16 Fevereiro 2022
“As pessoas precisarão se adaptar para enfrentar as consequências devastadoras e inevitáveis do aquecimento global”, alertou dramaticamente, nessa segunda-feira, o presidente do Painel Intergovernamental de Especialistas sobre as Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC), Hoesung Lee, durante o início das reuniões que tratarão sobre o impacto destruidor deste fenômeno no meio ambiente e as medidas urgentes que os Governos terão que tomar para aliviar a catástrofe climática.
A reportagem é publicada por Página/12, 14-02-2022. A tradução é do Cepat.
O chefe do grupo de especialistas da ONU argumentou que “nunca tanto esteve em jogo e a luta contra as mudanças climáticas é maior do que nunca”, razão pela qual se reunirão, durante as próximas duas semanas, para analisar e elaborar a segunda parte do Relatório Especial sobre os impactos do aquecimento global.
Embora há muitos anos o IPCC vem alertando sobre as nefastas consequências do aquecimento global, a novidade deste último relatório é que se concentra na adaptação: as mudanças climáticas terão um impacto devastador e inevitável na Terra e as pessoas não terão mais opção a não ser se adaptar a esse novo cenário.
Das reuniões que começam nesta segunda-feira, das quais participam 195 países, surgirá um documento de 40 páginas que será publicado no dia 28 de fevereiro e que “integrará de forma mais estreita as ciências econômicas e sociais e fornecerá aos responsáveis por políticas públicas os conhecimentos para ajudá-los a elaborar políticas e tomar decisões”, destacou Hoesung Lee.
“Em certas regiões, se as temperaturas excederem níveis muito altos, a vida humana não será mais possível”, já havia advertido um dos autores do primeiro relatório, o climatologista Laurent Bopp.
Em tal documento, publicado em agosto passado, os especialistas do IPCC estimam que até 2030, dez anos antes do previsto, a temperatura global terá aumentado 1,5 grau.
O segundo capítulo do relatório alerta sobre as consequências inevitáveis do aquecimento global e destaca que a forma para enfrenta-lo será a adaptação.
A terceira parte, que sairá em abril, estará orientada às soluções para reduzir as emissões de gases do efeito estufa.
Após mais de um século e meio de desenvolvimento econômico baseado nas energias fósseis, a temperatura do planeta subiu 1,1 grau, desde a era pré-industrial, multiplicando as ondas de calor, as secas, as tempestades e as inundações devastadoras.
A extinção de espécies, o colapso de ecossistemas, as doenças transmitidas pelos mosquitos, as ondas mortais de calor, a seca e a diminuição das colheitas já são consequências palpáveis da alta das temperaturas.
Em quase todos os continentes, o mundo sofre catástrofes, como os incêndios no oeste dos Estados Unidos, Grécia e Turquia, no ano passado, as inundações que afetaram a Alemanha e a China, e o calor de quase 50 graus em Canadá.
Cerca de “4,5 bilhões de habitantes do planeta sofreram alguma catástrofe ligada a um evento climático nos últimos 20 anos”, acrescentou o chefe da Organização Meteorológica Mundial (OMM), destacando que as energias fósseis “doparam” a atmosfera, reforçando o efeito estufa.
As consequências do aquecimento global impactarão todos os continentes em todos os aspectos: saúde, segurança alimentar, escassez de água, deslocamento de populações, destruição de ecossistemas.
No entanto, “o aumento dos impactos climáticos supera amplamente nossos esforços de adaptação”, avaliou Inger Andersen, diretora do Programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA).
Para Andersen, o mundo já está informado sobre os resultados científicos apresentados pelos especialistas da ONU, todos os anos e de década em década, mas ressaltou que “reconhecer as provas é apenas o primeiro passo”.
Diante da necessidade de reduzir as emissões de gases que retêm o calor até 2030 – em cerca de 50% -, para não ultrapassar o limite de + 1,5 grau da temperatura global, na COP26 de Glasgow, em novembro passado, o mundo se comprometeu a acelerar a luta contra o aquecimento.
Não obstante, o secretário-geral da ONU, António Guterres, qualificou tal iniciativa como “insuficiente” para adiar “a catástrofe climática que ainda bate à porta”.
A copresidente do grupo de especialistas da ONU, Debra Roberts, sublinhou que esse segundo relatório não se trata “simplesmente de uma lista de coisas que podem ser feitas, mas também uma avaliação da eficácia e a viabilidade” das medidas.
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Mudanças climáticas: dramático pré-relatório da ONU - Instituto Humanitas Unisinos - IHU