08 Julho 2023
"Assim se discute estratégias e compartilhamento de experiências positivas de desenvolvimento local que integram a proteção da biodiversidade, os direitos sociais e bem-estar das populações locais, como o caso da região do Rio Tapajós, que vem se destacando pelas iniciativas que combinam ações de conservação da natureza, agroecologia voltada para o manejo sustentável dos recursos naturais e a união social. Neste contexto é possível idealizar como a Igreja, a Vida Religiosa pode se fazer presente colaborando com tais iniciativas, ajudando na organização do Povo de Deus ali estabelecido, impulsionados pela Encíclica de Francisco Laudato Si, buscando não só uma sustentabilidade integral, mas como uma espiritualidade-ecológica integral", escreve Renato Correia Santos, jesuíta, graduado em Direito e estudante de filosofia na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia em Belo Horizonte. É colaborador do Programa MAGIS Brasil – Rede Inaciana de Juventude da Companhia de Jesus.
Na região Amazônica, a questão de Justiça Social exige estratégias para compartilhar experiências de desenvolvimento que integram a proteção da biodiversidade, os direitos sociais e o bem-estar das populações locais, principalmente indígenas e ribeirinhas.
Conservar a biodiversidade da Amazônia e a floresta em pé, também é um projeto de desenvolvimento econômico e social, e para alcançar outros níveis de desenvolvimento social é preciso enxergar a floresta como uma oportunidade de desenvolvimento e não um obstáculo ou um “projeto de atraso”. A manutenção da floresta é a permanência do bem-estar social, desenvolvimento da economia sustentável e para além disso é a sobrevivência de povos e culturas.
Neste contexto, a construção de novos modelos de desenvolvimento local na Amazônia carrega uma imensa responsabilidade e desafios. Propor uma economia que promova a melhoria do bem-estar das pessoas e a equidade social, ao mesmo tempo em que alie a inovação tecnológica com a conservação da natureza faz parte disso.
No Baixo Tapajós, região que a Companhia de Jesus tem presença apostólica junto ao CIMI (Conselho Indigenista Missionário), um exemplo de iniciativas de Justiça Social promovida pela ONG Programa Saúde e Alegria é a chamada Bioeconomia. Trata-se de um conceito em construção e protagonizado por diversos setores da sociedade, incluindo a comunidade eclesial local, e tem se transformado em uma narrativa extremamente forte na Amazônia do oeste do Pará, devido, principalmente, à alta disponibilidade de recursos naturais da região.
O entendimento deve ser abrangente, contemplando não apenas a necessidade de se garantir a sustentabilidade ecológica dos recursos naturais, mas também a dimensão humana, representada pela diversidade cultural, os direitos sociais, o valor da biodiversidade para as populações locais e o extenso sistema de conhecimento que os povos indígenas e as comunidades locais ribeirinhas vêm desenvolvendo ao longo de sua existência. Assim se discute estratégias e compartilhamento de experiências positivas de desenvolvimento local que integram a proteção da biodiversidade, os direitos sociais e bem-estar das populações locais, como o caso da região do Rio Tapajós, que vem se destacando pelas iniciativas que combinam ações de conservação da natureza, agroecologia voltada para o manejo sustentável dos recursos naturais e a união social. Neste contexto é possível idealizar como a Igreja, a Vida Religiosa pode se fazer presente colaborando com tais iniciativas, ajudando na organização do Povo de Deus ali estabelecido, impulsionados pela Encíclica de Francisco Laudato Si, buscando não só uma sustentabilidade integral, mas como uma espiritualidade-ecológica integral.
Trata-se de uma região onde associações e cooperativas locais, em parceria com uma rede de diversos parceiros, gerenciam a comercialização de diversos produtos locais, com destaque para a produção de polpa de frutas de árvores nativas e óleos vegetais. As iniciativas se juntam e configuram em uma rede potente de conhecimento produtivo, proteção territorial e inclusão social. Nota-se que, esse tipo de projeto de desenvolve com mais eficácia e participação onde a comunidade eclesial possui maior articulação e inserção pastoral na vida dos comunitários. Ou seja, a Igreja colaborando com a formação e empoderamento do povo para conquistas sociais.
Neste sentido, a Igreja não pode estar menos comprometida, ao contrário, é chamada a ouvir os clamores dos povos amazônicos, para poder exercer com transparência o seu papel profético.
O Papa Francisco, em “Querida Amazônia” condena a presença colonizadora, tanto no passado quanto no presente, da região: “a ecologia e a justiça social estão intrinsecamente ligadas e a região amazônica é um exemplo claro da fragilidade deste equilíbrio”.
Deste modo, é imperativo que a Igreja tenha uma voz profética e um compromisso incondicional com a defesa dos mais pobres e vulneráveis daquele chão. Somos chamados a caminhar com este povo, que por séculos é marginalizado e explorado.
Estes debates sobre a Justiça Social dentro da Amazônia, principalmente da economia, devem ter como ideia o “Amazonizar” todos estes processos, isto é, servir como um modelo para sustentar a vida em respeito à natureza e cultura local e envolver a todos, sejam os povos amazônidas, indígenas, bem como a toda a sociedade civil, Estado e Igreja.
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Amazônia e Justiça Social. Artigo de Renato Correia Santos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU