24 Abril 2023
Vários institutos da Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos, organizaram no dia 17 de abril uma conversa sobre a ordenação de mulheres na Igreja Católica, com um painel de cinco teólogas e lideranças leigas locais, que definiram a resposta da Igreja sobre o assunto como “inacabada”.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 19-04-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Entre as oradoras estava a aclamada romancista e vencedora do National Book Award Alice McDermott, que refletiu sobre o significado dos sacramentos e disse que a prática da Igreja de ordenar apenas homens como ministros tornou-se algo como um contrassacramento para ela.
“Se há sinais exteriores da graça interior, certamente também há sinais exteriores da corrupção interior”, disse McDermott, autora de oito romances. “Sinais exteriores que traem nossas falhas, nossa pecaminosidade e nossos fracassos.”
“Me entristece dizer que o sacerdócio exclusivamente masculino da Igreja Católica, a minha Igreja, tornou-se para mim um sinal desse tipo”, disse ela.
A teóloga Mary Hunt, cofundadora e codiretora da Women’s Alliance for Theology, Ethics, and Ritual (Water), disse que a decisão de não ordenar mulheres “deixou a Igreja Católica Romana institucional em uma posição intelectual e moralmente insustentável, sem muita credibilidade para anunciar qualquer boa notícia”.
“A perda do enorme talento e generosidade de mulheres e pessoas não binárias que desejam se engajar nos ministérios sacramentais católicos diminuiu a qualidade e a quantidade do ministério para todos”, disse ela.
O evento de Georgetown foi realizado em parte para homenagear o trabalho da Ir. Anne E. Patrick, das Irmãs dos Santos Nomes de Jesus e Maria, uma teóloga moral que morreu em 2016. Em 1975, Patrick escreveu um ensaio intitulado “Um caso conservador para a ordenação de mulheres”, em que argumentava que a ordenação de mulheres ajudaria a enfrentar uma crise iminente de declínio no número de padres e “tocaria os corações das mulheres que (...) estão se tornando cada vez mais conscientes de sua dignidade como pessoas”.
Além de McDermott e Hunt, as palestrantes do evento eram a teóloga Teresa Delgado, decana do College of Liberal Arts and Sciences da St. John’s University, em Queens, Nova York; Angele Cabrini White, fundadora e coordenadora da Pastoral da História Negra e Feminina da Paróquia St. Martin of Tours, em Washington; e Lin Henke, veterana de Georgetown.
Jane Varner Malhotra, diretora de comunicações avançadas da Georgetown e sobrinha de Patrick, abriu o evento. Malhotra disse que ela mesma tem discernido um chamado para o sacerdócio.
“Para mim e para muitas de nós na Igreja, a questão da ordenação de mulheres é, sim, institucional, mas também profundamente pessoal e, às vezes, dolorosa”, disse ela. “Mas também é uma experiência de alegria e criatividade, porque, com Deus, todas as coisas são totalmente possíveis.”
White ofereceu uma ampla visão geral da história católica dos Estados Unidos, concentrando-se no modo como os católicos eram muitas vezes um grupo minoritário perseguido no início da história estadunidense. Ela disse que a história mostra que a mudança pode demorar muito para ocorrer.
“A mudança exige aprender com os erros e trabalhar para melhorar”, disse ela. “Não significa se contentar com algo injusto. Não significa buscar igualdade. Significa conquistar equidade.”
“Não é que nós, como mulheres, queremos ser aceitas”, disse White. “É que muitos homens na liderança não são receptivos. Não é que as mulheres já não liderem na Igreja. É que muitos homens preferem o ‘clube do bolinha’ na liderança.”
Henke, que está se preparando para se formar e planeja fazer pós-graduação em pastoral, disse que “as apostas teológicas em jogo são muito altas” em relação ao fato de a Igreja permitir a ordenação de mulheres.
“Não basta dizer que as mulheres podem se assemelhar a Deus, desde que mantenham partes de si mesmas atenuadas”, disse Henke, que é cristã não católica. “Não podemos permitir que nosso propósito e valor sejam definidos por uma visão estreita e imprecisa de Deus.”
Durante a sessão de perguntas e respostas após o debate inicial, um estudante de Georgetown perguntou às palestrantes como elas entendiam a posição oficial da Igreja, conforme descrita na carta apostólica Ordinatio Sacerdotalis, do Papa João Paulo II, de 1994, no sentido de que a Igreja não tem a autoridade para ordenar mulheres como presbíteras.
Delgado sugeriu que acrescentar mais vozes ao debate sobre a autoridade da Igreja sobre o assunto pode ajudar em conversas futuras.
“Talvez as vozes mais diversas que temos (...) no debate nos permitam encontrar essa verdade com mais clareza, que no passado ficou obscurecida, porque havia muito poucas vozes”, disse a teóloga. “Vemos claramente que acrescentar mais vozes a essa mesma questão sobre onde está a verdade levará a diferentes tipos de respostas.”
“Eu diria: por que ter medo disso? Por que ter medo da possibilidade de que, de alguma forma, aquilo que sabemos que é verdade pode não ser?”, perguntou Delgado.
“Precisamos ver a verdade com lentes mais amplas”, disse ela. “Acho que este é o momento em que estamos agora. E talvez haja alguns que não queiram se envolver nesse questionamento, porque isso destruirá a verdade que conheceram.”
O evento foi intitulado “Fé, feminismo e ser inacabado: a questão da ordenação de mulheres”. Foi promovido pelo Women’s Center, pelo Berkley Center for Religion, Peace and World Affairs, pelo Office of Mission and Ministry, pela Women’s Alliance de Georgetown; pela Gender+ Justice Initiative e pelo Departamento de Teologia e Estudos Religiosos.
Annie Selak, uma teóloga que atua como diretora associada do Women’s Center, moderou a discussão. O evento também contou com uma pintura artística ao vivo e simultânea da Ir. Celeste Mokrzycki, das Irmãs de São José, capelã da Escola de Enfermagem e da Escola de Saúde de Georgetown.
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Universidade de Georgetown organiza debate sobre ordenação de mulheres - Instituto Humanitas Unisinos - IHU