03 Julho 2020
Sete anos após o sequestro do padre jesuíta Paolo Dall’Oglio, em Raqqa, na Síria, foi lançado “Ayouni, My Eyes, My Love”, um filme dedicado ao religioso, mas também às outras milhares de pessoas que desapareceram no país do Oriente Médio.
A reportagem é de Asmae Dachan, publicada em Avvenire, 02-07-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Filmar ‘Ayouni’ partiu meu coração, mas depois me deu esperança”, diz a jovem e multipremiada diretora síria Yasmin Fedda. “Ayouni” é um termo árabe que literalmente significa “os meus olhos”, mas, na linguagem dos afetos, é usado para dizer “meu amor” ou “meu tesouro”.
As vozes protagonistas do filme são as de duas mulheres divididas entre amor e expectativa: Machi Dall’Oglio, irmã do Pe. Paolo, e Noura Ghazi Safadi, advogada, ativista pelos direitos humanos e esposa de Bassel Safadi.
As duas mulheres contam a história dos seus entes queridos, que desapareceram à força na Síria, e do limbo que se vive sem ter nenhum tipo de informação sobre o seu destino, quando só resta se apegar à esperança.
Segundo várias fontes, são mais de 100 mil as pessoas desaparecidas na Síria, após uma prisão ou um sequestro pelas mãos das forças do governo, dos terroristas do Daesh e de várias formações rebeldes.
“O filme quer dar um rosto a esses números, quer dar uma voz ao silêncio e tornar bem visível aquilo que é invisível”, conta Yasmin Fedda. “O filme é dedicado a Paolo Dall’Oglio, à sua comunidade monástica comprometida com o diálogo inter-religioso e ao envolvimento do jesuíta na revolução síria, com os seus apelos à comunidade internacional para que ela se comprometesse a proteger os direitos humanos.”
A diretora se encontrou várias vezes com o Pe. Paolo quando ele estava na Síria, para reencontrá-lo em Paris em 2013, depois que ele havia sido expulso pelo governo de Damasco. Naquela ocasião, ela o entrevistara sobre a situação no país do Oriente Médio e sobre as suas posições.
Dois meses após o seu encontro, o Pe. Paolo decidiu voltar para a Síria e ir a Raqqa, para tentar uma difícil mediação, mas desapareceu forçosamente. “Emoções contrastantes me envolveram. Eu não sabia o que havia acontecido com ele. Fui ao Iraque, Turquia, Jordânia, Líbano e Itália para entrevistar pessoas que conheceram o Pe. Paolo.”
Durante essa sua peregrinação, Yasmin Fedda se encontrou com famílias de outras pessoas desaparecidas na Síria, incluindo a advogada Noura Ghazi Safadi, esposa de Bassel, um cientista da computação ativo na documentação dos protestos e das violências em Damasco e Deraa, que foi preso em 2012 pelas forças da ordem e depois desapareceu desde 2015.
“Tanto o Pe. Paolo quanto Bassel – afirma Fedda – lutavam pela liberdade de expressão e de consciência e pelos direitos humanos de todos. Eu conheço o Pe. Paolo há cerca de uma década e também conheci Bassel e a sua comunidade. Esse filme nos apresenta esses dois homens através das suas próprias palavras. As suas histórias são contadas por Noura e Machi, através do seu amor, das suas esperanças, do seu compromisso para que as suas histórias não desapareçam.”
O filme, concorrendo no Festival CPH:DOX Dokumentarfilm 2020 [Festival Internacional de Documentários de Copenhagen], está disponível desde essa quinta-feira, 1º de julho, no site www.ayounifilm.com e em outras plataformas.
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“Ayouni”: olhos e corações voltados ao Pe. Paolo Dall’Oglio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU