29 Julho 2022
“Fica claro por meio de palavras e ações que o cuidado com a criação é uma prioridade do Vaticano e do líder da Igreja Católica. No entanto, os bispos dos EUA continuam dando a entender que perderam o recado”, manifesta em editorial o National Catholic Reporter, 28-07-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Menos de uma semana depois de as fotos do Telescópio Espacial James Webb fazerem nossos olhos brilharem com as cores cintilantes do universo, nós fomos confrontados com a dura e quente realidade que enfrentamos aqui no planeta Terra – terra seca e rachada, fumaça preta ondulante e chamas vermelhas destruidoras. Fotos muito menos brilhantes para nossos olhos do perigo e da devastação causada por uma temperatura extrema foram postadas em páginas de jornais de todo o mundo, reportando a quebra de recordes das ondas de calor e queimadas.
Em alguns lugares da Europa a temperatura ultrapassou os 40° C, enquanto áreas dos Estados Unidos chegaram a 46° C. Mais de mil mortes na península ibérica foram atribuídas ao calor e ao fogo. Embora a duração desse clima severo tenha sido curta, os efeitos não foram menos que mortais.
Enquanto isso, uma seca de quatro estações continua a ameaçar a fome em áreas da África. Décadas de extração de madeira e mineração na região amazônica contribuem para a perda de habitats de vida selvagem e terras indígenas, bem como o aumento da violência que não é controlada pelas autoridades e os efeitos adversos à saúde dos seres humanos expostos a grandes quantidades de toxinas das práticas ilegais. E a invasão da Ucrânia pela Rússia há mais de cinco meses ainda está sendo alimentada financeiramente pela incapacidade do mundo de se comprometer com a diminuição da dependência de carvão, petróleo e gás.
Mesmo antes do calor escaldante de julho, o planeta Terra estava passando por uma emergência climática.
Em uma mensagem de 21 de julho do Papa Francisco para o Tempo da Criação de 2022, ele disse que o planeta está chegando a “um ponto de ruptura” e instou “todos nós a agirmos decisivamente”.
O Vaticano continua fazendo exatamente isso, anunciou em 8 de julho que agora é parte formal da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas e pretende aderir formalmente ao Acordo de Paris de 2015. Em 19 de julho, anunciou uma nova política de investimento para todos os escritórios do Vaticano que desencorajava "investimentos especulativos" nas indústrias de petróleo e mineração e incentivava o investimento em empresas que trabalham para proteger o meio ambiente e promover o uso de energia limpa.
Francisco pediu às nações que colaborem na busca da justiça ecológica em duas próximas conferências da ONU – COP27 sobre mudanças climáticas e COP15 sobre biodiversidade. E um alto funcionário do Vaticano expressou apoio à proposta de um Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis.
Fica claro por meio de palavras e ações que o cuidado com a criação é uma prioridade do Vaticano e do líder da Igreja Católica. No entanto, os bispos dos EUA continuam dando a entender que perderam o recado.
Os bispos da África Oriental passaram de 10 a 18 de julho discutindo o “impacto ambiental no desenvolvimento humano integral” em sua região e elaborando planos para educar e encorajar as pessoas sobre o cuidado com o meio ambiente. Dom Roberto González Nieves, arcebispo de San Juan, Porto Rico, emitiu uma carta pastoral de 56 páginas em 15 de julho pedindo ações para proteger os recursos naturais de Porto Rico e estimular a transição para fontes de energia limpa. E os bispos do Brasil apoiaram uma campanha para incentivar os católicos a votar em candidatos políticos comprometidos com a proteção ambiental.
Já passou da hora de os bispos dos EUA concederem esse nível de prioridade moral, financeira e política a uma questão que o papa repetidamente chamou de “essencial” para uma vida cristã de virtude. Em pouco tempo, nem poderemos ouvir os grilos idiomáticos cantando, porque o calor excessivo e os pesticidas mal regulamentados os estão levando à extinção.
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O Vaticano age contra a mudança climática, mas os bispos dos EUA perdem tempo. Editorial do National Catholic Reporter - Instituto Humanitas Unisinos - IHU