15 Abril 2024
Imersos na cultura do imediatismo, os nativos digitais tiveram de adaptar os seus padrões neurológicos e hábitos de consumo frente ao turbilhão de informações com que lidam diariamente.
A reportagem é de Laura Casamitjana, publicada por La Marea, 12-04-2024. A tradução é do Cepat.
Uma web tem 10 segundos para carregar. Se não fizer isso dentro desse limite, há 123% a mais de chances de que o usuário abandone a página. O Tik Tok, gigante que possui 1,2 bilhão de usuários ativos por mês, segundo a Statista, em sua origem permitia a postagem de vídeos de apenas 15 segundos. Tinham razão: para se tornar viral, a média indica que o mais adequado é publicar conteúdos que vão de 7 a 15 segundos, conforme aponta o relatório da We Are Social.
“A abundância de informação dá lugar à pobreza da atenção”, teorizou, nos anos 1970, o ganhador do Prêmio Nobel Herbert Simon. A economia da atenção é um conceito que, em chave econômica, analisa a atenção como um recurso escasso e valioso. No século XXI, com a aceleração social da era digital, as questões em torno da atenção – e da paciência – assumem especial relevância, mais ainda para a geração de nativos digitais.
O Instituto da Juventude - Injuve [Espanha] indica que “os períodos de atenção da geração Z são mais curtos, oito segundos é o tempo médio que os jovens prestam atenção plena em algo específico”. Um excesso de estímulos no mundo do scroll infinito, misturado com a “infoxicação” – sobrecarga de informação - faz com que os Centennials vivam submetidos a um colapso de inputs, e que isso tenha modificado certos padrões neurológicos: “Seus cérebros evoluem para processar informações em velocidades mais rápidas e são cognitivamente mais ágeis para administrar desafios mentais”, acrescenta o estudo do Injuve.
Entre a multitela e o multitasking, a geração Z acostuma-se a viver fazendo acrobacias mentais: tende a ter vários dispositivos abertos ao mesmo tempo e a se envolver em atividades diferentes. Por exemplo, assistir a um filme no computador, enquanto conversa no smartphone, o que leva a uma atenção dispersa em vários elementos. Ao mesmo tempo, precisou desenvolver um filtro capaz de discernir, entre a enxurrada de informações, o que lhes interessa e o que não.
“O cérebro só pode produzir um ou dois pensamentos”, explica Earl Miller, neurocientista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, ao jornal The Guardian. Pontua, no entanto, que os adolescentes acreditam que podem lidar com seis ao mesmo tempo, o que na verdade significa “colocar o cérebro para fazer malabarismos”.
A roda da aceleração se retroalimenta e, na sociedade da pressa, qualquer coisa se torna suscetível a ser devorada o quanto antes. Uma ansiedade social generalizada, uma sensação permanente de estar perdendo algo, suas consequentes maratonas de informações.
Em 2010, O Youtube, plataforma na qual proliferou o fenômeno youtuber - precursor dos atuais influenciadores e criadores de conteúdo -, introduziu a opção de acelerar a visualização de seus vídeos. Ou seja, você pode assistir em 5 minutos algo que dura 10. Posteriormente, outros como a Netflix e a Amazon Prime incorporaram esta função, mas isto não se limita apenas ao consumo de conteúdo, estende-se também à vida pessoal. Até o WhatsApp se uniu à tendência e você pode ouvir os áudios que recebe de forma acelerada.
O speed watching é, além da consequência de uma atenção coletiva divagante e da obsessão pela produtividade do tempo, o fruto mais visível do FOMO (fear of missing out). “O fenômeno FOMO, na sigla em inglês, é entendido como o medo de estar ausente”, menciona o centro de tratamento de dependências Orbium. Sobre isto, explicam que “age de tal forma na pessoa, que começa a usar excessivamente as plataformas digitais impulsionada pelo medo de ser excluída e de perder experiências”.
Ver o conteúdo acelerado permite acessar mais conteúdos em menos tempo, mas entrar em uma torrente de informações não quer dizer que seja retida. Ainda que fosse lógico pensar que consumir algo em velocidade acelerada requer mais atenção, o que acontece é que o cérebro fica mais preguiçoso.
Para alterar o ritmo narrativo do que se consome, requer-se prática e, ao mesmo tempo, estar submetido ao speed watching faz a roda girar cada vez mais depressa: “A busca constante por novos estímulos ativa o neurotransmissor chamado dopamina, criando circuitos de recompensa e gerando um círculo vicioso”, cita um artigo do Instituto de Comunicação da Universidade Autônoma de Barcelona.
A cultura do imediatismo afeta toda a sociedade, e tanto os adultos como os jovens podem se sentir tentados a assistir um vídeo em ritmo acelerado ou a abandonar uma página web, caso não carregue em dez segundos. Agora, a ênfase desta dinâmica nos jovens - e especialmente em adolescentes – está também em sua etapa de aprendizagem. Reter na memória a característica de um estímulo por vários segundos, com a finalidade de depois contrastá-la com a de outro estímulo, constitui um trabalho cognitivo que exige esforço.
A dopamina tem um papel essencial neste processo, indica um estudo da Universidade Autônoma de Madrid. Portanto, hackear o processo através de uma gratificação acelerada, instantânea e que requer uma recompensa cada vez maior possui relação direta com a retenção (e, consequentemente, com a atenção).
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A geração dos oito segundos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU