21 Junho 2023
Instrumentum laboris apresentado: tudo, desde a deficiência ao clima até uma nota sobre "casamentos polígamos".
O comentário é de Matteo Matzuzzi, publicado por Il Foglio, 20-06-2023.
O documento, muito extenso e articulado, não faz nenhuma suposição ousada sobre o que realmente será discutido na Sala Paulo VI no segundo semestre. Em dois anos (e duas sessões) realmente tudo pode acontecer.
O Sínodo sobre a sinodalidade (o título exato é "Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão) que verá padres, mães e especialistas convergirem em Roma em outubro próximo (depois tudo se repetirá doze meses depois, quando as "propostas concretas” serão submetidas ao Papa), começa a tomar forma.
De fato, foi apresentado hoje no Vaticano o Instrumentum laboris, o documento de trabalho que serve de esboço para as discussões. E é encorpado, 50 páginas incluindo introduções, cartões, desenhos para melhor esclarecer o que estamos falando. Há tudo dentro, como esperado. O tema escolhido foi tão amplo que na Sala Paulo VI (local novo em relação às assembleias anteriores) tudo pode acontecer.
Os alemães terão a oportunidade de propor os resultados de seu Caminho Sinodal, as igrejas da África poderão justamente trazer à tona o que consideram prioritário, também as americanas, as asiáticas também, as latino-americanas.
As falas dos principais líderes do processo, os cardeais Mario Grech e Jean-Claude Hollerich, não ajudaram a esclarecer. Na coletiva de imprensa em que apresentaram o documento, o primeiro esclareceu que se tratou de um “processo de profunda circularidade entre profecia e discernimento” (seja lá o que isso signifique), garantindo ainda que “não encontrarão no texto uma sistematização teórica da sinodalidade, mas o fruto de uma experiência de Igreja, de um caminho no qual todos aprendemos mais, pelo fato de caminharmos juntos e nos questionarmos sobre o sentido desta experiência".
O cardeal Hollerich resumiu apreciavelmente os pontos do Instrumentum, os elementos-chave que são salvos da retórica que inunda o texto. Lá dentro, como já referi, há espaço para todas as perguntas, dúvidas, curiosidades. Fala-se de "aqueles que não se sentem aceitos na Igreja, como os divorciados recasados, pessoas em casamentos polígamos ou pessoas LGBTQ+" (foi necessário um Sínodo para entender porque a Igreja não concorda com casamentos polígamos?), então pergunta-se se "é possível, como alguns continentes estão propondo, iniciar uma reflexão sobre a possibilidade de revisar, pelo menos em algumas áreas, a disciplina sobre o acesso ao sacerdócio para homens casados".
E as mulheres? Espaço também para elas, é claro, já que “a maioria das assembleias continentais e os resumos de numerosas conferências episcopais pedem que a questão do acesso das mulheres ao diaconato seja novamente considerada”. E depois, é claro, "todas as assembleias continentais pedem para abordar a questão da participação da mulher no governo, na tomada de decisões, na missão e nos ministérios em todos os níveis da Igreja, com o apoio de estruturas adequadas para que isso não permaneça apenas uma aspiração geral”. Novamente, “como promover a participação de mulheres, jovens, minorias, vozes marginais nos processos de discernimento e decisão?” Pais, mães, especialistas, então, também refletirão sobre a “pluralidade de barreiras, desde as práticas até os preconceitos culturais” que geram “formas de exclusão das pessoas com deficiência”.
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Mais do que um Sínodo, parece o Vaticano III. Mas mais confuso e retórico - Instituto Humanitas Unisinos - IHU