29 Abril 2022
"Ele [Bolsonaro] arma uma cortina de fumaça, desviando assim o olhar da mídia para longe das maracutaias, omissões e ausência de programas de políticas públicas do seu governo", afirma Edelberto Behs, jornalista.
Com a “graça constitucional” concedida ao deputado Daniel Silveira, o presidente da República dá uma tacada e mira em três alvos: o primeiro é o Supremo Tribunal Federal (STF). Ele instalou um confronto envolvendo os três poderes, chamando indiretamente o Legislativo à defesa do deputado que foi condenado a oito anos e nove meses de prisão, perda de mandato, inelegibilidade e mais multa.
O segundo alvo é o seu curral eleitoral. Com a medida ele se apresenta como o macho alfa que enfrenta o Poder Judiciário e seus ministros. O terceiro alvo é a imprensa. Ele arma uma cortina de fumaça, desviando assim o olhar da mídia para longe das maracutaias, omissões e ausência de programas de políticas públicas do seu governo.
Bolsonaro pautou a mídia, que caiu nessa armadilha envolvendo repórteres, analistas, comentaristas, especialistas... Nesses dias, depois da Páscoa, a TV, o rádio, despenderam horas e horas analisando se o indulto a Daniel Silveira é constitucional, se a medida só o livra da prisão, mas também da inelegibilidade e da multa. O mesmo aconteceu na imprensa, com colunas e espaços destinados à graça bolsonarista.
Em ano eleitoral, a caneta perdoadora do presidente abre o confronto entre os Poderes, mas é justamente isso que pretendeu. Sumiu da pauta da mídia a atividade dos pastores adoradores de ouro junto ao Ministério da Educação, a visita de pastores ao Palácio do Planalto, a CPI da Covid e a compra superfaturada de vacinas que estava prestes a ocorrer, não fosse denunciada antes, também com o envolvimento de pastor.
Cai no esquecimento gastos excessivos das Forças Armadas no item alimentos de luxo. De fevereiro de 2021 a fevereiro de 2002, ainda na gestão do ministro Walter Braga Netto, foram gastos mais de 56,4 milhões na aquisição de 557,8 toneladas de filé mignon, 372,2 toneladas de picanha e 254 toneladas de salmão, segundo denúncia do deputado Elias Vaz (PSB-GO). Isso num momento em que a fome cresce no país e povo da periferia anda correndo atrás de caminhão de lixo para ver se sobrou um osso de açougue que foi jogado fora!
Estranha para as funções militares é a aquisição de 35 mil medicamento para a impotência sexual Viagra, de 60 próteses penianas infláveis e a compra no montante de 37 mil reais em bisnagas de gel lubrificante íntimo, em 2019 e 2020. Certamente o produto não foi usado para lubrificar canhões e metralhadoras.
Será difícil para o presidente da República justificar a compra de material tão exótico considerando a função das Forças Armadas. Assim como explicar à população porque o Brasil tem uma das gasolinas mais caras do mundo, o mesmo acontecendo com o diesel, o que puxa a inflação para dois dígitos e leva a população mais pobre a dispensar o botijão de gás para cozinhar, recorrendo à lenha! Sem falar no preço inflacionado dos produtos alimentícios!
Como explicar que um ministro do Meio Ambiente deixava passar a boiada e a derrubada de madeira atingiu níveis jamais alcançados! Ou a permissão governamental de garimpagem em terras indígenas, envenenando rios e levando doenças para a floresta? Sem falar nas recentes denúncias de escândalo envolvendo o Ministério da Educação com a liberação de verbas para apaniguados. A “gracinha” do presidente varreu esses casos todos para debaixo do tapete.
Como entender da boca de um presidente que fez gracinha de humor negro às pessoas que contraíram o covid-19, para justificar a demora na aquisição de vacinas, o cancelamento de compra de vacinas. Tanto que o general da ativa, então ministro, dobrou-se ao ex-capitão que saiu do Exército pela porta dos fundos, argumentando que “é simples assim: um manda e o outro obedece”.
Como defender um governo que deixou pessoas morrerem em Manaus por falta de oxigênio, ou a estimativa de 400 mil mortes por covid-19 que podiam ter sido evitadas se vacinas tivessem sido adquiridas a tempo? Como não se recordar da Val do Açaí, das rachadinhas, da defesa de torturadores e o lamento de que a ditadura tenha matado tão pouco? Como entender um mandatário que se lixa para o desastre amazônico e vai para a Assembleia da ONU afirmar, com a maior cara de pau, que o Brasil é um exemplo na defesa das florestas?
Como entender que um mentiroso desse calibre ainda tenha eleitores... Aliás, as mentiras com as quais alimenta as redes sociais é que o mantém na corrida eleitoral, para a vergonha do Brasil. E vá fumaça para desviar a atenção de todas as maldades que esse governo, abraçado por lideranças evangélicas que mais parecem ativistas políticos do que mensageiros da boa nova, já provocou e continua a fazê-lo, conduzindo boa parte do povo para a miséria, entregando riquezas da nação para interesses estrangeiros.
Não seria o caso da imprensa hegemônica, os portais alternativos, a mídia nanica esquecer de vez esse presidente, não dando palanque para as mentiras e o besteirol que profere no cercadinho, em solenidades, em encontros ... assim que fique falando apenas para o seu curral? Abram espaços na nuvem de fumaça, para que a má administração não caia no esquecimento, porque para tanto o Brasil já conta com a lamentável ação da Procuradoria Geral da República!
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Cortina de fumaça desvia a atenção da imprensa. Artigo de Edelberto Behs - Instituto Humanitas Unisinos - IHU