17 Setembro 2022
Podemos fechar os olhos quando se trata de explorar, pagar mal, sem garantir condições de vida minimamente humanas a algumas pessoas. Depois, se essas pessoas precisam receber um tratamento médico, não lhes reconhecemos nenhum direito.
O comentário é do teólogo italiano Andrea Grillo, professor do Pontifício Ateneu Santo Anselmo, em Roma. O artigo foi publicado em Come Se Non, 15-09-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
No último post, contei uma história impressionante e tocante. Porém, é preciso acrescentar à história mais um detalhe que é quase inacreditável.
De fato, verificou-se que o paciente tinha a carteira de saúde vencida e, além disso, não podia obter uma nova porque não tinha autorização de residência. Daí o pedido de algumas assinaturas, com as quais ele se comprometia a pagar a internação, a cirurgia e os tratamentos.
Diante dessa passagem, acho que é justo fazer duas considerações diferentes.
O problema da carteira de saúde foi levantado após se ter feito a cirurgia. Trata-se de um cenário totalmente diferente daqueles que vimos ser contados e representados tantas vezes pelos meios de comunicação: eu estabeleço do que você precisa em termos de saúde, mas só prossigo quando você mostra um título válido.
Esse é um cenário que felizmente evitamos. No entanto, prosseguiu-se mesmo assim, mesmo sem título, segundo o justo princípio da gratuidade do tratamento para quem quer que dele precise.
No entanto, isso não significa que, no plano formal, o jovem africano não tivesse direito a um benefício, e esse é o lado mais cego das nossas instituições: podemos fechar os olhos quando se trata de explorar, pagar mal, sem garantir condições de vida minimamente humanas; nos é permitido o poder de arruinar uma pessoa. Mas, depois, se essas pessoas querem ser tratadas, não lhes reconhecemos nenhum direito.
Talvez, em um futuro de justiça, possa acontecer que, nesses casos, o serviço nacional de saúde seja pago pelos patrões sem escrúpulos.
O certo é que encontramos a maior dignidade nas palavras que o rapaz africano disse com simplicidade: “Atravessei o deserto, atravessei o mar: e estou aqui”.
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O dano e o insulto. Homens razoáveis e instituições cegas. Artigo de Andrea Grillo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU