29 Novembro 2022
“Enquanto os seminários não colocarem a formação humana no topo das prioridades, continuarão a produzir clérigos – não todos, mas muitos deles – que pregam a política em vez do Evangelho e que são legisladores em vez de agentes de misericórdia. É por isso que os católicos e outros ficam se perguntando o que é a USCCB. É por isso que tantos católicos simplesmente saíram da Igreja”, escreve a teóloga estadunidense Phyllis Zagano, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 28-11-2022.
Na recente assembleia geral da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA – USCCB, em Baltimore, de 14 a 17 de novembro, os bispos pró-Francisco perderam em sua maioria para os bispos anti-Francisco nas eleições para os cargos mais altos da conferência, enviando uma mensagem forte a Roma e ao resto do mundo anglófono.
A direita eclesial está comemorando o novo presidente da USCCB, dom Timothy Broglio, um diplomata vaticano de carreira, arcebispo do Ordinariado Militar desde 2007. De 1990 a 2001, Broglio foi um influente assessor do secretário de Estado do Vaticano, cardeal Angelo Sodano. Foi durante a estada de Broglio em Roma que o cardeal bloqueou as investigações do notório abusador sexual, padre Marcial Maciel Degollado.
Broglio culpa a homossexualidade pela crise de abuso e apoiou objeções religiosas às vacinas contra a covid-19. Embora a transparência seja uma marca registrada do Sínodo sobre a Sinodalidade, o Ordinariado Militar está entre a minoria das dioceses dos EUA que não publica uma síntese do sínodo.
No entanto, em um aceno à sinodalidade, como os bispos se sentaram em mesas redondas no salão de baile do Baltimore Marriott, todos os oficiais eleitos estão no lado direito do corredor. Um por um, os candidatos mais moderados perderam para os guerreiros culturais.
Durante o encontro, os bispos ouviram uma apresentação sobre os planos multimilionários para o Congresso Eucarístico Nacional, previsto para julho de 2024 em Indianápolis. Falaram sobre liturgia e aprovaram as causas de canonização. Eles decidiram não reescrever seu desatualizado guia do eleitor.
O que é mais revelador é que o tempo que os bispos dedicaram a essas questões excedeu em muito o tempo dedicado ao que a Igreja é chamada a fazer: ministrar aos pobres, aos famintos, aos sedentos, aos sem-teto, aos doentes, aos encarcerados e aos mortos.
Sim, os bispos discutiram a publicação de um livro para ajudar os leigos que ministram aos enfermos. Sim, um cardeal sobrevivente de abuso, dom Joseph Tobin, arcebispo de Newark (que perdeu a eleição como secretário da conferência), apresentou fortes declarações no final das sessões de um dia. Sim, houve discussão sobre o sínodo, cuja próxima fase será realizada via Zoom entre representantes escolhidos apenas pelos bispos. O presidente do Comitê de Migração informou que, trabalhando com outras agências, os Serviços de Migração e Refugiados dos bispos ajudaram a reassentar cerca de 1,3 mil afegãos.
No entanto, a declaração mais clara sobre a dedicação à caridade cristã veio da irmã dominicana Donna Markham, ex-presidente e CEO da Catholic Charities (Cáritas dos EUA), o guarda-chuva gigante de 167 agências e cerca de 3,4 mil locais que atendem a mais de 15 milhões de pessoas anualmente. Markham detalhou as maneiras pelas quais sua agência dirigiu o que ela chamou de “a resposta da Igreja Católica neste país às pessoas que residem à margem de nossa sociedade... é aqui que nossa Igreja coloca o Evangelho em ação”.
Markham disse que a maior porcentagem do orçamento da Catholic Charities vem de fontes externas: apenas 1% vem da arrecadação anual da USCCB, outros 5% das taxas das agências membros.
O fato de uma mulher ter dado o exemplo mais forte do que a igreja é e precisa fazer é instrutivo sobre o pântano em que os bispos se encontram.
Há 20 anos, o órgão aprovava a “Carta de Dallas para a Proteção de Crianças e Jovens”. À época, pelo menos um bispo, dom Fabian Bruskowitz, de Lincoln, Nebraska, recusou-se a implementar as restrições. A USCCB não o responsabilizou. Desde então, cada estado produziu estatísticas impressionantes documentando um padrão de abuso sexual por seus clérigos.
Certamente, a proteção é importante, mas é apenas uma parte da equação. Enquanto os seminários não colocarem a formação humana no topo das prioridades, continuarão a produzir clérigos – não todos, mas muitos deles – que pregam a política em vez do Evangelho e que são legisladores em vez de agentes de misericórdia.
É por isso que os católicos e outros ficam se perguntando o que é a USCCB. É por isso que tantos católicos simplesmente saíram da Igreja.
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O confuso caminho dos bispos católicos dos EUA - Instituto Humanitas Unisinos - IHU