Curso on-line mostra que sinodalidade é sobre uma Igreja que rompe com os velhos e maus hábitos. Artigo de Massimo Faggioli

(Foto: Reprodução | Pontifícias Obras Missionárias)

12 Julho 2022

 

“Em diferentes períodos históricos, a cultura de tomada de decisão na Igreja foi influenciada por novas mídias e tecnologias: A imprensa mudando a abordagem dos textos sagrados e autoridade religiosa entre a Reforma e o Concílio de Trento; panfletos políticos antiliberais e periódicos opinativos na construção do ultramontanismo papista que levou ao Concílio Vaticano I; os meios de comunicação de massa, e especialmente a televisão, no Concílio Vaticano II. Portanto, não é surpresa que no século XXI a internet esteja desempenhando um papel na formação de uma conversa católica global sobre a sinodalidade”, comenta o historiador italiano Massimo Faggioli, professor da Villanova University, Filadélfia, EUA, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 11-07-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

 

Eis o artigo.

 

Embora não seja um conceito novo na história da Igreja, sinodalidade é um termo novo para a maioria dos católicos, até mesmo para aqueles que tem papeis importantes na Igreja Católica. Mas a ajuda está a caminho.

 

Recentemente, começou um curso online sobre a sinodalidade: liderado por Rafael Luciani, um jurista venezuelano e professor das universidades católicas Andrés Bello, em Caracas, e Boston College. O título do curso é “Discernimento comum e tomada de decisão em uma Igreja sinodal”, e está hospedado nos servidores do Boston College.

 

Diferentes especialistas – leigos e clérigos, homens e mulheres – estão oferecendo uma nova série de vídeos sobre diferentes tópicos ao longo de três semanas.

 

A semana 1 oferece alguns critérios que ajudarão a avaliar e aprofundar a teologia e a prática do discernimento comunitário e a construção do consenso eclesial. A semana 2 concentra-se na tomada de decisões na Igreja — um dos grandes desafios para um novo modelo institucional. A semana 3 oferece reflexões sobre liderança e governança na Igreja, e quantas das mudanças na igreja no terceiro milênio dependem disso.

 

Todas as palestras são totalmente gratuitas e serão oferecidas em vários idiomas: espanhol, inglês, português, francês e italiano. As pessoas podem seguir o curso em seu próprio ritmo e assistir aos vídeos quando lhes convier.

 

O curso é patrocinado por diversas entidades eclesiásticas, incluindo o Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho, o Conselho das Conferências Episcopais da Europa, a Federação das Conferências Episcopais Asiáticas, a União Internacional das Superioras Gerais, a União dos Superiores Gerais, a Confederação de Religiosos da América Latina, a União das Conferências Europeias de Supérieurs/es Majeurs/es e a Conferência dos Provinciais Jesuítas da América Latina e do Caribe.

 

A sinodalidade já trouxe para este projeto uma cooperação global entre conferências episcopais, ordens religiosas e especialistas.

 

Luciani é membro da comissão teológica da Secretaria Geral do Sínodo do Vaticano e é conhecido como um dos melhores intérpretes da “teologia do povo” do Papa Francisco. Ultimamente, ele se tornou um dos especialistas em sinodalidade e não apenas com seus livros e outras publicações.

 

Há uma maneira sinodal específica pela qual Luciani ofereceu sua experiência à Igreja global: reunindo um grupo de especialistas de muitos países diferentes, neste curso, bem como em um importante livro recente publicado em italiano, espanhol e em breve também em inglês .

 

A América Latina tem destaque no curso online intercontinental, devido à profunda experiência das Igrejas do continente com reuniões sinodais desde o Vaticano II, mas este curso não é uma tentativa de impor à Igreja global um modelo latino-americano. Pelo contrário, é a tentativa de usar diferentes modelos sinodais já existentes em diferentes partes do mundo para criar um espírito sinodal de unidade eclesial em uma possível diversidade de procedimentos sinodais.

 

Uma das características mais interessantes deste projeto é a diversidade cultural presente no curso e o desafio implícito de viver a sinodalidade em diferentes contextos culturais e eclesiais. Não é apenas nos EUA ou no Ocidente que os católicos devem lidar com culturas altamente hierárquicas.

 

Francisco abriu o Sínodo sobre a Sinodalidade no ano passado e culminará em outubro de 2023, quando centenas de bispos se reunirão por três semanas em Roma para discutir o assunto. O tempo entre agora e o evento em Roma é decisivo. A sinodalidade já está mudando as maneiras pelas quais muitos estão experimentando ser igreja.

 

O “Caminho Sinodal” alemão ofereceu algumas propostas ousadas para uma mudança substancial na vida institucional da Igreja, especialmente no que diz respeito ao ministério e ao papel das mulheres. A segunda assembleia do Concílio Plenário na Austrália está em andamento. Em outros países, os processos sinodais estão prestes a começar.

 

Onde os processos nacionais de consultas sinodais já produziram resultados e os relatórios nacionais foram publicados, os leigos continuamente pedem mais co-responsabilidade e tomada de decisão conjunta na Igreja. Os exemplos são abundantes na França, na Espanha, na Inglaterra e no País de Gales e na Índia.

 

Em diferentes períodos históricos, a cultura de tomada de decisão na Igreja foi influenciada por novas mídias e tecnologias: A imprensa mudando a abordagem dos textos sagrados e autoridade religiosa entre a Reforma e o Concílio de Trento; panfletos políticos antiliberais e periódicos opinativos na construção do ultramontanismo papalista que levou ao Concílio Vaticano I; os meios de comunicação de massa, e especialmente a televisão, no Concílio Vaticano II.

 

Portanto, não é surpresa que no século XXI a internet esteja desempenhando um papel na formação de uma conversa católica global sobre a sinodalidade. Das vozes católicas na web não há apenas vitríolo e ódio.

 

O que é surpreendente, no sentido de encorajador, é que este curso está fazendo com que especialistas em diferentes disciplinas acadêmicas e diferentes membros da Igreja se encontrem, em um espírito de aprendizado comum – prática da teoria e teoria da prática. A sinodalidade também significa quebrar velhos e maus hábitos de autorreferencialidade em diferentes tipos de clericalismo.

 

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