13 Janeiro 2024
Global Risks 2024: desinformação está no topo dos riscos globais em 2024 enquanto as ameaças climáticas se intensificam.
A reportagem é publicada por EcoDebate, 11-01-2024.
Com base em quase duas décadas de dados originais sobre a percepção de riscos, o Global Risks Report 2024 do Fórum Econômico Mundial alerta para um cenário de riscos globais no qual o progresso no desenvolvimento humano foi lentamente reduzido, deixando os Estados e os indivíduos vulneráveis a riscos novos e ressurgentes. Num contexto de mudanças sistêmicas na dinâmica do poder global, no clima, na tecnologia e na demografia, os riscos globais levam ao limite a capacidade de adaptação do mundo.
Estas são as conclusões do Global Risks Report 2024, publicado hoje, que defende que a cooperação em questões globais urgentes poderá ser cada vez mais escassa, exigindo novas abordagens para responder aos riscos. Dois terços dos especialistas mundiais preveem que, na próxima década, será desenvolvida uma ordem multipolar ou fragmentada, na qual as médias e grandes potências se confrontam e estabelecem – mas também impõem – novas regras e normas.
O relatório, produzido em parceria com o Zurich Insurance Group e a Marsh McLennan, baseia-se nas opiniões de mais de 1.400 especialistas em riscos globais, decisores políticos e líderes da indústria inquiridas em setembro de 2023. Os resultados destacam uma perspectiva predominantemente negativa para o mundo a curto prazo, que deverá piorar a longo prazo. Enquanto 30% dos especialistas mundiais preveem uma maior probabilidade de ocorrência de catástrofes a nível mundial nos próximos dois anos, quase dois terços preveem o mesmo nos próximos dez anos.
“Uma ordem global instável caracterizada por narrativas polarizadoras e insegurança, o agravamento do impacto dos fenômenos climáticos extremos e a incerteza econômica são a causa da propagação de riscos acelerados – incluindo a desinformação e a informação falsa”, afirma Saadia Zahidi, Managing Diretor do Fórum Econômico Mundial. “Os líderes mundiais devem unir-se para responder às crises de curto prazo, bem como lançar as bases para um futuro mais resiliente, sustentável e inclusivo”.
As preocupações com uma crise persistente do custo de vida e os riscos interligados de desinformação e informação falsa, impulsionados pela inteligência artificial (IA), bem como a polarização social, dominam as perspectivas de riscos para 2024.
A relação entre a informação falsa e a agitação social ocupará uma posição central nas eleições em várias economias importantes que deverão ter lugar nos próximos dois anos. Os conflitos armados interestaduais são uma das cinco principais preocupações para os próximos dois anos. Com vários conflitos em curso, as tensões geopolíticas subjacentes e o risco de erosão da resiliência social criam um contágio de conflitos.
Foto: EcoDebate
Riscos nos próximos 2 anos
1. Desinformação e informação falsa
2. Eventos climáticos extremos
3. Polarização social
4. Insegurança cibernética
5. Conflitos armados interestaduais
6. Falta de oportunidades econômicas
7. Inflação
8. Migração involuntária
9. Recessão econômica
10. Poluição
Riscos nos próximos 10 anos
1. Eventos climáticos extremos
2. Alterações críticas nos sistemas terrestres
3. Perda de biodiversidade e colapso dos ecossistemas
4. Escassez de recursos naturais
5. Desinformação e informação falsa
6. Resultados adversos das tecnologias de Inteligência Artificial
7. Migração involuntária
8. Insegurança cibernética
9. Polarização social
10. Poluição
Os próximos anos serão marcados por uma incerteza econômica persistente e por crescentes fissuras econômicas e tecnológicas. A falta de oportunidades econômicas ocupa o sexto lugar nos próximos dois anos. A longo prazo, os obstáculos à mobilidade econômica poderão aumentar, afastando grandes segmentos da população das oportunidades econômicas. Os países propensos a conflitos ou vulneráveis às alterações climáticas podem ficar cada vez mais isolados do investimento, das tecnologias e da criação de emprego. Na ausência de vias para meios de subsistência seguros e protegidos, os indivíduos podem ser mais propensos ao crime, à militarização ou à radicalização.
Os riscos ambientais continuam a dominar o panorama dos riscos em todos os horizontes temporais. Dois terços dos especialistas mundiais estão preocupados com eventos climáticos extremos em 2024. As condições climáticas extremas, as alterações críticas dos sistemas terrestres, a perda de biodiversidade e o colapso dos ecossistemas, a escassez de recursos naturais e a poluição representam cinco dos dez riscos mais graves que se preveem enfrentar na próxima década. No entanto, os especialistas pesquisados discordam quanto à urgência dos riscos apresentados – os entrevistados do setor privado acreditam que a maioria dos riscos ambientais se materializará num período de tempo mais longo do que acreditam a sociedade civil ou o governo, que apontam para o risco crescente de se ultrapassar um ponto sem retorno.
O relatório apela aos líderes que repensem a ação para enfrentar os riscos globais. Recomenda também que se concentre a cooperação global na rápida construção de proteções para os riscos emergentes mais disruptivos, tais como acordos que abordem a integração da IA na tomada de decisão em caso de conflito. No entanto, o relatório também aborda outros tipos de ação que não precisam depender exclusivamente da cooperação transfronteiriça, como o reforço da resiliência individual e estatal através de campanhas de educação digital sobre desinformação e informação falsa, ou a promoção de uma maior investigação e desenvolvimento de modelos e tecnologias climáticas com potencial para acelerar a transição energética, com a contribuição dos setores público e privado.
Carolina Klint, Chief Commercial Officer da Marsh McLennan Europa, afirma: “Os avanços da inteligência artificial irão perturbar radicalmente as perspectivas de risco das organizações, com muitas delas lutando para reagir às ameaças decorrentes da desinformação, da desintermediação e do erro de cálculo estratégico. Ao mesmo tempo, as empresas terão que negociar cadeias de abastecimento que se tornaram mais complexas devido à geopolítica, às alterações climáticas e às ciberameaças de um número crescente de agentes maliciosos. Será necessário um foco incansável para criar resiliência a nível organizacional, nacional e internacional – e uma maior cooperação entre os setores público e privado – para navegar neste cenário de risco em rápida evolução”.
John Scott, Head of Sustainability Risk do Zurich Insurance Group, afirma: “O mundo está sofrendo transformações estruturais significativas com a IA, as alterações climáticas, as mudanças geopolíticas e as transições demográficas. Os riscos conhecidos serão intensificados e vão surgir novos riscos – mas também oferecem oportunidades. As ações transfronteiriças coletivas e coordenadas desempenham o seu papel, mas as estratégias localizadas são fundamentais para reduzir o impacto dos riscos globais. As ações individuais dos cidadãos, das empresas e dos países podem fazer avançar a redução dos riscos globais, contribuindo para um mundo mais ostensivo e mais seguro”.
Foto: Reprodução EcoDebate
Tradução do quadro acima:
“Qual das seguintes opções, melhor caracteriza as suas perspectivas para o mundo nos seguintes períodos de tempo?
Tempestuoso: riscos catastróficos globais à espreita
Turbulento: Reviravoltas e risco elevado de catástrofes globais
Inseguro: Alguma instabilidade, risco moderado de catástrofes globais
Estável: Perturbações isoladas, baixo risco de catástrofes globais
Calmo: Risco insignificante de catástrofes globais
Nota: os números nos gráficos podem não corresponder a 100% devido aos valores terem sido arredondados para cima/para baixo.
Fonte: World Economic Forum Global Risks Perception Survey 2023-2024
O Global Risks Report é um pilar fundamental da Global Risks Initiative do Fórum, que trabalha para promover a conscientização e criar consensos sobre os riscos que o mundo enfrenta, de forma a permitir a aprendizagem sobre a preparação para os riscos e a resiliência.
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Desinformação e mudanças climáticas são os maiores riscos globais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU