21 Dezembro 2021
Estudo coordenado pela TNC mostra o impacto do aumento das temperaturas nas atividades laborais ao ar livre em regiões de floresta com a redução das horas seguras de trabalho.
A reportagem é publicada por EcoDebate, 20-12-2021.
Um estudo sobre os impactos do aquecimento global na população, publicado nesta sexta-feira (17/12) na revista científica One Earth, revela que o aumento da temperatura nos trópicos já está colocando em risco o bem-estar e a produtividade das pessoas que trabalham ao ar livre.
O estudo, conduzido por uma equipe multidisciplinar da Duke University, University of Washington e da organização não governamental The Nature Conservancy (TNC), teve por base as condições de trabalho consideradas seguras, informações de satélite e dados populacionais. Ao cruzar as referências, o estudo identificou que o aquecimento global, associado ao desmatamento recente (2003-2018), aumentou a exposição ao calor para 4,9 milhões de pessoas ao redor mundo, incluindo 2,8 milhões que trabalham ao ar livre.
Uma das conclusões mais significativas foi referente à segurança do trabalho considerando os impactos na saúde de um trabalhador em uma determinada umidade e temperatura. De acordo com os pesquisadores, houve reduções significativas nas horas seguras de trabalho em áreas desmatadas quando comparadas com as de floresta tropical intacta.
No Brasil, o estudo destaca a exposição desproporcional ao calor nos estados do Pará e Mato Grosso e alerta que as projeções de aquecimento devem agravar ainda mais a situação. O estudo projeta que o aquecimento global futuro de mais 2°C em relação ao presente pode afetar 250 mil pessoas com a perda de mais duas horas de trabalho seguro por dia em comparação com 2003.
Segundo Luke Parsons, que liderou grande parte da pesquisa, os dados reforçam a importância das florestas tropicais na mitigação dos efeitos do aquecimento global. “Nossas descobertas destacam o papel vital que as florestas tropicais desempenham como 'ar-condicionado natural', em especial para as populações mais vulneráveis às mudanças climáticas, visto que são normalmente de regiões onde o trabalho ao ar livre tende a ser a principal opção para muitos”, explica o pesquisador da Duke University.
Já o coautor e cientista de mudanças climáticas da TNC, Nick Wolff, destacou a urgente necessidade de conter e reverter o desmatamento das florestas. “Já sabíamos que o desmatamento tropical está associado a aumentos localizados de temperatura, mas, devido ao aquecimento acelerado que está ocorrendo em todo o planeta, é urgente realizar mais pesquisas sobre como as mudanças estão afetando populações humanas vulneráveis em todos os trópicos. Os vários compromissos para conter e reverter o desmatamento que surgiram na COP26, em Glasgow, foram apenas um começo. Agora precisamos ver esses compromissos se convertendo rapidamente em ações locais tangíveis”, explicou.
Wolff afirmou, ainda, que o estudo evidenciou que remover a floresta tropical não é ruim apenas para as mudanças climáticas globais, mas também para os ecossistemas e comunidades locais. E, assim, evitar o desmatamento trará um benefício tangível para as pessoas que vivem em áreas de floresta tropical.
Fonte: The Nature Conservancy (TNC)
Parsons L.A., Jung J., Masuda Y.J., Vargas Zeppetello L.R.V., Wolff N.H., Kroeger T., Battisti D.S., Spector J.T. Tropical deforestation accelerates local warming and loss of safe outdoor working hours. One Earth. Disponível aqui.
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Estudo mostra relação de aquecimento global e trabalho ao ar livre nos trópicos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU