06 Julho 2022
Sem mudar nossos corações, nós humanos continuaremos a poluir e destruir os oceanos, afirmam os ambientalistas católicos.
A reportagem é publicada por UCA News, 04-07-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Nenhuma solução inovadora será suficiente para acabar com a poluição e proteger a vida marinha dos desastres causados pelos humanos se não for desenvolvida um “novo relacionamento” com o oceano, afirmam ambientalistas católicos.
“Se eu não sentir aqui, no coração, isso não importará muito, como qualquer coisa do nosso bolso. Nós não iremos mudar”, disse o jesuíta Pedro Walpole, coordenador global da Ecojesuit, uma rede global de ecologia dos jesuítas e seus parceiros.
“A mudança, como nós costumamos escutar dos jovens hoje, precisa ser já, não daqui 30 anos. Nós precisamos de mudança já”, disse o padre e pesquisador do centro filipino de Ciências Ambientais para a Mudança Social (ESSC, na sigla em inglês).
O jesuíta falou durante um evento paralelo da Conferência dos Oceanos, promovido pela ONU, em Lisboa, Portugal.
A Conferência da ONU intitulada “Salve nosso oceano, proteja nosso futuro” foi realizada de 27 de junho a 1º de julho, focando em soluções científicas e inovadoras para proteger os oceanos.
Enquanto ocorria o evento maior, a Igreja promoveu o debate paralelo, intitulado “Oceania Talanoa: Fé, indígenas e Moanas moldando e salvaguardando as inovações do mar”, em 28 de junho, e transmitido pela internet.
O padre Walpole explicou que a saúde dos oceanos é fundamental para a saúde de todas as espécies, especialmente dos humanos, portanto, todos devem cuidar dela.
Referindo-se aos dados da ONU, o padre disse que os oceanos geram 50% do oxigênio que respiramos e absorvem 25% de todas as emissões de dióxido de carbono. Quase 2,4 bilhões de pessoas vivem a 96 quilômetros da costa.
Relatórios de pesquisas sugerem que os oceanos estão sofrendo devido à poluição, enquanto o aquecimento global induzido pelas mudanças climáticas está causando o aumento do nível do mar. Os conservacionistas estimam que os humanos despejam cerca de 8 milhões de toneladas de plástico no oceano todos os anos, o que sufoca os recifes de coral e põe em perigo as milhares de espécies que compõem esse ecossistema.
“Precisamos de novos relacionamentos, mas a menos que os consumidores se conectem com essa realidade, estamos afundados”, disse o padre Walpole.
Dom Peter Loy Chong, da Arquidiocese de Suva, Fiji, alertou os participantes sobre a urgência de compreender uma “conversão ecológica”.
Em sua encíclica Laudato Si', o Papa Francisco convida todos a passar por uma “'conversão ecológica', pela qual os efeitos de seu encontro com Jesus Cristo se tornam evidentes em sua relação com o mundo ao seu redor”, observou o prelado.
Dom Chong, presidente da Federação das Conferências Episcopais Católicas da Oceania, disse: “Qual é a linguagem que atinge o coração das pessoas e o coração traz mudanças? Porque a mudança começa com o coração. Se existe uma linguagem que pode atingir o coração, então você pode ver a mudança que vai subir à sua mente”.
O evento também contou com testemunhos emocionais de pessoas cujas vidas foram moldadas pelos oceanos.
Theresa Ardler, pesquisadora do centro de pesquisa de Relações Indígenas na Universidade Católica Australiana, disse que cresceu em uma comunidade de pescadores aborígenes.
“Na verdade, é muito bonito ainda ter essa forte conexão com o oceano, e estou muito orgulhosa. Está muito no meu coração”, disse ela.
Pelenatita Kara, gerente do Programa do Fórum da Sociedade Civil de Tonga, descreveu como é ter um relacionamento pessoal com a criação de Deus.
Ela disse que o oceano é a última coisa que ouve antes de dormir e a primeira coisa que ouve pela manhã.
“Sabemos quando está mal-humorado. Perto da temporada de ciclones, você pode ouvir o mar agitado”, disse ela.
Tevita Naikasowalu, coordenador de Justiça, Paz e Integridade da Criação da Sociedade Missionária Columbana em Fiji, comparou o oceano a uma mãe cuidando de seus filhos.
“Tudo o que precisamos é do oceano”, disse ele. “Ele pode realmente falar com você se você aprender a ouvir.”
A irmã Robyn Reynolds, professora na Yarra Theological Union na Austrália, citou Gênesis 1, 2: “A terra estava sem forma e vazia; as trevas cobriam o abismo e um vento impetuoso soprava sobre as águas”.
“Gosto apenas de lembrar disso e pensar que, em cooperação com o espírito divino que respira sobre as águas, essa é nossa tarefa, nosso privilégio, nossa oportunidade”, disse a irmã.
“Não só de forma contemplativa, para respirar sobre as águas; mas de maneira prática e diária, para encontrar maneiras com nossas famílias, nossas comunidades, nossas igrejas, para trazer uma nova vida aos nossos oceanos”.
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Ativistas católicos dizem que é urgente que os humanos desenvolvam um “novo relacionamento” com os oceanos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU