08 Outubro 2022
O jornal La Stampa, 06-10-2022, publicou o prefácio do Papa Francisco ao livro de Marco Roncalli e Ettore Malnati intitulado “Giovanni XXIII. Un Concilio per il mondo” [João XXIII. Um Concílio para o mundo] (Bolis Edizioni).
A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O Concílio Ecumênico Vaticano II, fortemente desejado por São João XXIII e levado a cabo por São Paulo VI, foi um evento de graça para a Igreja e para o mundo. Um evento cujos frutos não se esgotaram.
Sim, podemos afirmar que o último Concílio Ecumênico ainda não foi inteiramente compreendido, vivido e aplicado. Estamos a caminho, e uma etapa fundamental desse caminho é a que estamos vivendo com o Sínodo e que nos pede para sair da lógica do “sempre se fez assim”, da aplicação dos velhos esquemas de sempre, desde o reducionismo que acaba querendo sempre enquadrar tudo naquilo que já é conhecido e praticado.
Um livro como este, que nos ajuda a redescobrir a inspiração do Concílio e como, passo a passo, esse evento transformou a vida da Igreja é uma oportunidade para enfrentar melhor o percurso sinodal, que é feito sobretudo de escuta, de envolvimento, da capacidade de abrir espaço para o sopro do Espírito, deixando a Ele a possibilidade de nos guiar.
Recebemos muito do Concílio Ecumênico Vaticano II. Aprofundamos, por exemplo, a importância do povo de Deus, categoria central nos textos conciliares, citada nada menos do que 184 vezes, o que nos ajuda a compreender o fato de que a Igreja não é uma elite de sacerdotes e consagrados, e que cada batizado é sujeito ativo da evangelização.
Não se compreenderia o Concílio, nem mesmo o atual percurso sinodal, se não se colocasse no centro de tudo a evangelização. Somos pecadores testemunhas do Ressuscitado e anunciamos ao mundo – não pelos nossos méritos nem pelas nossas capacidades – Aquele que derrotou a morte, Aquele que nos salvou e que continua nos salvando ao nos reerguer com infinita misericórdia.
A grande cúpula ecumênica foi inspirada pela exigência de testemunhar e anunciar com palavras novas o acontecimento da morte e ressurreição de Jesus e a sua presença entre nós. Havia um mundo que se afastava do cristianismo e manifestava, mais do que aversão, indiferença. O Concílio nasceu a partir desse impulso, desta pergunta: como falar de Jesus aos homens e às mulheres de hoje?
Desde então, percorremos um longo trecho de estrada, que não foi isento de dificuldades e de decepções. Ainda hoje corremos o risco de cair na tentação do desânimo e do pessimismo, quando fixamos o nosso olhar nos males que afligem o mundo, em vez de olhar o mundo com os olhos de Jesus, isto é, considerando-o como um campo de messe, para semear com paciência e com esperança.
Repassar a história do Concílio e, sobretudo, viver o presente do Sínodo com o coração aberto e livre, para reverberar naqueles que encontramos a ternura de Deus e sua proximidade a todos, é o modo pelo qual aprendemos a não desanimar e a abandonar toda tentação de confiar em nós mesmos, na nossa bravura e nas nossas estratégias, para deixar espaço para Ele.
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“A Igreja não é uma elite. É preciso redescobrir o Vaticano II para enfrentarmos o futuro juntos”, afirma o Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU