04 Novembro 2022
"Oduvaldo Vianna manteve-se fiel ao seu intuito de porta voz da cultura latino-americana quando criou a Rádio Panamericana. Vianninha, seu filho, apesar de ter morrido moço, seguiu os passos do pai e manteve a luta pela democracia e divulgação da cultura até sucumbir ao câncer. Já a família Carvalho, que sempre se favoreceu das beneficies do estado, encara a rádio como bussness, como dinheiro", escreve Marcelo Zanotti, estudando dos cursos de história e jornalismo da UNISINOS e estagiário do IHU.
Após o presidente da República e então candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), perder, no último domingo (30/10), as eleições para Luiz Inácio Lula Silva (PT), a Jovem Pan anunciou a demissão de quatro comentaristas, três ligados ao bolsonarismo (Augusto Nunes, Caio Copolla, Carla Ceccato) e um crítico ao bolsonarismo (Guga Noblat).
A emissora de rádio Jovem Pan, que migrou para a televisão, e, hoje, vive de divulgar fake news, foi fundada em 6 de outubro de 1942, sob o nome de Rádio Panamericana, com o prefixo PRH-7.
A rádio teve como primeiros donos Júlio Cozi, presidente de uma das primeiras agências de propaganda de São Paulo; Oduvaldo Vianna, famoso teatrólogo, dono de uma imensa produção de radionovelas; e Eugênio Santos Neves. Funcionou no prédio 299 da rua São Bento, até o início da década de 1950. Na sociedade, Oduvaldo Vianna entrou com o trabalho e a experiência, enquanto os outros participaram com os recursos financeiros. Depois de diversas dificuldades e adiamentos, a Panamericana fez sua primeira transmissão oficial em 3 de maio de 1944. Tinha como prefixo de abertura as primeiras notas da Quinta Sinfonia de Beethoven, que, no código Morse, significavam o “V” da Vitória. No início de 1944 o Brasil enviou para a Europa os primeiros combatentes para lutar ao lado das forças aliadas na Segunda Guerra Mundial.
A emissora contratou jovens que já possuíam experiência e que vieram, mais tarde, a se transformar em importantes personalidades do rádio, e depois da TV, tais como Mário Lago, Dias Gomes, Nélio Pinheiro, Sônia Maria e Lurdes Mayer, entre outros. A inauguração da rádio contou ainda com a presença de nomes já consagrados como Vicente Celestino e Gilda Abreu. A proposta inicial do grupo era a de veicular uma produção diferente das outras emissoras da época, transformando a Rádio Panamericana em uma emissora onde os interesses artísticos, e não os econômicos, fossem a base do funcionamento. Com aparelhos pouco potentes e diante da forte concorrência de poderosas emissoras como as rádios São Paulo (SP), Bandeirantes (SP), Difusora (SP) e Nacional do Rio de Janeiro (RJ), a situação financeira da Panamericana foi se complicando.
A Rádio Panamericana foi constituída como empresa em 1942, porém, teve programação como emissora de rádio apenas a partir de 3 de maio de 1944. Autoridades diplomáticas e literárias marcaram presença na festa de inauguração da emissora, assim como artistas internacionais e representantes de outras rádios do Brasil e de países da América Latina. Sob a direção de Oduvaldo Vianna, a Rádio Panamericana teve vida curta, depois de nove meses de inaugurada ela foi vendida e passou a integrar o conjunto conhecido como Emissoras Unidas de propriedade do jornalista Paulo Machado de Carvalho. Mesmo tendo deixado a posição de sócio, continuou fazendo o mesmo trabalho. Oduvaldo Vianna foi convidado por Assis Chateaubriand para trabalhar na Rádio Difusora, que fazia parte do grupo das Emissoras Associadas, levando assim, muitos dos seus funcionários da Panamericana. O conteúdo da Rádio Panamericana era constituído em grande parte do conjunto de produções que vinha sendo colecionadas por Oduvaldo, provenientes de Buenos Aires e de outros países. Além da Rádio Panamericana, esse material teve como destino também a Rádio Nacional e a Rádio São Paulo.
No território brasileiro as radionovelas estrearam na Rádio São Paulo, sendo também irradiadas para o Rio de Janeiro pela Rádio Nacional, e de lá para todo o país. Um dos grandes desafios da carreira de Oduvaldo Vianna foi unir a produção artística cultural com a produção comercial de entretenimento, sem alienar. Acabou sendo vendida em dezembro de 1944 para o grupo das Emissoras Unidas de São Paulo, ao qual pertenciam as rádios Record e São Paulo. Antônio Hermann Dias de Meneses assumiu a direção da emissora e os funcionários que não concordaram com as mudanças implementadas demonstraram seu desacordo usando tarjas de luto no local de trabalho. Os protestos resultaram no afastamento de alguns e na substituição do diretor.
No período entre 1944 e 1946, a Panamericana manteve uma programação variada, contando com algumas radionovelas, programas musicais, de humor e jornalísticos. A partir de 1947, começou a se especializar, passando a dedicar a maior parte da programação às transmissões esportivas, transformando-se, assim, na “emissora dos esportes” e alcançando liderança de audiência no gênero.
Oduvaldo Vianna deu origem a Oduvaldo Vianna Filho. Autor de peças políticas de crítica à sociedade de consumo e à realidade brasileira. Nasce no Rio de Janeiro, muda-se para São Paulo para estudar arquitetura na década de 50, mas abandona a faculdade para dedicar-se ao teatro. Em 1956 organiza um curso de teatro em parceria com Gianfrancesco Guarnieri. No ano seguinte faz o Seminário de Dramaturgia junto com Augusto Boal e escreve sua primeira peça, Chapetuba F.C.
Participa da criação do Teatro de Arena, em São Paulo, e do Teatro do Grupo Opinião, no Rio de Janeiro. É ainda um dos fundadores do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes. Volta para o Rio de Janeiro em 1960 e escreve Quatro Quadras de Terra (1963) e Se Ficar o Bicho Pega, Se Correr o Bicho Come (1966) - esta última em parceria com Ferreira Gullar, considerada a melhor peça do ano e ganhadora do Prêmio Molière.
Outros êxitos são Longa Noite de Cristal (1969) e Corpo a Corpo (1971). Por causa do conteúdo político, muitas de suas peças são proibidas pela censura do Regime Militar de 1964. É o caso de Rasga Coração (1974), última peça que escreve, premiada pelo Serviço Nacional de Teatro na ocasião, mas proibida de ser encenada pela censura. Morre no Rio de Janeiro, vítima de câncer no pulmão.
Paulo Machado de Carvalho em 12 de maio de 1923, casou-se com Maria Lúcia Chaves do Amaral (1904 – 1985). Da união, vieram os filhos: Paulo Machado de Carvalho Filho (1924 – 2010), Erasmo Alfredo Amaral de Carvalho (1925 – 1990) e Antônio Augusto Amaral de Carvalho, conhecido como "Tuta" (nascido em 1931).
Antônio Augusto Amaral de Carvalho, mais conhecido pela alcunha de "Tuta", é filho de Paulo Machado de Carvalho e foi diretor-presidente da Rádio Panamericana, que em 1973 se torna Jovem Pan, entre 1973 e 2014, ano em que deu o cargo para seu filho Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha. Em 1976, com a ajuda de seu amigo João Carlos Di Genio, então dono dos cursinhos da rede Objetivo, "Tuta" tentou realizar seu sonho de possuir um canal de televisão, quando juntos então criaram a TV Jovem Pan UHF 16. Após a entrada de um terceiro sócio, Hamilton Lucas de Oliveira, houve dissentimentos no grupo. Em 1993 o canal foi alvo de uma CPI, cujo relatório final citou "Tuta" como suspeito de envolvimento em documentos falsos e no sumiço de tapetes comprados para o canal.
Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, conhecido como "Tutinha" é filho de Antônio Augusto Amaral de Carvalho, conhecido como "Tuta", e neto de Paulo Machado de Carvalho. Aos 20 anos de idade, no ano de 1976, assumiu a diretoria da Rádio Jovem Pan FM, e em 2014 sucede seu pai na administração da Rede Jovem Pan. Tutinha adora um barraco. Desde que sucedeu o pai no comando da Jovem Pan, há oito anos, Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho transformou os estúdios da rádio na avenida Paulista no ringue de um boxe ideológico, repleto de cruzados sangrentos e nocautes memoráveis. Empregando um exército de comentaristas de opiniões controversas e tendo os governos do PT como saco de pancada, a rádio ganhou voz como formadora de opinião e hoje é líder em audiência no país no horário nobre da manhã, com mais de 200 mil ouvintes por minuto. “Jornalismo é commodity. O que viraliza e gera audiência é opinião,” disse ao Brazil Journal.
Como podemos ver, Oduvaldo Vianna manteve-se fiel ao seu intuito de porta voz da cultura latino-americana quando criou a Rádio Panamericana. Vianninha, seu filho, apesar de ter morrido moço, seguiu os passos do pai e manteve a luta pela democracia e divulgação da cultura até sucumbir ao câncer. Já a família Carvalho, que sempre se favoreceu das beneficies do estado, encara a rádio como bussness, como dinheiro. Os anos passam, a caravana roda, mas o importante é dinheiro no banco. Jornalismo não é commodity, jornalismo é informação, prestação de serviço e verdade. Fake news não é jornalismo. A rádio Jovem Pan não é a Panamericana, e também não é jornalismo.
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Cada um tem o descendente que merece. Artigo de Marcelo Zanotti - Instituto Humanitas Unisinos - IHU