16 Fevereiro 2022
Um bispo alemão emitiu um compromisso por escrito de que os trabalhadores da Igreja não serão demitidos por serem LGBTQ.
O comentário é de Robert Shine, publicado em News Ways Ministry, 14-02-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O bispo Franz Jung, de Würzburg, emitiu a sua declaração após a iniciativa #OutInChurch e a terceira assembleia do Caminho Sinodal na semana passada, ambas com avanços para os trabalhadores LGBTQ da Igreja. O Bayerischer Rundfunk relatou ainda:
“Em um compromisso pessoal, Jung garantiu que os empregados não precisam temer nenhuma consequência em relação à sua orientação sexual. A redação da declaração afirma que ele garante que não tomará quaisquer medidas trabalhistas ou disciplinares ‘se forem conhecidos fatos que afetem o estilo de vida pessoal no que diz respeito a relacionamentos, orientação sexual ou identidade de gênero dos indivíduos’.”
Segundo a reportagem, isso também afeta os empregados da Cáritas diocesana e todas as outras pessoas jurídicas afiliadas que estejam comprometidas com a ordem básica do serviço eclesiástico. A decisão visa a rever esses regulamentos, explicou o bispo de Würzburg.
“Assim, as decisões sobre uma ‘forma legalmente regulamentada ou não proibida de parceria’ não devem mais ser tomadas como violações dos deveres de lealdade e, portanto, não devem mais impedir o emprego no serviço da Igreja”, explicou Jung. “As relações de trabalho existentes não serão postas em causa.”
Essa declaração segue um compromisso verbal do vigário geral da diocese, Jürgen Vorndran, em resposta à iniciativa #OutInChurch, que viu 125 trabalhadores da Igreja LGBTQ “saírem do armário” publicamente na Alemanha em um pedido de não discriminação. O bispo deu mais esse passo porque a implementação da resolução do Caminho Sinodal sobre as reformas das leis trabalhistas para proteger os empregados LGBTQ pode demorar um pouco para ser concluída.
A iniciativa #OutInChurch continua recebendo apoio público das lideranças da Igreja alemã. O arcebispo Stephan Burger, de Friburgo, disse que os participantes da iniciativa não enfrentariam punições e que a Igreja deve respeitar mais a vida das pessoas LGBTQ, informou o Katholisch.de. Dez teólogos daquela arquidiocese também emitiram uma declaração de apoio à iniciativa #OutInChurch.
O bispo Ludger Schepers, auxiliar da Diocese de Essen, que é responsável pelo ministério LGBTQ da Conferência dos Bispos da Alemanha, elogiou a iniciativa #OutInChurch. Ele reconheceu ao Katholisch.de que já conhecia alguns dos empregados da Igreja envolvidos e que os seus testemunhos “me tocaram muito, mas também me deixaram irritado com o modo negligente com que foram tratados na Igreja”.
Schepers disse que “concordava completamente” com a exigência dos trabalhadores de que possam viver as suas vidas abertamente enquanto trabalham na Igreja, comentando: “Uma Igreja na qual alguém tem que se esconder por causa de sua orientação sexual não pode, na minha opinião, estar no espírito de Jesus”. Ele também disse que o ensino da Igreja sobre a sexualidade deve ser reformado à luz do conhecimento contemporâneo.
Martin Wilk, vigário geral da Diocese de Hildesheim, escreveu uma carta dizendo que os trabalhadores LGBTQ da Igreja não serão discriminados, informou o Kathlolisch.de. Ele explicou: “Eu uso todos os meios à minha disposição para promover uma interação respeitosa uns com os outros”, acrescentando: “Precisamos de um debate honesto nos nossos órgãos consultivos diocesanos sobre a orientação básica da nossa diocese nesse âmbito”.
O bispo Helmut Dieser, de Aachen, reiterou seu apelo para que a Igreja reforme seus ensinamentos sobre a homossexualidade. O Katholisch.de relatou: “Eu espero que possa haver e haja formas diferentes na Igreja, que tenhamos celebrações de bênçãos para casais homossexuais, por exemplo, enquanto elas ainda são impensáveis em outras partes da Igreja mundial”, disse Diesen em entrevista ao Aachener Nachrichten. Segundo o bispo, o papa fala de modo diferente sobre esse assunto em comparação com as autoridades curiais. “É impressionante como Francisco é mais construtivo e positivo ao falar sobre a homossexualidade.”
Ele sublinhou a necessidade de reformas, tendo em vista também a recente campanha #OutInChurch de 125 empregados gays da Igreja: “Finalmente, temos que dar novas respostas às questões de ética sexual, que não são apenas impostas sobre nós de fora, mas que também estão no meio da reforma da Igreja”. Com o Caminho Sinodal, agora é realmente importante chegar a novas posições – “não por causa do zeitgeist, mas a partir da própria intuição”.
Dieser, que copreside o fórum do Caminho Sinodal sobre a moral sexual e os relacionamentos, disse estar “confiante” de que os bispos aprovarão os documentos do processo e os enviarão a Roma, onde ele tem menos certeza de um resultado positivo.
Os leitores regulares do Bondings 2.0 notarão que quase não conseguimos acompanhar todos os passos positivos que as lideranças da Igreja alemã e os trabalhadores da Igreja deram nas últimas semanas, como a iniciativa #OutInChurch e as resoluções LGBTQ do Caminho Sinodal. Chegou a hora de que o grande impulso que está ocorrendo naquele país se espalhe também pelo restante da Igreja Católica em nível global. Compromissos públicos de que os trabalhadores da Igreja LGBTQ não serão demitidos por causa de suas identidades ou relacionamentos seriam um bom começo.
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Bispo alemão se compromete por escrito a não demitir trabalhadores LGBTQ - Instituto Humanitas Unisinos - IHU