26 Agosto 2022
"Aqueles que ganham com a guerra e o comércio de armas são criminosos que matam a humanidade".
A reportagem é de Luca Kocci, publicada por Il Manifesto, 25-08-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Advertência severa, ontem, do Papa Francisco contra a guerra, mas também contra aqueles que a alimentam e ganham dinheiro com ela, desde os fabricantes de armas até os bancos que apoiam o comércio de armamentos.
O apelo vem seis meses após o ataque da Rússia à Ucrânia (24 de fevereiro), como lembra o próprio pontífice, invocando "a paz para o amado povo ucraniano que sofre o horror da guerra" e pedindo "medidas concretas para evitar o risco de um desastre nuclear em Zaporizhzhia".
A condenação da guerra é total. "Tantos inocentes estão pagando pela loucura de todos os lados, porque a guerra é uma loucura", disse o papa, evocando a Pacem in Terris de João XXIII. E todos são vítimas disso: "Penso nas crianças, tantos mortos, tantos refugiados, tantos feridos, tantas crianças ucranianas e russas que se tornaram órfãs e a orfandade não têm nacionalidade". Entre as vítimas "inocentes" lembradas por Bergoglio, também Daria Dugina, filha do ultranacionalista Alexander Dugin, morta pela explosão de uma bomba em seu carro há poucos dias. "Penso naquela pobre jovem que morreu na explosão de uma bomba que estava debaixo do banco do carro em Moscou".
Palavras, as do papa, que despertaram a ira de Kiev. O embaixador ucraniano na Santa Sé, Andrii Yurash, considerou o discurso de Francisco "decepcionante". “Não podemos juntar agredidos e agressores, vítimas e algozes, estupradores e estuprados. Como é possível citar a ideóloga do imperialismo russo como vítima inocente? Ela foi morta pelos russos como vítima sacrificial e agora é um escudo de guerra”, tuitou Yurash. No entanto, no dia anterior, no Adnkronos, ele havia dito palavras diferentes, agradecendo ao papa por suas orações pela Ucrânia e reiterando sua expectativa por uma sua visita a Kiev: "Estamos esperando que o papa anuncie a data".
Evidentemente, bastou Bergoglio lembrar também as vítimas russas para mudar o tom do embaixador, como aliás já aconteceu no passado: basta pensar nas críticas à Santa Sé pela decisão de fazer carregar a cruz, durante a Via Sacra da Sexta-feira Santa no Coliseu, a duas mulheres, uma ucraniana e uma russa. Enquanto isso, fracassa o encontro entre o Papa Francisco e o patriarca ortodoxo russo Kirill, que deveria ter acontecido à margem do encontro mundial dos líderes religiosos no Cazaquistão (14-15 de setembro).
O Patriarcado de Moscou divulgou ontem à noite, através da agência Ria Novosti, que Kirill não irá ao Cazaquistão e "consequentemente" não se encontrará com o pontífice. "A entrevista não pode ocorrer à margem do encontro, mas deve se tornar um evento independente devido ao seu significado especial, deve ser preparado com o máximo cuidado, sua agenda deve ser acordada, o documento resultante deve ser pensado com antecedência”, explicou o Metropolita Antonij de Volokolamsk, "ministro das Relações Exteriores" do Patriarcado de Moscou.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O papa contra todos: “Criminoso é quem ganha com a guerra” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU