3º domingo de Páscoa – Ano B – O encontro transformador com Jesus ressuscitado

12 Abril 2024

A reflexão é de Maria José Lopes, religiosa da Congregação das Irmãs da Divina Providência - IDP. Ela é bacharel em teologia pela Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF, possui formação em Saúde e Espiritualidade pelo Instituto de Cardiologia de Porto Alegre e pela ESTEF e Formação em Psicologia Pastoral pelo Centro Evangélico de Missão - CEM, Viçosa/MG. Atualmente atua em pastoral e formação bíblica em Jacundá, Pará.

Leituras do dia

1ª leitura: At 3,13-15.17-19
Salml: Sl 4,2.4.7.9 (R. 7a)
2ª leitura: Jo 2,1-5a
Evangelho: Lc 24,35-48

A primeira leitura do terceiro Domingo da Páscoa (At 3,13-15.17-19) nos apresenta o discurso de Pedro após terem realizado a cura do homem enfermo. Este discurso situa-se em Jerusalém, na “Porta Formosa”. O epsódio aconteceu assim: Pedro e João tinham subido ao Templo para a oração das três horas da tarde. Junto da Porta Formosa estava um homem, coxo de nascença, a mendigar.. O homem dirigiu-se a Pedro e a João e pediu-lhes esmola. Pedro avisou-o de que não tinha “ouro nem prata” para lhe dar; mas, “em nome de Jesus Cristo Nazareno”, curou-o. “Cheio de assombro as pessoas que tinham testemunhado o acontecimento reuniram-se “sob o chamado pórtico de Salomão” (espaço coberto, situado a leste, no pátio externo do Templo) para ouvir da boca de Pedro uma explicação (cf. At 3,1- 11).. O texto deste domingo é parte do discurso que, segundo o autor dos Atos, Pedro teria feito à multidão após este acontecimento (cf. At 3,12-26). Afirma que Deus ressuscitou Jesus dos mortos, núcleo da fé cristã. A ação do onze é sinal que Jesus continua agindo na comunidade. Este foi um sinal visível da presença do ressuscitado.

Portanto a primeira leitura traz-nos um testemunho de Pedro sobre Jesus. Ele garante às pessoas de Israel” – e a nós – que esse Jesus que as autoridades judaicas tentaram calar, está vivo e continua a oferecer a Vida a todos aqueles que se dispuserem a acolhê-la. Pedro e os outros discípulos são as testemunhas de Jesus e da sua proposta de Vida

No Evangelho (Lc 24,35-48) deste domingo Lucas situa-nos em Jerusalém, pouco depois da ressurreição. Os onze discípulos estavam reunidos; e ouvindo o relato dos dois discípulos que voltavam de Emaús (cf. Lc 24,35). Mas  apesar das notícias que lhes chegaram nas últimas horas sobre as aparições de Jesus, se sentiam com medo, confusos, perturbados e cheios de dúvidas. Afinal, a maior parte deles ainda não tinha feito a experiência do encontro pessoal com Jesus ressuscitado.

Jesus aparece no meio dele, desejando a Paz. Ficam assustados e cheios de medo. Jesus lhes mostra as mãos e os pés. Come na presença deles e mesmo assim a mente e o coração ficam confusos.

O evangelista Lucas, nestes relatos pós-pascais, procura mostrar como os discípulos descobrem, progressivamente, Jesus vivo e ressuscitado. Interessa-lhe, sobretudo, afirmar aos cristãos que Cristo continua vivo e presente, acompanhando a sua Igreja, e que os discípulos de todas as épocas, reunidos em comunidade, podem fazer uma experiência de encontro verdadeiro com Jesus ressuscitado.

Na sua catequese, Lucas procura deixar claro que a ressurreição de Jesus foi um fato real, incontornável que, contudo, os discípulos descobriram e experimentaram só após um caminho longo, difícil, penoso, carregado de dúvidas e de incertezas.

O caminho da fé é um caminho que se percorre com o coração aberto à revelação de Deus, pronto para acolher a experiência de Deus e da Vida nova que Ele quer oferecer. Foi esse o caminho que os discípulos percorreram. No final desse caminho (que, como caminho pessoal, para uns demorou mais e para outros demorou menos), eles experimentaram, sem margem para dúvidas, que Jesus estava vivo, que caminhava com eles pelos caminhos da história e que continuava a oferecer-lhes a Vida de Deus. Eles começaram a percorrer esse caminho com dúvidas e incertezas; mas fizeram a experiência de encontro com Cristo vivo e chegaram à certeza da ressurreição. É essa certeza que os relatos da ressurreição, na sua linguagem muito própria, procuram transmitir-nos.

Reparemos, antes de mais, na forma como Jesus aparece aos discípulos (vers. 36). É uma aparição que surpreende os discípulos e que acontece por iniciativa exclusiva de Jesus. É sempre Ele que toma a iniciativa de vir ao nosso encontro, sem hora marcada e sem se fazer anunciar, de forma imprevisível e inesperada. É assim que Ele sempre aparecerá na vida dos seus discípulos que caminham pela história.

Jesus fica “no meio deles”. O seu lugar é no centro da sua comunidade. É à volta d’Ele que a comunidade se articula e se constrói. O olhar de todos os discípulos estará sempre fixo n’Ele; será sempre d’Ele que a comunidade se alimenta e vive. Pelo tempo fora, Jesus vivo e ressuscitado será sempre a referência da comunidade cristã

A Carta de João a segunda leitura (1 João 2,1-5ª) é destinada provavelmente às comunidades cristãs da parte ocidental da Ásia Menor – procura combater doutrinas heréticas pré-gnósticas e apresentar aos cristãos o caminho da autêntica vida cristã. O autor da carta, logo depois de um prólogo inicial (cf. 1 Jo 1,1-4) que faz lembrar o do Quarto Evangelho, retoma um tema eminentemente joânico para expor a realidade de Deus: “Deus é luz”; n’Ele não há qualquer espécie de treva, de mentira ou de erro (cf. 1 Jo 1,5). A luz de Deus brilha e orienta os homens e mulheres no caminho que eles são chamados a percorrer. Quem é de Deus deixa-se iluminar pela luz de Deus, adere a Jesus e à sua proposta e vive em comunhão com os irmãos (cf. 1 Jo 1,7). Mas os adeptos das heresias, que espalham a confusão nas comunidades cristãs, não são de Deus e não se deixam guiar pela luz de Deus. Dizem que estão em comunhão com Deus; mas, na realidade, andam nas trevas, pois mentem e não praticam a verdade (cf. 1 Jo 1,6).

Pedindo a Deus a graça de caminhar na fé, com "olhos pascais", podemos rezar com o salmista Salmo , escolhido para este dia:

Fazei brilhar sobre nós, Senhor, A luz do vosso rosto.
Fazei brilhar sobre nós, Senhor, a luz da vossa face.
Em paz me deito e adormeço tranquilo,
porque só Vós, Senhor, me fazeis repousar em segurança.
(Ultima estrofe)

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