17 Fevereiro 2022
"Para desafiar o modelo de desenvolvimento que produz e alimenta as desigualdades e ao mesmo tempo explora o planeta de forma insustentável, comprometendo seu equilíbrio e ameaçando seu futuro, precisamos fazer exatamente o que pode ser visto nas ruas: juntar as lutas", escreve Elly Schlein, vice-presidente da região da Emilia Romagna, em artigo publicado por La Repubblica, 15-02-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Para entender quanto são interconectadas as desigualdades e as mudanças climáticas, basta olhar dentro e fora das nossas fronteiras quem está pagando o preço mais altos pelo aquecimento global. São os países em desenvolvimento, que menos contribuíram para causá-lo. Dentro de nossas fronteiras vale o mesmo: quem corre o risco de ser mais afetado pela emergência climática são aqueles que não podem escolher onde viver, onde trabalhar, que ar respirar. Aquele que sofre na pele a falsa contraposição entre direito de trabalhar e direito de respirar ar que não seja prejudicial. Quantas feridas abertas, como a de Taranto, quantos lugares de risco e poluídos, de norte a sul. Na Itália, além disso, o fenômeno da pobreza energética afeta mais de 4 milhões de famílias, que não dispõem de recursos econômicos suficientes para se aquecer no inverno.
As camadas mais pobres estão mais expostas a riscos climáticos e ambientais, sejam eventos climáticos extremos (porque têm duas vezes mais chances de viver em contextos frágeis) ou consequências de médio e longo prazo, como os efeitos nocivos das emissões que alteram o clima e da poluição sobre a saúde. São mais atingidos por desastres porque, tendo menos, correm o risco de perder tudo e ter menores chances de recuperação. Tudo isso só piora, numa espiral negativa, suas condições materiais: as mudanças climáticas aumentam as desigualdades.
E estudos confiáveis mostram que, em países onde as desigualdades são maiores, também são maiores a produção de resíduos, o consumo de água e as emissões de gases de efeito estufa por pessoa. Um círculo vicioso que deve ser interrompido o mais rápido possível.
Uma nova consciência está ganhando cada vez mais terreno: os esforços por justiça social e justiça ambiental devem andar juntos. Não é possível lutar eficazmente contra as desigualdades se não for abordada ao mesmo tempo a emergência climática, que é tanto uma causa como um efeito. E vice-versa, não pode ser implementada uma verdadeira transição ecológica sem acompanhar nela toda a sociedade, a começar pelos que trabalham e as camadas mais frágeis e expostas, para não deixar ninguém para trás.
Se esses argumentos estão se espalhando cada vez mais, até mesmo nas instituições, é porque há tempo essa nova consciência vem ganhando espaço nas ruas e nas mobilizações, principalmente entre as gerações mais jovens, que se manifestam nas greves pelo clima e contra a exploração do trabalho, na solidariedade com os migrantes e pela igualdade de gênero, nas Marchas do Orgulho e contra o racismo. E estão nos indicando um caminho, que é aquele da interseccionalidade.
Para desafiar o modelo de desenvolvimento que produz e alimenta as desigualdades e ao mesmo tempo explora o planeta de forma insustentável, comprometendo seu equilíbrio e ameaçando seu futuro, precisamos fazer exatamente o que pode ser visto nas ruas: juntar as lutas. Ouvindo-as atentamente, essas mobilizações – que surgiram espontaneamente, fora dos circuitos partidários – nos dizem muito sobre o que falta na oferta política atual. Dizem-nos que está surgindo na sociedade uma visão que reúne os desafios cruciais sobre os quais jogamos o futuro: a transição ecológica e a luta contra as desigualdades, pelos direitos e o trabalho de qualidade. A política, por outro lado, ficou para trás e insiste em dividir o que nas ruas já está marchando junto.
Além disso, existe uma política da contraposição, que sopra sobre o mal-estar e alimenta tensões, especialmente entre os mais frágeis, identificando um inimigo diferente todo dia como causa de todas as mazelas sociais. Assim, para quem se sente à margem e pede escuta e perspectivas de futuro, pode oferecer algo muito mais simples do que uma solução: um bode expiatório. Aquela política oferece soluções simplistas para problemas complexos, contando uma antiga mentira: que a resposta é trancar-se atrás de muros cada vez mais altos e recintos cada vez mais restritos, a nação, a cidade, até a própria casa, talvez armados até os dentes uns contra os outros, porque assim se fica "mais seguro".
Mas a sociedade mais segura não é aquela dos trancados em casa, é aquela que oferece às pessoas a consciência, no momento da necessidade, de poderem virar-se à porta ao lado, de confiar na comunidade ao redor. Restaurar a confiança nas possibilidades de melhorar a própria vida será o antídoto mais poderoso contra o ódio que encontra no diferente o bode expiatório mais fácil contra o qual veicular o medo de perder tudo e a frustração.
É por isso que é preciso uma política em condições de explicar com palavras simples a complexidade, que tenha a coragem de dizer a verdade às pessoas. E quem faz política, ainda mais quem governa, tem a responsabilidade não de alimentar as tensões sociais que as desigualdades inevitavelmente produzem, especialmente entre os mais frágeis, mas de agir sobre suas causas profundas, dando respostas proporcionais às diferentes necessidades que as pessoas, as comunidades e as regiões expressam.
A pandemia nos mostrou com brutalidade o quanto o bem-estar alheio também seja o nosso. O quanto a saúde e a possibilidade de viver em condições dignas para os mais vulneráveis, como os moradores de rua e os trabalhadores do campo, sejam do interesse de toda a comunidade. Ela nos mostrou como o conceito de fronteira seja evanescente e, portanto, seja vã a ilusão nacionalista de que fechando a porta é possível se proteger dos problemas que permeiam a sociedade como um todo. Os desafios europeus e globais exigem respostas europeias e globais, partilhadas e solidárias. É preciso unir forças e unir as lutas, inclusive além das fronteiras, se o que queremos é mudar as coisas.
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Por que o clima afeta os mais fracos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU