07 Janeiro 2023
Os Magos se põem a caminho. Como peregrinos na noite, seguindo a luz da estrela, os Magos partem. Eles são o símbolo de todos os buscadores de Deus, de todos aqueles que não se rendem à noite, mas buscam a luz, de todos aqueles que não querem achatar a vida nos hábitos ou aprisioná-la na mediocridade.
A opinião é de Francesco Cosentino, teólogo e padre italiano, membro da Congregação para o Clero e professor da Pontifícia Universidade Gregoriana. O artigo foi publicado em Settimana News, 06-01-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Magos, vocês são os santos mais nossos, os peregrinos do céu... a alma eterna do homem que busca.” Assim cantava o Pe. Turoldo, combinando a busca interior e o caminho dos Magos com a inquietação que desde sempre habita também o nosso coração.
A Epifania celebra o canto da viagem: a de Deus, que se põe a caminho rumo à humanidade e em Jesus se manifesta a cada criatura e a todos os povos; e a do ser humano, que, deslumbrado com a luz dessa estrela que desceu sobre a terra que é Jesus, sente o desejo profundo de sair de si mesmo, de ir além do imediato, de perscrutar o céu para interrogar o significado profundo da vida, de se pôr em busca do rosto de Deus, sentindo intimamente que é Ele mesmo a felicidade última que anima o caminho da vida.
Seguindo o caminho desses inquietos viajantes rumo à gruta, podemos dar voz ao nosso anseio de felicidade, às perguntas que nos habitam, ao desejo de plenitude que nos move e à nossa própria busca de Deus.
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Os Magos levantam o olhar para o céu. Não se contentam com aquilo que são e com aquilo que têm, não vivem a vida com o olhar voltado para baixo, não ficam prisioneiros das coisas de todos os dias, não fecham toda a experiência de sua vida naquilo que podem ver e tocar. Têm o olhar voltado para o céu, olham para cima, buscam algo que vai além de deles mesmos, deixam-se perturbar pela luz da estrela.
Eles nos ensinam que nem sempre podemos encaixar a vida dentro dos nossos esquemas; que não podemos preferir a comodidade ao risco do caminho; que nem sempre podemos controlar tudo e pensar que já sabemos tudo, em vez de nos pormos humildemente em busca da verdade; que não podemos encaixar a realidade, os outros e até nós mesmos nos rótulos que construímos ou nos preconceitos que a própria sociedade muitas vezes produz.
Os Magos nos ensinam isto: se achamos que a vida está “toda aqui” e que não há um além, então ela se apaga, escapa das nossas mãos, morre em nossos braços. Torna-se imóvel, um corpo sem vida, um quadro fixo para sempre na mesma parede.
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Os Magos se põem a caminho. Como peregrinos na noite, seguindo a luz da estrela, os Magos partem.
Eles são o símbolo de todos os buscadores de Deus, de todos aqueles que não se rendem à noite, mas buscam a luz, de todos aqueles que buscam a verdade a todo o custo, que não se resignam a viver na superfície, que não querem achatar a vida nos hábitos ou aprisioná-la na mediocridade.
Eles nos ensinam que a vida é um êxodo, é sair de si mesmo, é se pôr em jogo, é vencer o imobilismo para ir ao encontro dos outros e das situações de todos os dias sem medo.
Eles nos ensinam que a maior tentação é justamente nos rendermos à noite, parar o caminho, pensar que já chegamos.
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Os Magos reconhecem Deus no Menino que nasceu. A meta última da viagem é a luz verdadeira que ilumina o mundo, da qual a estrela no céu havia sido um sinal.
Eles nos ensinam que não devemos parar na luz da estrela, porque ela sempre indica outra coisa. Ou seja, que a nossa demanda de sentido e de felicidade não pode ser satisfeita apenas por aquilo que conquistamos, por aquilo que parece nos satisfazer no momento, pelas coisas que construímos ou conseguimos possuir.
Essas conquistas “pela metade” e essas alegrias passageiras são apenas a imagem da alegria verdadeira: sentir que somos amados e amparados por um amor que nos acompanha e nos preservará também no trágico naufrágio da morte.
Deus é o cumprimento da felicidade: n’Ele encontra cumprimento a nossa espera, a nossa esperança última, tudo aquilo que estamos buscando e pelo qual estamos inquietos. Só ao encontrá-Lo é que a nossa vida muda, vence a noite, abre-se à alegria.
Homens à espera, buscadores do infinito, perscrutadores do céu, os Magos nos convidam à viagem. Aprendamos com eles a nos pôr a caminho. Não deixemos de buscar a verdade profunda das coisas, o sentido daquilo que vivemos, o rosto verdadeiro das pessoas que passam ao nosso redor, o bem possível a ser feito, o amor que podemos oferecer e com o qual podemos curar as feridas do mundo.
Buscando, perceberemos que, em todas as demandas da nossa vida, na realidade, pomo-nos em busca de Deus.
E, com imenso espanto, descobriremos que Deus, como uma estrela brilhante, já se pôs em nosso caminho e já veio ao nosso encontro como Aquele que quer iluminar as noites da nossa vida.
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Os Magos, peregrinos do céu. Artigo de Francesco Cosentino - Instituto Humanitas Unisinos - IHU