28 Julho 2022
O cientista britânico definiu a Terra como uma comunidade autorregulada de organismos que interagem entre si e com o ambiente. Pioneiro do ambientalismo, era a favor da energia nuclear.
A reportagem é publicada por La Repubblica, 27-07-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Morreu ontem, no seu 103º aniversário, o cientista James Lovelock, conhecido por ter desenvolvido a teoria de "Gaia", segundo a qual a vida na Terra é uma comunidade autorregulada de organismos que interagem entre si e com o meio ambiente. Lovelock, um dos mais respeitados cientistas independentes do Reino Unido, estava bem de saúde até seis meses atrás, quando sofreu uma queda.
Considerado uma espécie de inconformista, a partir de meados dos anos 1960 começou a fazer previsões em seu laboratório pessoal e sempre continuou a trabalhar até idade avançada: há dois anos declarou que a biosfera está reduzida ao último 1% de sua vitalidade.
A família informou que ele faleceu devido a complicações após uma queda, mas que até seis meses atrás ainda estava em condições de caminhar ao longo da costa perto de sua casa em Dorset e conceder entrevistas. "Para o mundo ele era conhecido sobretudo como um pioneiro da ciência - é a declaração oficial -, um profeta do clima e criador da teoria de Gaia. Para nós ele era um marido carinhoso e um pai maravilhoso, com um senso de curiosidade sem limites, um senso de humor travesso e paixão pela natureza".
De acordo com Jonathan Watts, editor ambiental do The Guardian, que conhecia Lovelock e estava trabalhando em uma biografia sobre ele, Lovelock era "um homem que ajudou a moldar muitos dos eventos científicos mais importantes do século XX - a busca da vida em Marte feita pela NASA, a crescente conscientização sobre os riscos climáticos representados pelos combustíveis fósseis, o debate sobre as substâncias químicas prejudiciais ao ozônio na estratosfera e os perigos da poluição industrial - bem como seu trabalho para os serviços secretos britânicos".
Lovelock foi um dos primeiros cientistas a soar o alarme para o meio ambiente e nos últimos anos ele havia se tornado pessimista quanto à possibilidade de evitar alguns dos piores impactos da crise climática. Ainda de acordo com The Guardian "Sua teoria de Gaia, concebida com a consultora do Pentágono Dian Hitchcock e aperfeiçoada em colaboração com a bióloga estadunidense Lynn Margulis, lançou as bases da ciência do sistema terrestre e uma nova compreensão da interação entre vida, nuvens, rochas e atmosfera".
Quando ele propôs sua teoria de Gaia pela primeira vez, muitos o acusaram de espalhar "bobagens nova era", mas hoje sua hipótese sustenta grande parte da ciência climática. Lovelock também era criticado por ser um defensor do uso da energia nuclear. Entre suas contribuições para a ciência também está a invenção de um dispositivo que detecta os CFCs, prejudiciais à camada de ozônio.
Em 2011, havia declarado que não queria se aposentar porque estava muito preocupado com a crise climática: "A principal razão pela qual não desfruto de uma aposentadoria feliz – são suas palavras - é que, como a maioria de vocês, estou profundamente preocupado com a probabilidade de uma mudança climática massivamente prejudicial e a necessidade de fazer algo a respeito logo".
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James Lovelock, pai da teoria de “Gaia”, morre aos 103 anos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU