06 Setembro 2022
Em 24 de setembro, o Papa Bergoglio irá para Assis para encerrar os trabalhos da Economia de Francisco, uma super cúpula aberta a economistas, empreendedores, associações de todo o mundo, fortalecida por uma rede de jovens para estudar uma visão capaz de desenvolver o liberalismo desenfreado e refletir sobre como construir uma economia mais humana, capaz de prevenir guerras e reduzir desigualdades. Na prática, uma alternativa ao modelo financeiro baseado no consumo de recursos desprovido de tutela para a humanidade e o meio ambiente. "Por favor, não o chamem de Davos católica, no máximo anti-Davos, nós tratamos dos pobres e não dos poderosos", explica um dos organizadores, o economista Luigino Bruni que em entrevista ao Messaggero entra no coração das questões mais urgentes do momento.
A entrevista é de Franca Giansoldati, publciada por Il Messaggero, 05-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
A economia de Francisco retoma após a pausa internacional do covid, num contexto finalmente pesadíssimo, incluindo a estagflação que, segundo vários economistas, durará enquanto estivermos dependentes do petróleo e de outras fontes minerais. Também vão falar sobre esse tema?
Claro, será tratado a partir de muitas perspectivas diferentes. Em primeiro lugar, uma realidade chamada Economia de Francisco não pode deixar de colocar no centro as questões do meio ambiente e da transição ecológica. Depois, há as experiências concretas dos jovens, muitos dos quais, por instinto, estão trabalhando no limiar entre Economia e Ecologia, e há os estudos de doutorandos e dos pesquisadores. Hoje não é mais possível ser um economista com alma e não tratar diretamente de meio ambiente: a ecologia é o novo nome da economia.
A economia de Francisco foi chamada de Davos católica, talvez para caracterizá-la pelo fato de ter suas raízes na doutrina social da Igreja. Quais são as diferenças com a Davos que se realiza na Suíça, visto que também serve para elaborar um horizonte comum do ponto de vista econômico e financeiro?
Considero que seja uma expressão infeliz, por muitas razões. Davos diz respeito aos poderosos na economia, EdF é sobre os jovens e, portanto, os não-poderosos; Davos não faz referência nem a São Francisco nem ao Evangelho, a EdF é toda centrada nessas duas dimensões; Davos diz respeito aos ricos, EdF especialmente os pobres. E eu poderia continuar mais.
Em Assis também estarão economistas e empreendedores e obviamente se olhará para um futuro comum que passa necessariamente pelas configurações dos sistemas financeiros mundiais. O que vocês irão propor nesse sentido, que visão prevalece entre os economistas católicos?
Não são apenas os economistas católicos que estão envolvidos na EdF: há pessoas de diferentes religiões e até alguns não crentes, embora a maioria seja católica. Mas os jovens de hoje não devem ficar engaiolados em visões confessionais, eles são livres e devem ser deixados assim. Haverá também reflexões e mensagens 'macro' sobre o sistema econômico como um todo, porque a EdF vem falando sobre isso há três anos. Vocês verão algumas surpresas agradáveis. Os economistas católicos estão geralmente preocupados com a falta de consciência da gravidade do nosso capitalismo e, portanto, continuam a lembrá-lo.
Quanto pesou o conflito ucraniano na situação econômica da Europa, onde a inflação parece estar quase fora de controle sem a intervenção do BCE?
Seria igualmente fora de controle mesmo com a intervenção do BCE, porque a inflação também vem dos custos (oferta) não só da demanda (consumidores), e quando a inflação depende dos custos, os bancos centrais pouco podem fazer, sabemos disso desde antes de Keynes. As taxas de juros podem ser aumentadas, mas os juros são custos adicionais para as empresas (e famílias), que aumentam por sua vez os preços. O conflito ucraniano foi mal gerido pela Europa, que não conseguiu, com a OTAN, fazer nada mais e melhor do que enviar armas e impor sanções que se voltam contra nós: um grave fracasso da política e da civilização ocidental. Vamos entender isso no futuro.
Na zona do euro, o espectro da estagflação é visto como ameaçador, pois o recente declínio do euro (cujo valor caiu abaixo do dólar neste verão pela primeira vez em vinte anos) implica que o aumento dos preços das importações vai alimentar a inflação. A questão será abordada em Assis?
É provável, mas não tanto pelo euro, mas pela grave crise dos custos da energia, que durará alguns anos, também porque não podemos continuar a depender tanto das fontes fósseis: precisamos de uma verdadeira transição, que não será a custo zero nem para os empregos nem para a inflação.
Na sua opinião, a implementação da transição ecológica é necessária, mesmo que isso leve à perda de empregos em vários setores (uma denúncia que foi feita várias vezes pela Confindustria)?
A perda de empregos já está acontecendo, mas não por causa da transição ecológica, mas por causa da tecnologia e das mudanças nas formas de produção. Uma verdadeira transição, não cosmética, faria aumentar os empregos, porque muito cuidado com o meio ambiente exige atividades de trabalho intensivo. O problema - e estamos vendo isso com o gás - é que a transição se anuncia, mas não se realiza: ela fez-nos compreender que as palavras sobre o abandono dos combustíveis fósseis eram sobretudo conversa fiada. Não é mais tempo de conversas fiadas, a casa está queimando já faz tempo.
Que mensagem o Papa poderia transmitir de Assis?
Todos o descobriremos: ele ama muito a profecia, espero um texto profético.
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Assis sede da anti-Davos, o Papa Francisco em 24 de setembro encerra a cúpula entre economistas, empreendedores e rede civil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU