“Fragmentos de uma história futura”, conferência com Alexsandro Elias Arbarotti

Angelus Novus, do Paul Klee (Imagem: Wikimedia Commons)

Por: Ricardo Machado | 23 Mai 2022

  

Sempre que vem à nossa mente a noção de fragmento, lembramo-nos do Angelus Novus, de Paul Klee, o qual Walter Benjamin afirmava que era uma espécie de anjo da história, com as costas virada para o futuro e tendo diante de si o amontoado das ruínas a que chamamos progresso. A tentativa, mas sobretudo o desafio, é olhar por sobre as asas do anjo de Klee e ver o futuro, senão em sua paisagem total, ao menos os cacos do porvir. É justamente isso que os modelos de análise e previsão climática fazem.

 

“A ruína da civilização atual se dará em virtude de sua hegemonia, baseada no crescimento constante a custas do consumo de energias poluentes como petróleo, gás e carvão mineral. E o resultado do uso excessivo dessas fontes é um desiquilíbrio energético no Sistema Terra, causado pelo acumulo de gases de efeito estufa”, comenta Alexsandro Elias Arbarotti, em uma resenha ao livro Há mundo porvir? Ensaios sobre os medos e os fins (Desterro [Florianópolis]: Cultura e Barbárie, 2014), de Débora Danowiski e Eduardo Viveiros de Castro.

 

Para debater estes e outros temas, o Instituto Humanitas Unisinos – IHU recebe o pesquisador Alexsandro Elias Arbarotti, pós-doutorando no Laboratoire Eau, Environnement et Systèmes Urbains (Leesu) na École des Ponts ParisTech, nesta terça-feira, 24 de maio.

 

Arbarotti fará a conferência "Fragmentos de uma história futura": caminhos para a construção de mundos possíveis. A atividade integra a programação do Decálogo do fim do mundo, evento que se propõe a discutir questões urgentes da vida contemporânea diante do colapso climático que vivemos.

 

O evento terá transmissão on-line e poderá ser acompanhado pelas plataformas digitais do IHU, tanto pelo site, quanto pelo YouTube e Facebook.

 

 

 

Mundos possíveis

 

Se o mundo no qual vivemos já não tem mais solução – e talvez essa seja uma boa notícia – cabe a nós pensarmos outros mundos possíveis, tanto melhor será quanto mais inclusivos o construirmos. “As alternativas se apresentam nas comunidades do mundo que ainda conservam uma relação com o mundo material em outros moldes – onde o Estado é até dispensado e a terra é vista como parte integrante da organização social e tida como local de onde emana a autonomia política, econômica e social, a despeito da megamáquina do capitalismo de consumo e produção 24 horas por dia. Sociedades que não se preocupam com a possibilidade de um futuro melhor, mas que se baseiam no presente, e tentam fazer dele o melhor possível”, ressalta Arbarotti na resenha mencionada.

 

Portanto, ensaiar outros olhares para escapar do paroxismo da ciência moderna requer uma visada para além do antropocentrismo típico da visão iluminista que se hegemonizou. “E com esse novo olhar, procurar proporcionar a possibilidade de se falar para além do Homem e da Natureza no singular, trazendo à tona novas ideias e sensibilidades para conhecer os variados modos de lidar com natureza, das mais diferentes culturas e sociabilidades. Um olhar que revele que a justiça social não é somente incorporar o pobre ao mercado de consumo, mas uma justiça social que conceda direitos e, acima de tudo, reconheça a diferença”, avalia Arbarotti. “Diferença presente nos indígenas e, também, nos pequenos agricultores, que por terem um maior contato com as plantas e os animais possuem outra sensibilidade ambiental e percebem as transformações do clima, ambiente e atmosfera de forma mais apurada”, complementa.

 

 

Sobre o evento – Decálogo sobre o fim do mundo

 

A proposta do Ciclo de Estudos Decálogo sobre o fim do mundo é discutir, de modo transdisciplinar, os desafios que o novo regime climático do planeta impõe às nossas formas de pensar, conceber e habitar o mundo. Dividido em dez conferências, a programação do ciclo retoma questões políticasfilosóficas e teológicas sobre a vida no antropoceno, considerando o ocaso e, em certo sentido, o fim/esgotamento da Modernidade.

 

No centro da crise, o sentido e a autorreferencialidade do ser humano em um mundo em que cada vez mais somos governados pelo que nos habituamos chamar de natureza. Trata-se, portanto, de um debate que leva em conta o deslocamento da política para a dimensão cosmopolítica. Repensar a condição humana diante do novo regime climático e a ameaça da sexta extinção em massa, justamente da espécie humana, pode ser o ponto inicial da discussão aqui proposta.

 

SERVIÇO

 

O que? Conferência "Fragmentos de uma história futura": caminhos para a construção de mundos possíveis
Com quem? Alexsandro Elias Arbarotti, ós-doutorando no Laboratoire Eau, Environnement et Systèmes Urbains (Leesu) na École des Ponts ParisTech, França
Onde? Transmissão on-line no site e nas plataformas digitais do IHU: YouTube e Facebook
Quando? Nesta terça-feira, 24 de maio, às 10h
Evento: Decálogo sobre o fim do mundo

 

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