Curdistão: “Somos reféns da guerra de Erdogan contra o PKK”, afirma Pe. Samir

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26 Julho 2022

 

Após o massacre de Zakho, que custou a vida de nove turistas, o testemunho de um pároco que vive nas montanhas da região onde ocorreram os ataques. “Toda semana, há pessoas que morrem devido a esses bombardeios. Eu também corri o risco de ser atingido. Ancara deve ser detida”.

 

A reportagem é de Giorgio Bernardelli, publicada em AsiaNews, 25-07-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

 

Erdogan tenta fazer a paz entre a Ucrânia e a Rússia e depois bombardeia o nosso povo aqui no Iraque…” Do Curdistão iraquiano, o Pe. Samir Youssef, pároco de Enishke na Diocese de Amadiya, traz um relato amargo. É um amigo da AsiaNews, que há anos apoiamos devido àquilo que a sua continua fazendo pelos refugiados cristãos que fugiram de Mossul há oito anos sob a ameaça do ISIS e que ainda vivem em grande número nessas montanhas.

 

Curdistão (Foto: CIA | Wikimedia Commons)

 

Mas a sua paróquia também está muito perto da fronteira entre a Turquia e o Iraque, onde a nova ofensiva da guerra de Erdogan contra as milícias curdas do PKK vem ocorrendo há meses, e a apenas uma hora de carro de Zakho, palco na quarta-feira passada do massacre de turistas no parque de um resort, que provocou nove mortes, incluindo a de três meninas, uma das quais tinha apenas 11 meses.

 

“São regiões muito bonitas, há rios e cascatas nessas montanhas”, conta o Pe. Samir. “Durante a pandemia, o turismo havia ficado impedido, mas a situação mudou há alguns meses. Especialmente nos últimos dias, com a festa do Eid, chegaram milhares de pessoas, especialmente iraquianos que vieram do sul, de Bagdá e Basra, para fugir do calor que aqui também está particularmente intenso nas últimas semanas. E também do exterior: árabes do Golfo. Agora nove delas voltaram como cadáveres para casa, e não resta mais ninguém.”

 

A região do massacre nunca havia sido atingida antes. “Nos vídeos divulgados – continua o Pe. Samir – é possível ouvir turistas que, ao verem a fumaça vindo das montanhas, perguntam se é seguro ficar ali, e os guias respondem que o perigo é apenas mais no alto, como sempre. Imediatamente depois, porém, chegaram os disparos de artilharia justamente a partir daquele ponto.”

 

As autoridades iraquianas falam de projéteis de 155 mm disparados pelo exército turco, Ancara nega. O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu uma “investigação completa”. Mas, enquanto isso, nas montanhas acima de Zakho, nos últimos dois dias, os tiroteios continuaram, apesar das vítimas civis.

 

“Os turcos bombardeiam por toda a parte nas nossas montanhas”, comenta o sacerdote caldeu. “Todas as semanas temos duas, três, dez pessoas que morrem: também ocorreu no nosso distrito de Amadiya. As milícias do PKK se movem nessas montanhas com os seus carros sem placas, descem aos vilarejos para estocarem comida. E, para atingi-los, os turcos não se importam com a presença de civis. Uma vez, eu estava voltando depois de celebrar a missa em um vilarejo, e alguns milicianos do PKK pararam o meu carro armados. Eles me forçaram a levá-los para comprar comida. Durante aqueles 10 minutos de viagem, eu rezei 40 ou 50 Ave-Marias: as minhas pernas tremiam, porque no céu sempre há aviões e drones turcos voando para procurá-los. Se eles tivessem nos identificado, certamente teriam nos bombardeado. Outra vez, eles foram atingidos em um posto de gasolina por onde eu tinha acabado de passar: quando eu voltei, já não tinha nem a estrada.”

 

A fraqueza das instituições iraquianas – agravada hoje pela luta de poder interna aos xiitas entre o movimento de Moqtada al-Sadr e os pró-iranianos do ex-primeiro-ministro Nouri al-Maliki – certamente não ajuda a enfrentar o problema. “Hoje, todos no Iraque estão condenando a Turquia pelo ataque”, diz o Pe. Samir. “Mas o que foi feito até agora? Na época de Saddam, Ancara não podia fazer nada aqui. Depois, em 1991, veio a segunda Guerra do Golfo, com os Estados Unidos que, em troca da possibilidade de utilizar a base aérea de Incirlik, permitiram que o exército turco entrasse no Curdistão com bases próprias. O resultado é a situação de hoje. Além disso, com os problemas na gestão da água: a Turquia construiu quatro barragens enormes que estão secando o Tigre e o Eufrates. Obviamente, não estou dizendo que sentimos falta de Saddam”, esclarece o sacerdote iraquiano, “mas Ancara deve ser detida.”

 

Apesar das mil dificuldades, a atividade da paróquia de Enishke seguem em frente mesmo assim: “Ainda temos muitos problemas com a eletricidade que vem e vai”, explica o Pe. Samir. “E aqui também sentimos as consequências da guerra na Ucrânia: os preços dispararam. Distribuímos as ajudas que conseguimos comprar graças à assinatura da AsiaNews. Nas últimas semanas, além disso, estamos realizando um acampamento de verão com os jovens e os catequistas no nosso centro de pastoral. Um sinal de esperança para o futuro.”

 

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