Há milênios cremos na espécie humana, especialmente a nossa, dos sapiens, como digna de um certo, digamos assim, “toque divino” para a qual todas as demais devem nos servir. Desde a Antiguidade, mas algo que se radicalizou com a Modernidade e o projeto colonial, fizemos convergir duas linhas da existência que tornaram a noção de “humano” como um qualificativo ao mesmo tempo moral e da espécie. Mas o que, de fato, torna-nos humanos?
“Ao indagar se a condição humana seria uma monstruosidade, faço-o em continuação a reflexões que desenvolvo no decorrer de meu trabalho como pesquisador”, propõe Adriano Messias, em seu livro Será a condição humana uma monstruosidade? (São Paulo: Estação das Letras e Cores Editora, 2019). “Por um lado, o termo 'monstruosidade' seria uma provocação ao leitor. Por outro, existe algo de real, no sentido lacaniano do termo, que se oculta por trás do ziguezague que os monstros da ficção nos permitem fazer, cerzindo, no labirinto do desejo, um obscuro fio de Ariadne”, complementa.
Adriano Messias participa hoje do IHU Ideias, às 17h30, com transmissão pela página do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, no YouTube e Facebook.
O antropoceno como atestado inconteste do projeto anticivilizacional de nossa espécie que durante séculos temos tocado adiante, convoca-nos a colocar em questão nossa relação com o planeta. “Uma tal convocação, porém, tem se mostrado vã, sobretudo porque boa parte dos governantes e donos de grandes indústrias e multinacionais não assume uma visão conjunta do que precisa ser urgentemente feito a fim de, se não sanar, pelo menos apaziguar os efeitos catastróficos da passagem do homo sapiens pelo planeta”, destaca Adriano Messias.
“As democracias, sempre frágeis e ainda nascedoras, parecem presenciar a própria ruína. As religiões, em grande medida, tornaram-se instrumentos de domínio das classes, como previsto por pensadores do século passado, e sociedades de controle dos cidadãos e de estímulo do gozo desenfreado se mostram uma constatação”, frisa. “E se repetição e sintoma andam juntos, a pergunta sintomática para esta espécie revolvida pela pulsão de morte – mas que, ao mesmo tempo, ainda se permite, em certa medida, ser enternecida pelo afeto e pela arte – poderia mesmo ser esta: será a condição humana uma monstruosidade?”, provoca.
O quê? Conferência Antropoceno e as ruínas da democracia: a condição humana como monstruosidade
Com quem? Adriano Messias, doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP
Onde? Transmissão on-line no site e nas plataformas digitais do IHU: YouTube e Facebook
Quando? Quinta-feira, 26/5/2022, às 17h30
Evento: IHU Ideias
Adriano Messias (Foto: Arquivo pessoal)
Adriano Messias tem pós-doutorado em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP, com bolsa concedida pela Fapesp.
Em 2018-2019, foi pesquisador convidado pela Universitat Autònoma de Barcelona, na Faculdade de Ciências da Comunicação, onde desenvolveu um projeto sobre o cinema e as tecnologias monstruosas.
Em 2016, também realizou pesquisa científica na Universitat Autònoma de Barcelona, na Faculdade de Filosofia, com ênfase em estudos psicanalíticos, como parte de suas atividades do pós-doutorado. É doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.
O IHU ideias é o mais tradicional evento do IHU, sendo realizado há quase duas décadas, apresentando-se como um espaço de discussão, análise e avaliação de questões que se constituem em grandes desafios de nossa época.
A proposta visa fomentar o debate sobre temas da atualidade, abrangendo as áreas de atuação do Instituto Humanitas Unisinos – IHU. Além disso, coloca-se como ponta de lança no debate de temas emergentes das descobertas científicas e suas implicações, observa as questões de ordem sócio-político-econômico-espirituais e culturais que influenciam na organização de diferentes grupos sociais.
Tudo isso levando em conta o contexto de globalização e da “sociedade da informação” e as repercussões na vida do ser humano enquanto sujeito.