07 Julho 2023
O professor Martin Lintner teve o “nihil obstat” negado por Roma. Agora o bispo comunica que há uma prorrogação para a decisão. Nos últimos dias, o anúncio da conclusão do mandato do cardeal Ladaria e a chegada do argentino Fernández como chefe da Doutrina da Fé. O papel do Cardeal de Mendonça
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por Repubblica, 06-07-2023.
Prorrogação para um jogo que parecia encerrado. O campo de jogo não é um estádio de futebol, mas nada menos que a teologia. Depois que a Santa Sé havia bloqueado, nos últimos dias, a nomeação do professor Martin Lintner como reitor da faculdade teológica de Bressanone, devido a suas posições sobre a moral sexual, agora o bispo anuncia que a última palavra ainda não foi dita.
A história, que se precipitou recentemente, teve um prólogo em 2011, quando Lintner, um religioso servita do sul do Tirol, publicou um livro sobre a moral sexual católica intitulado A redescoberta de eros. A Congregação para a Doutrina da Fé reagiu discretamente, colocando o volume sob a lupa. Embora o teólogo tratasse da contracepção, da homossexualidade, da situação dos casais divorciados e recasados, das relações pré-matrimoniais, as objeções romanas acabaram por desaparecer e constatou-se que Lintner não contradizia o magistério e abordava as questões sem fugir das controvérsias, mas de maneira ortodoxa.
Em meados de novembro de 2022, o professor foi eleito decano do estudo teológico-acadêmico de Bressanone. O bispo, D. Ivo Muser, como de costume, enviou a Roma a notificação da eleição para aprovação vaticana. Mas o nihil obstat não veio por meses, sem explicação. Até que, em junho, o bispo foi notificado da não aprovação devida. Ele mesmo informou que o motivo se devia a “certas publicações sobre assuntos relativos à moral sexual da Igreja Católica”.
Embora local, a história teve um amplo eco muito além de Bressanone. Várias associações teológicas e estudiosos individuais defenderam Lintner, no mundo de língua alemã, mas também na Itália. O teólogo, de acordo com o bispo, decidiu não apelar, mas o próprio D. Muser imediatamente expressou a esperança, para referência futura, “que as questões debatidas sejam esclarecidas de forma concreta e construtiva e isso pode acontecer”, explicou, “só com conversas profundas, pacientes e abertas”.
Depois de alguns dias de silêncio, o próprio Lintner, em nota, denunciou um "problema institucional", citou "a raiva e a impotência de muitos colegas que se viram diante de problemas e obstáculos semelhantes durante a atividade acadêmica", e expressou a esperança de que seu próprio caso poderia contribuir para “construir uma relação construtiva de confiança e diálogo entre o Magistério e a teologia acadêmica, entre dicastérios e associações teológicas, faculdades e estudos teológicos”.
Um desejo que agora parece encontrar uma resposta. “À margem de um diálogo cordial, que nunca foi interrompido, com o Dicastério para a Cultura e a Educação”, escreve D. Ivo Muser, “foi acordado prolongar o mandato do atual Decano – Professor Alexander Notdurfter – até 31 de agosto de 2024. Este tempo garantirá a calma necessária para amadurecermos juntos as questões que envolveram também outros Dicastérios”.
A nota do bispo de Bolzano e Bressanone é breve, mas revela várias informações.
Em primeiro lugar, uma vez que o mandato do seu antecessor foi prorrogado, a nomeação do Padre Lintner mantém-se, de fato, de pé.
Em segundo lugar, um "diálogo cordial" com o Departamento de Cultura e Educação "nunca parou". Embora, de fato, tenha sido este dicastério, liderado pelo cardeal português José Tolentino de Mendonça quem, ao final, comunicou a decisão romana, por trás do nièt estava, na prática, o dicastério para a Doutrina da Fé, presidido por pelo Cardeal Luis Ladaria.
Nos últimos dias, a Santa Sé comunicou que o jesuíta espanhol de 79 anos encerrou seu mandato (muito além, na realidade, de sua expiração natural) e será substituído, a partir de setembro próximo, pelo arcebispo argentino Victor Manuel Fernandez. Um teólogo reformista a quem, entre outras coisas, o Papa pediu, em uma carta, que encorajasse a "pesquisa teológica", e lembrou que a Igreja deve entrar em diálogo com "as questões colocadas pelo progresso da ciência e pelo desenvolvimento da sociedade".
Agora, como diz o bispo de Bolzano e Bressanone, há tempo extra para que o caso Lintner “amadureça junto” com “a calma necessária”.
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Caso Lintner. Teologia e moral sexual, após a paralisação reabre o diálogo entre o Vaticano e Bressanone - Instituto Humanitas Unisinos - IHU