06 Junho 2022
A guerra que volta a se assomar à Europa era narrada com escândalo; agora ela é repetida como uma ladainha resignada à qual se responde automaticamente com a mesma expressão de antes, mas sem entender verdadeiramente o porte da coisa. As guerras distantes, nem sabemos que existem.
A opinião é de Tonio Dell’Olio, padre italiano, jornalista e presidente da associação Pro Civitate Christiana, em artigo publicado por Mosaico di Pace, 11-04-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Chegamos lá. Já convivemos com a guerra. Acostumados, inconscientes, olhamos as imagens do telejornal de plantão e ouvimos sobre as táticas e os avanços do inimigo, e sobre os atos heroicos dos que estão do nosso lado. As aparições de Zelensky-que-pede-armas em todas as convenções políticas, esportivas ou de entretenimento fazem parte do rito.
Em suma, convivemos com a guerra assim como com o boletim meteorológico, tanto que os jornalistas têm de ir pescar testemunhos e entrevistas cada vez mais impossíveis, cada vez mais perto do front de guerra, em um refúgio cada vez mais subterrâneo do que o anterior.
E não se fala de paz. O verdadeiro drama é esse. A operação midiática, política, sociopsicológica e sobretudo comercial de tornar a guerra mais normal do que a paz foi bem-sucedida. E se alguém está realmente trabalhando para montar mesas de diálogo credíveis ou tentando fazer prevalecer a diplomacia, não sabemos e nem perguntamos mais.
No início, a guerra que volta a emergir na Europa era narrada com escândalo; agora ela é repetida como uma ladainha resignada à qual se responde automaticamente com a mesma expressão de antes, mas sem entender verdadeiramente o porte da coisa. As guerras distantes, nem sabemos que existem.
Por isso, restaurar o espaço para a paz hoje se tornou um desafio mais difícil. O outro lado, o dos estrategistas e das armas, da informação embutida e dos jogos de guerra, é muito mais forte. Mas não se senta no lado certo da história.
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A guerra como hábito. Artigo de Tonio Dell’Olio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU