10 Junho 2022
As autoridades vaticanas recusam dizer por que a Santa Sé impediu uma diocese do sul da França de ordenar padres e diáconos no final deste mês.
A reportagem é de Loup Besmond de Senneville, publicada por La Croix International, 09-06-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
“Sem comentários”. Essa é a resposta que as autoridades da Cúria Romana dão quando perguntam por que o Vaticano recentemente proibiu dom Dominique Rey, da Diocese de Fréjus-Toulon, no sul da França, de ordenar quatro padres e seis diáconos na cerimônia que estava planejada para 26 de junho.
A decisão foi dada pelo cardeal Marc Ouellet, prefeito do Dicastério para os Bispos, mas ninguém em Roma conversará sobre isso para registros.
As autoridades vaticanas preferem não falar publicamente sobre medidas disciplinares ou movimentos pessoais inesperados.
Assim foi no caso da renúncia forçada do arcebispo Michel Aupetit, de Paris, no último mês de dezembro e também, meses antes, na abrupta intervenção do Vaticano em uma comunidade de dominicanos tradicionalistas no norte da França. Uma explicação oficial e clara não foi dada nesses dois incidentes.
Longe de estar ligado a casos particulares, a decisão do Vaticano de permanecer em silêncio quando se refere a decisões disciplinares é perfeitamente assumida.
“Há duas razões para isso”, explica um membro da Cúria Romana, que é atualmente bastante crítico da falta de transparência.
“Primeiro, há a convicção de que a Igreja não tem que justificar suas decisões, porque é soberana e precisa escapar da pressão. Então há uma falta de domínio das técnicas de comunicação. Não sabemos fazer isso o bastante”, ele admite.
A mesma fonte também elencou “uma inabilidade de sustentar as decisões”.
“Como resultado, deixamos que outros criem a narrativa, e então os rumores crescem”, lamenta.
“Há uma óbvia falta de coragem. Sem dúvida, algumas pessoas não percebem as consequências do silêncio”, diz a fonte.
Os recém-chegados ao Vaticano geralmente são informados de que “quanto menos você fala, melhor para você”.
Nesse sistema altamente hierárquico, “qualquer um que se pronuncie e desagrade o papa sempre tem medo de arriscar a cabeça”, resume uma fonte romana.
Isso também se deve ao desejo, muito em evidência no Vaticano, de não manchar a reputação de um líder da Igreja. Ou pelo menos para não o sobrecarregar quando ele cometeu um erro.
Em vez disso, há uma forma de “prudência caridosa” que constitui um poderoso freio à cultura da transparência.
Mas além dessas razões culturais, algumas pessoas também argumentam que o uso do silêncio está mais diretamente ligado à prática do poder exercido pelo papa.
Francisco administra sozinho alguns de seus arquivos, sem necessariamente usar os serviços da Cúria, ou pelo menos complementando as informações que lhe são fornecidas por meio de canais pessoais.
Como resultado, alguns dentro da Cúria sentem que nenhuma estratégia de comunicação real é possível quando surge um caso difícil.
E não é incomum que o papa use entrevistas com jornais populares e sites de mídia para falar sobre assuntos geralmente mais privados. Tal foi o caso recentemente do conteúdo de sua conversa com o Patriarca Kirill de Moscou.
Outras fontes também apontam para um modo de resolução de conflitos específico do Vaticano.
Assim, manter o sigilo dos procedimentos é tanto preservar a honra da pessoa envolvida, enquanto aguarda uma decisão, quanto poder resolver um problema sem que ele seja colocado em domínio público.
A publicação do resultado de uma decisão, como no caso de dom Dominique Rey, corresponde a um estágio avançado do processo que Roma faz contra um bispo.
E neste caso, de acordo com nossas informações, a declaração publicada pelo bispo foi escrita consultando o Vaticano.
É uma forma de Roma pedir à primeira pessoa em causa que comunique o que aconteceu a nível local.
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França. Vaticano permanece em silêncio sobre a suspensão das ordenações na Diocese de Fréjus-Toulon - Instituto Humanitas Unisinos - IHU