12 Janeiro 2024
Uma equipe de pesquisa das universidades de Columbia e Rutgers, nos Estados Unidos, identificou quase 250 mil anopartículas plásticas em um litro de água engarrafada, uma concentração muito superior ao que se acreditava até agora.
A reportagem é publicada por El Salto, 09-01-2024.
A água engarrafada que consumimos contém milhares de nanoplásticos, mas o conhecimento sobre quantos estão dispersos no líquido vital que bebemos após o engarrafamento, assim como o que eles causam no corpo, ainda é limitado nos dias de hoje. Uma equipe de pesquisa das universidades americanas de Columbia e Rutgers quantificou essa concentração de partículas plásticas em um litro de água engarrafada, após analisar cinco amostras de três marcas do mercado norte-americano. São 240.000, em média, com níveis entre 110.000 e 400.000 partículas por litro.
O número surpreendeu devido à mudança de paradigma que implica, pois sugere que há muito mais nanoplásticos dissolvidos na água do que se pensava até agora.
O estudo, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, testou uma nova técnica desenvolvida especificamente para este trabalho, baseada em imagens ópticas e no uso de lasers duplos, conseguindo uma "sensibilidade e especificidade sem precedentes" para encontrar e categorizar essas partículas plásticas, conforme afirmaram seus responsáveis.
Para a equipe de pesquisa, "ainda existe uma lacuna fundamental no conhecimento sobre os nanoplásticos devido à falta de técnicas analíticas eficazes", razão pela qual eles se lançaram ao desenvolvimento de novas técnicas para analisá-los. Eles destacam que "a detecção de nanoplásticos impõe enormes desafios analíticos, tanto em termos de sensibilidade em nível nano quanto de especificidade na identificação do plástico, gerando uma lacuna de conhecimento neste misterioso nanomundo que nos cerca".
Nanoplásticos são partículas plásticas indetectáveis com um microscópio, inferiores a uma micra (um milionésimo de um metro) de comprimento, sendo os irmãos menores dos microplásticos, mais estudados, cujo comprimento varia de uma micra a cinco mm. Esses fragmentos minúsculos conseguem penetrar nas células e causar alterações, bloqueando ou perturbando processos celulares, como já denunciado pelo relatório Plastívoros, publicado pela Amigos da Terra e Justiça Alimentar em 2021.
A maioria do plástico presente na água destinada ao consumo humano, analisada pelos cientistas, provavelmente provém da própria embalagem, feita de polietileno tereftalato (as garrafas PET).
O que não está claro é como essas partículas afetam os seres vivos. Como lembram os autores do estudo, "acredita-se que os nanoplásticos são mais tóxicos [do que os microplásticos], pois seu tamanho menor os torna muito mais suscetíveis, em comparação com os microplásticos, de entrar no corpo humano".
Um risco adicional é o tratamento químico e os aditivos que o material plástico possa conter. Existem centenas de substâncias adicionadas aos plásticos, como o PET, para conferir-lhes características que vão desde propriedades antimanchas ou retardantes de fogo até aditivos que aumentam a durabilidade do plástico ou alteram suas propriedades de dureza ou viscosidade.
Um exemplo conhecido são os ftalatos, que adicionam flexibilidade e durabilidade aos materiais plásticos, mas são considerados disruptores endócrinos: compostos que interferem na função hormonal dos seres vivos e alteram funções básicas para a vida.
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Foram encontradas 240 mil partículas de nanoplásticos em um único litro de água engarrafada - Instituto Humanitas Unisinos - IHU