01 Agosto 2022
A nove anos do sequestro do jesuíta romano – do qual não se tem mais notícias desde 29 de julho de 2013 –, foi apresentado o livro de Francesca Peliti intitulado “Un deserto, una storia”.
A reportagem é de Roberta Pumpo, publicada em Roma Sette, 29-07-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em 29 de julho de 2013, o jesuíta Paolo Dall’Oglio foi sequestrado em Raqqa, no norte da Síria. Passaram-se nove anos, 3.651 dias, e não se teve mais nenhuma notícia do sacerdote romano, refundador da comunidade monástica católica síria de Deir Mar Musa. Mas o seu testemunho, a sua espiritualidade, os seus ensinamentos vivem e são levados adiante por quem o conheceu e ainda hoje põem em prática, com muitas dificuldades, um modelo de acolhida universal.
Às vésperas do aniversário do sequestro, a família e os amigos do sacerdote não organizaram um dia de comemoração, mas enfatizaram o modo como a sua ausência física não conseguiu calar a sua mensagem de paz e fraternidade. A ocasião foi a apresentação do livro “Paolo Dall’Oglio e la Comunità di Deir Mar Musa. Un deserto, una storia”, de Francesca Peliti, na quinta-feira, 28 de julho, na sala Walter Tobagi, da Federação Nacional da Imprensa Italiana (FNSI, na sigla em italiano).
Evento de apresentação do livro “Paolo Dall’Oglio e la Comunità di Deir Mar Musa. Un deserto, una storia”, em Roma
Foto: Roma Sette
Nascido em 1954, Pe. Paolo entrou na Companhia de Jesus em 1975. Em 1982, descobriu o Mosteiro de Mar Musa, a 80 quilômetros de Damasco, e em 1992 fundou ali uma comunidade espiritual consagrada ao diálogo inter-religioso. Um ativismo que lhe causou o ostracismo do governo sírio, até que, em 12 de junho de 2012, teve que abandonar a Síria após um decreto de expulsão do regime. Ele retornou à Síria no ano seguinte, pouco antes do seu sequestro.
A comunidade monástica por ele iniciada “continua produzindo frutos, ainda é vital e continua se doando para promover o diálogo, estabelecer relações fraternas e de reconciliação”, disse o Pe. Federico Lombardi, presidente da Fundação Vaticana Joseph Ratzinger-Bento XVI.
Hoje a comunidade de Deir Mar Musa conta com oito monges, um noviço, dois postulantes e alguns leigos. Para Lombardi, coirmão do Pe. Dall’Oglio, “nos últimos anos, entendeu-se ainda melhor a importância e a necessidade do encontro entre cristianismo e Islã graças ao dom de amor deixado por Paolo”.
Relação, liberdade, hospitalidade, memória e paridade nas diferenças: essas são as cinco “peculiaridades” do Pe. Paolo indicadas pela sua irmã, Immacolata Dall’Oglio. “Ele era um apaixonado crente – disse –, pôs corajosamente à escuta da Palavra de Deus e se pôs corajosamente a caminho, tendo também ma visão profética do que estava prestes a ocorrer na Síria.”
Os outros irmãos, Francesca e Giovanni Dall’Oglio, no dia 5 de julho passado, escreveram às instituições pedindo ao Parlamento que criasse uma comissão de inquérito para investigar o que ocorreu com seu irmão. “Esperamos que a investigação possa começar com a nova legislatura”, disse Francesca, reivindicando “verdade e justiça”, e confirmando a sua “confiança nas instituições”. Depois, destacou a “semente” plantada em Mar Musa, que encontrou um terreno fértil, tornando-se “uma experiência única de diálogo, integração e convivência pacífica”, como definiu Cenap Aydin, diretor do Istituto Tevere – Centro pro Dialogo, amigo do Pe. Dall’Oglio, com quem, em dezembro de 2012, ele fez uma peregrinação ao túmulo do poeta místico persa Rumi.
No livro apresentado na quinta-feira, cuja renda será doada à comunidade monástica, estão reunidos os testemunhos de monges, freiras e leigos que entraram em contato com Mar Musa, além de 12 cartas enviadas pelo Pe. Paolo aos amigos entre 1985 e 1995.
“Em Mar Musa, a porta está sempre aberta, e é preciso pouco para se apaixonar por aquele lugar”, disse a autora Francesca Peliti, que anos atrás, acompanhada pelo Pe. Dall’Oglio, visitou e foi hóspede do mosteiro.
Riccardo Cristiano, jornalista e fundador da Associação “Jornalistas Amigos do Padre Dall’Oglio”, recordou a missa organizada para a tarde do dia 29 de julho, às 18h30, na Igreja de Santo Inácio, “pelo Padre Paolo e por todos os sequestrados engolidos na escuridão síria”.
Entre as falas, também foi possível acompanhar a de Giuseppe Giulietti, presidente da FNSI, que lembrou o jornalista Amedeo Ricucci, falecido no dia 11 de julho e autor de alguns especiais sobre o Pe. Dall’Oglio.
Lucia Goracci, jornalista da Rai, sublinhou que “com enorme dificuldade continuamos procurando Paolo Dall’Oglio”, enquanto o porta-voz da Comunidade de Santo Egidio, Roberto Zuccolini, lembrou os sírios que chegaram com os corredores humanitários graças ao interesse do Pe. Jacques Murad, monge coirmão de Dall’Oglio, que em 2015 foi mantido prisioneiro pelos jihadistas durante cinco meses.
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Paolo Dall’Oglio e a semente do diálogo plantada no coração da Síria - Instituto Humanitas Unisinos - IHU