15 Julho 2022
"A questão dos População em Situação de Rua - como nos lembrou Pe. Júlio Lancelotti (da Pastoral de Rua de São Paulo - SP) em sua comunicação virtual - não é meramente pessoal, mas sobretudo estrutural. Vivemos numa sociedade estruturalmente injusta e desigual. O sistema econômico capitalista neoliberal é iniquo: não só explora, mas descarta os trabalhadores e trabalhadoras, sobretudo os mais pobres, como se fossem lixo", escreve Marcos Sassatelli, frade dominicano, doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP) e professor aposentado de Filosofia da UFG.
A Equipe de Coordenação do Movimento Nacional da População em Situação de Rua de Goiás (MNPR-GO), animada por Eduardo de Matos, ex-morador de Rua - com o apoio de Movimentos Sociais Populares, Organizações de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos e da Irmã Mãe Terra Nossa Casa Comum, e também do Ministério Público de Goiás - promoveu o “Festival da Cultura e Inclusão da População em Situação de Rua” (6 e 7 deste mês de julho: Rua do Lazer - Centro - Goiânia - GO) e o VI Seminário Povos de Rua: resistência, arte, liberdade e cuidados - a construção da cidadania com os Povos de Rua (dia 8 deste mesmo mês: Auditório do MPGO - Goiânia - GO).
(Foto: Reprodução)
No Seminário foram debatidos e aprofundados diversos temas, como: o Direito de ser cuidado nos espaços de Rua; os Direitos dos usuários de drogas que vivem na Rua; População em Situação de Rua, Movimentos Sociais Populares, Direitos Humanos, Estado e Políticas Públicas; Garantindo Cuidados e Defendendo a Vida nos Espaços da Cidade.
O Seminário - por sinal muito bem organizado - renovou a esperança dos nossos Irmãos e Irmãs que moram em Situação de Rua presentes e de todos nós - seus Apoiadores e Apoiadoras - que também participamos.
(Foto: Reprodução)
A questão dos População em Situação de Rua - como nos lembrou Pe. Júlio Lancelotti (da Pastoral de Rua de São Paulo - SP) em sua comunicação virtual - não é meramente pessoal, mas sobretudo estrutural. Vivemos numa sociedade estruturalmente injusta e desigual. O sistema econômico capitalista neoliberal é iniquo: não só explora, mas descarta os trabalhadores e trabalhadoras, sobretudo os mais pobres, como se fossem lixo.
Segundo Relatório da ONU, lançado no dia 6 deste mês de julho, “o total de pessoas afetadas pela fome em todo o mundo aumentou em 150 milhões desde o início da pandemia da Covid-19, alcançando 828 milhões, em 2021” (O Popular, 07/07/22, p. 9). No Brasil, temos atualmente 33,1 milhões de pessoas passando fome. Que perversidade humana!
Precisamos - unidos/as e organizados/as - lutar para mudar esse sistema, construindo uma nova sociedade, um Mundo Novo de Irmãos e Irmãs, Filhos e Filhas do mesmo Pai-Mãe que é Deus.
“Hoje - diz o papa Francisco - ao fenômeno da exploração e da opressão, soma-se uma nova dimensão, um matiz gráfico e duro da injustiça social; os que não podem ser integrados, os excluídos são resíduos, ‘sobrantes’. Essa é a cultura do descarte (...). Isso acontece quando, no centro de um sistema econômico, está o deus dinheiro e não o ser humano, a pessoa humana. Sim, no centro de todo sistema social ou econômico, tem que estar a pessoa, imagem de Deus, criada para dar o nome às coisas do universo. Quando a pessoa é deslocada e vem o deus dinheiro, acontece essa inversão de valores” (1º Encontro Mundial de Movimentos Populares - EMMP, 27-29/10/14, Roma, Itália).
E ainda: “Pergunto-me se somos capazes de reconhecer que estas realidades destrutivas correspondem a um sistema que se tornou global. Reconhecemos que este sistema impôs a lógica do lucro a todo o custo, sem pensar na exclusão social nem na destruição da natureza? Se é assim - insisto - digamo-lo sem medo: queremos uma mudança, uma mudança real, uma mudança de estruturas. Este sistema é insuportável: não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as Comunidades, não o suportam os Povos. E nem sequer o suporta a Terra, a Irmã Mãe Terra, como dizia São Francisco” (2º Encontro Mundial de Movimentos Populares - EMMP, 07-09/07/15, Santa Cruz de la Sierra, Bolívia).
Durante o Seminário, num intervalo, os Moradores em Situação de Rua e seus Apoiadores/as, fizeram uma fila com as mãos nos ombros e - parafraseando o canto-refrão “o Povo unido jamais será vencido” -cantaram com toda força “a Rua unida jamais será vencida”. O canto-refrão nos emocionou a todos e todas. É verdade! O Povo, em primeiro lugar, é a “Rua”, “o Povo na Rua e da Rua”!
Esse canto-refrão “a Rua unida jamais será vencida” suscitou em mim - como um forte apelo - o desejo de dar uma sugestão: vamos promover anualmente - com esse canto-refrão como lema - uma grande mobilização no Brasil inteiro (em todos os Estados), coordenada pelo Movimento Nacional da População em Situação de Rua (MNPR), com o apoio e a solidariedade dos Movimentos Sociais Populares, sobretudo dos Movimentos pelo Direito à Moradia - que defendem as Ocupações - como o Movimento de Trabalhadores/as por Direitos - MTD, Movimento de Trabalhadores/as Sem Teto - MTST, Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas - MLB.
Vocês - Irmãos e Irmãs, Moradores e Moradoras em Situação de Rua que, apesar de todas as adversidades, ainda acreditam na Vida e lutam para mudar a realidade e exigir seus Direitos - são para nós verdadeiros heróis e heroínas. Estamos com vocês! Unidos e unidas na luta! A vitória é nossa!
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A Rua unida jamais será vencida! Artigo de Marcos Sassatelli - Instituto Humanitas Unisinos - IHU