:
Globalmente, a produção de combustíveis fósseis precisa cair pelo menos 40% em relação aos níveis de 2022, e os subsídios precisam parar;
O crescimento global da produção de energias eólica e solar precisa acelerar;
Transportes, edifícios e indústria necessitam de eletrificação e maior eficiência energética;
As emissões de metano provenientes dos combustíveis fósseis, relacionadas com energia, agricultura e resíduos devem ser reduzidas em 66% em relação aos níveis de 2020, enquanto o metano total vindo de todas as fontes deve diminuir 34%.
As taxas anuais de desmatamento e as emissões de gases de efeito estufa associadas deverão diminuir em 70% em relação aos níveis de 2018. Já os sumidouros de carbono deverão ser protegidos e expandidos de forma sustentável.
De acordo com o CAT, nenhum país está mobilizando financiamento climático suficiente. O relatório lembra que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OECD informou que em 2022 os países desenvolvidos ultrapassaram pela primeira vez a meta anual de US$ 100 bilhões prometidos. O montante alcançou US$ 115,9 bilhões, mas a meta foi estabelecida em 2009 e deveria ser paga entre 2020 e 2025, totalizando US$ 600 bi. “Sabemos que a meta de US$ 100 bilhões não reflete as necessidades dos países em desenvolvimento. Os países desenvolvidos precisam aumentar urgentemente o montante do financiamento climático que prometeram para apoiar uma transição justa e equitativa para um mundo compatível com [o Acordo de] Paris”, diz o documento.
Uma nova meta de financiamento, inclusive, é o que está dominando a SB60, conferência do clima da ONU em Bonn, na Alemanha, iniciada no dia 3 de junho. Até o momento, os países não chegaram a um acordo para a Nova Meta Quantificada Global (NCQG, na sigla em inglês).
Neste tópico, o CAT destaca que os principais fatores que facilitam a governança climática incluem o compromisso político dos governos com a descarbonização. “Os governos devem basear as NDCs em um planejamento setorial robusto, acelerar a implementação e eliminar políticas contraditórias que apoiam a exploração e subsídios de combustíveis fósseis”, diz. O Brasil é citado como um mau exemplo por continuar investindo em combustíveis fósseis.
No último elemento-chave, o CAT destaca que os países devem estabelecer metas absolutas de redução de emissões nacionais em toda a economia para todos os gases de efeito estufa, separando nitidamente o setor florestal e excluindo métodos de captura de carbono e mercados de carbono. Além disso, devem ser mais transparentes sobre a contribuição da silvicultura e do uso da terra.
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Para evitar colapso, países devem reforçar metas já para 2030, diz relatório - Instituto Humanitas Unisinos - IHU