31 Agosto 2023
O cardeal Giorgio Marengo, prefeito apostólico de Ulan Bator, fala: “A visita é um sinal de atenção a uma Igreja minoritária e a um povo rico em cultura”.
Visita do Papa Francisco à Mongólia? “Uma ocasião extraordinária, um sinal de atenção a uma Igreja minoritária e suburbana que significa muito e que nos encoraja”. O Cardeal Giorgio Marengo, prefeito apostólico de Ulan Bator, não esconde o entusiasmo pela viagem que levará o Pontífice de 31 de agosto a 4 de setembro entre os 1.500 cristãos do grande país da Ásia Central. “Aqui brincamos que todos os fiéis poderiam estar na foto de recordação com o Papa”, sorri o missionário da Consolata. Atrás dele, em seu gabinete, está um painel emoldurado com o incipit da Constituição de 1992, que estabelece a liberdade dos cidadãos de professarem qualquer fé, ou nenhuma. "É o fato que permitiu as relações diplomáticas bilaterais entre a Santa Sé e a Mongólia e abriu as portas, há 31 anos."
Esta visita histórica, com implicações geopolíticas não negligenciáveis dada a localização do país, espremido entre a Rússia e a China, representará – espera o cardeal – “um passo em frente no caminho das relações entre a Igreja e o Estado”. Uma frente na qual “a Mongólia é um exemplo virtuoso nesta região do mundo”.
A entrevista é de Chiara Zappa, publicada por Monde Missione, 28-08-2023.
Como é o seu relacionamento com as instituições?
Desde o início tem sido bom e continuamos a alimentá-lo no diálogo com as autoridades a nível local e nacional, sobretudo para explicar o que é a Igreja Católica saindo de algumas simplificações: como legado do socialismo permanece uma certa suspeita de religião. Em vez disso, queremos deixar claro que somos um parceiro confiável para o Estado e não uma ameaça. Nisto recordamos a beleza do passado mongol: já na época do império fundado em 1206 por Genghis Khan havia uma certa tolerância e havia cristãos nestorianos. O franciscano Giovanni da Pian del Carpine foi o primeiro ocidental a pisar na capital imperial, Karakorum: fato conhecido no mundo da cultura, entre historiadores e arqueólogos, mas não ao nível do conhecimento popular.
Por outro lado, a Mongólia está longe do imaginário europeu: quais são os aspectos deste povo que mais lhe impressionam?
Está cheio de riqueza humana, espiritual e cultural. Admiro muito a resiliência dos mongóis, habituados a suportar tantos extremos climáticos e geográficos: internalizaram esta capacidade de resistir aos choques da vida e amadureceram uma grande sabedoria, transmitida por gerações. E têm uma sensibilidade marcada para a vertente religiosa.
Como você descreveria essa espiritualidade?
Moldado pelo xamanismo e pelo budismo, com uma série de símbolos, uma arte figurativa, uma herança musical que setenta anos de rígido comunismo não conseguiram erradicar. Nem mesmo com violência: a Mongólia é o país budista com maior número de mártires, cerca de quinze mil monges massacrados durante os terríveis expurgos socialistas. Em geral, para os mongóis a vida não pode ser interpretada apenas com base no que é visível, palpável e calculável.
Qual é, em vez disso, a face da Igreja Mongol?
A sua beleza é o frescor da fé: os cristãos, todos da primeira ou segunda geração, abraçam a Palavra de Deus e procuram genuinamente viver da sua luz. O Papa Francisco, falando aos bispos da Ásia Central, usou a imagem do “broto na estepe”: uma Igreja nascente que exige particular cuidado, profundidade e compromisso de nós, missionários.
Quais são os espaços de diálogo com o Budismo?
São muitos. Nosso primeiro bispo, Dom Venceslao Padilla, já havia se comprometido neste sentido e para nós, missionários, o diálogo representa um dos aspectos centrais da nossa presença. Nos últimos anos, portanto, também experimentei um crescimento nas relações ao nível oficial: hoje existe um grupo inter-religioso que inclui católicos, evangélicos, mórmons, budistas, mas também muçulmanos, bahá'ís e um expoente judeu. Com o Budismo permanece um canal privilegiado, como evidenciado pela primeira visita oficial ao Vaticano no ano passado por uma delegação da Mongólia.
Em que se baseia aqui o anúncio do Evangelho?
70% da atividade da Igreja é composta por obras sociais, mas através deste cuidado do outro com o espírito evangélico, que é o da gratuidade, procuramos encarnar a mensagem de Jesus, para que as pessoas possam reconhecê-la.
Como você tenta inserir essa mensagem na cultura local?
O primeiro veículo é a linguagem, utilizada para a celebração. Depois vivemos os momentos-chave da existência, como o nascimento e a morte, tentando integrar elementos tradicionais na liturgia, com a ajuda dos fiéis mongóis. Também estamos repensando a música, com instrumentos locais. E os exemplos de abertura à cultura autóctone são inúmeros.
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Mongólia. Cardeal Marengo: “O Papa nos dará coragem” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU