04 Mai 2024
"A questão agora não é somente garantir os direitos trabalhistas perante as empresas, mas exigir que as empresas transformem a sua relação com a natureza como uma questão urgente, uma vez que estamos no meio de um colapso ambiental", escreve Sandoval Alves Rocha.
Sandoval Alves Rocha é doutor em Ciências Sociais pela PUC-Rio, mestre em Ciências Sociais pela Unisinos/RS, bacharel em Teologia e bacharel em Filosofia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE, MG), membro da Companhia de Jesus (jesuíta), trabalha no Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental (Sares), Manaus.
Em 1º de Maio celebramos o Dia dos trabalhadores e trabalhadoras. Trata-se de uma comemoração internacional que remete às péssimas condições de trabalho vividas pelos trabalhadores a partir do século XVIII, principalmente XIX, com o avanço das indústrias na Europa e Estados Unidos. O dia 1º de maio de 1886 foi marcado por grandes manifestações operárias nos EUA frente à situação de penúria e exploração.
As reivindicações contemporâneas dos trabalhadores ainda visam à conquista de melhores condições laborais e a elevação da qualidade de vida destas pessoas. Explorados e espoliados por um modo de produção que não respeita os limites humanos, os trabalhadores enfrentam grandes dificuldades de sobrevivência no mundo capitalista. A falta ou a precariedade de serviços básicos como saneamento, transporte, saúde, educação, moradia e lazer tornam a vidas deles excessivamente duras.
Nas últimas décadas recai mais um peso sobre as costas dos trabalhadores, os desastres ambientais causados pela ação irresponsável do homem sobre o planeta. É de conhecimento geral que as populações mais vulneráveis são as maiores vítimas dos desastres socioambientais contemporâneos. Esta população é constituída de trabalhadores e trabalhadoras exploradas pelo sistema capitalista sedento de lucros. Agora, eles são os primeiros a sucumbirem diante dos desastres ambientais de todos os tipos.
A escassez hídrica, a destruição provocada pelas enchentes, a severidade das secas, o aumento da temperatura planetária, os desabamentos urbanos e a ampliação da fome. Todos estes fenômenos atingem em primeiro lugar os trabalhares que não possuem condições econômicas para escapar destas tragédias. Assim, eles têm mais um motivo para sair às ruas e reclamar. Estas reclamações tocam em um dos assuntos centrais da atualidade. A urgência de mudança de modo de produção. A ideia é construir um sistema de produção mais justo, sustentável, solidário e ético. Menos agressivo à natureza e menos consumista.
Já havia estudos que apontavam para a necessidade de mudança de paradigmas culturais por uma questão de justiça e ética. Mas ultimamente esta mudança torna-se urgente por uma questão de sobrevivência. Diante desta realidade, colocar-se do lado dos trabalhadores não é mais uma opção. Trata-se de uma necessidade. A luta dos trabalhadores passou a ser uma questão indispensável, pois estar do lado dos trabalhadores é estar do lado da permanência da vida humana no planeta.
Para o sucesso desta luta é necessário também que os próprios trabalhadores mudem de perspectiva, abandonando uma lógica antropocêntrica e uma relação utilitarista com a natureza, assumindo uma abordagem biocêntrica e uma relação de participação da natureza. Todas as espécies de vida devem ser respeitadas e protegidas não porque são úteis para o ser humano, mas porque possuem valor de se mesmas, merecendo sobreviver.
A luta dos trabalhadores sofre uma mudança significativa, pois ganhou uma abrangência inegável. A questão agora não é somente garantir os direitos trabalhistas perante as empresas, mas exigir que as empresas transformem a sua relação com a natureza como uma questão urgente, uma vez que estamos no meio de um colapso ambiental.
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Os trabalhadores e os desastres ambientais. Artigo de Sandoval Alves Rocha - Instituto Humanitas Unisinos - IHU