02 Dezembro 2021
"Por ocasião da sua próxima visita a Lesbos, esperamos que tenha a oportunidade de ouvir as opiniões das pessoas que ajudamos, mas também de nos honrar com a possibilidade de um breve encontro com o senhor em Atenas ou Lesbos".
Ilha grega de Lesbos, no mar Egeu (Foto: Reprodução | Google Maps)
O pedido é de Vasiliki Katrivanou, publicado juntamente com a carta aberta ao Papa Francisco por Il Manifesto, 01-12-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Sua Santidade, sentimo-nos honrados em nos dirigir ao senhor em nome de 36 organizações da sociedade civil que operam na Grécia.
As nossas organizações prestam assistência contínua, mesmo após a fase de primeiros socorros, a pessoas que procuram proteção e uma vida melhor na Europa, muitas vezes fugindo de situações que colocam as suas vidas em grave perigo e muitas vezes imediato. Prestamos a nossa ajuda humanitária e também serviços especializados, como assistência jurídica, apoio psicossocial, apoiando cada um no esforço em que estão empenhados para encontrar uma nova pátria e para dar-lhes um abraço.
Tomamos a coragem de lhe dirigir uma carta conjunta, conhecendo seu profundo amor e sensibilidade pela situação dos refugiados na Grécia e em outros lugares.
Mapa da Grécia (Foto: Reprodução | Google Maps)
Por ocasião da sua próxima visita a Lesbos, esperamos que tenha a oportunidade de ouvir as opiniões das pessoas que ajudamos, mas também de nos honrar com a possibilidade de um breve encontro com o senhor em Atenas ou Lesbos.
Nestes tempos difíceis, aguardamos ansiosamente a sua chegada, Santidade, para darmos juntos alguma luz às pessoas que precisam da nossa proteção e do nosso amor.
Com profundo respeito, em nome de 36 organizações da sociedade civil que operam na Grécia,
Vasiliki Katrivanou, Coordenador da Unidade Social, Conselho de Refugiados da Grécia
À Sua Santidade o Papa Francisco
Vossa Santidade, a sua visita a Lesbos nos enche de alegria e esperança. É muito importante para nós que a Igreja Católica mostre assim o seu grande interesse pelos refugiados, os mais frágeis e perseguidos deste mundo.
Recordamos com grande emoção a sua visita anterior e acompanhamos a sua constante mobilização pessoal pelos refugiados que atravessam o Mediterrâneo procurando chegar especialmente aos países do Sul da Europa. Independentemente da atitude de cada um de nós em matéria de fé e de religião, essa orientação da sua Igreja para o Outro, na qual procura o Próximo, é um dos sinais mais reconfortantes do nosso tempo.
Mapa da Europa (Foto: Reprodução | Google Maps)
A crise dos refugiados, como bem sabe, não acabou. Os recentes acontecimentos no Afeganistão, bem como dramáticos desenvolvimentos em outras partes do nosso mundo, que não recebem a mesma atenção pública, como o Iêmen e a Etiópia, estão constantemente aumentando os riscos para a vida e a liberdade de um número cada vez maior de pessoas. Essas pessoas precisam e têm direito à proteção internacional, conforme estabelecido/acordado por todas as nações na Convenção de Genebra após a dolorosa experiência da Segunda Guerra Mundial. Esse direito não deve ser relativizado ou contestado.
Os países europeus não podem e não devem negar a sua parte de responsabilidade na proteção dos refugiados. Transferir a responsabilidade para outros países em troca de ajudas financeiras aumenta as desigualdades globais e é moralmente deplorável. Ao mesmo tempo, frequentemente expõe os refugiados ao risco de maus-tratos ou os coloca em um estado de proteção sujeito a restrições. Uma Europa fundada nos valores da humanidade, da democracia e da solidariedade não pode ser legitimada mudando constantemente as suas responsabilidades para outros lugares. O mesmo vale para certos governos europeus que negam, por si próprios, sua parte de responsabilidade.
Sabemos que o senhor, Santidade, faz todo esforço e influencia para mudar.
Em Lesbos, verá milhares de refugiados do Afeganistão, Iraque, Congo e dezenas de outros países. Alguns deles permanecerão para sempre na Grécia e o Estado grego deve elaborar imediatamente um plano para a sua integração. Outra parte, no âmbito da repartição das responsabilidades, precisaria, em nosso entender, da intervenção dos restantes países europeus no âmbito de um novo plano de recolocação, como o que funcionou, em certa medida, dentro da União Europeia nos anos 2015-2017.
Provavelmente notará que a população de refugiados de Lesbos é inferior àquela de 2016. De fato, milhares de pessoas foram transferidas para o interior e em número menor para outros países europeus.
No entanto, há quem não tenha conseguido chegar à Grécia. Existem denúncias, que as organizações internacionais consideram comprovadas e fundadas, segundo as quais são perpetradas graves violações dos direitos dos refugiados na fronteira europeia que chegam ao seu envio de volta para a Turquia.
Essa tática coloca a vida das pessoas em perigo imediato, incluindo crianças pequenas, que muitas vezes são deixadas sem proteção no mar. Essa tática ilegal deve cessar imediatamente e convidamos o senhor a usar de toda a sua influência para detê-la, mas também que existam instrumentos de investigação independentes sobre tais incidentes.
Provavelmente, será informado pelas autoridades gregas competentes sobre os novos Centros de Acolhimento e Identificação “fechados e controlados” que estão preparando em cinco ilhas do Mar Egeu para o acolhimento de requerentes de asilo. O primeiro já foi inaugurado e está em operação em Samos.
Ilha grega de Samos, no mar Egeu (Foto: Reprodução | Google Maps)
Gostaríamos de compartilhar nossas opiniões sobre eles. Acreditamos que a permanência por muitos meses desses nossos semelhantes em locais de isolamento, longe das cidades e da população local, priva-os dos direitos fundamentais, não facilita a sua integração e muitas vezes cria para eles problemas vitais, existenciais e mentais. Para nós, a integração na futura sociedade de acolhimento é um processo que deveria começar desde o primeiro dia. O isolamento de pessoas nessas condições significa que não têm fácil acesso aos serviços de saúde, mas também - muitas vezes - as crianças são privadas do direito à educação. De fato, ficar nessas condições é, infelizmente, mais similar a uma prisão a céu aberto. Essa caracterização também é apoiada pelas restrições significativas impostas à liberdade de circulação dos requerentes de asilo que vivem nesses centros.
Acreditamos que esses novos centros, financiados exclusivamente pela União Europeia, devem ser totalmente reformados e que deva mudar a filosofia que os inspira, de forma a garantir a relação viva dos requerentes de asilo com as comunidades locais e a sua normal integração nelas. Ao mesmo tempo, todos os esforços possíveis devem ser feitos para garantir que os requerentes de asilo não percam os seus direitos fundamentais, como o acesso à saúde e à educação. E, acima de tudo, não percam sua liberdade e dignidade.
Vossa Santidade, gostaríamos de ter a oportunidade de partilhar convosco essas preocupações nossas e de outros que, por uma questão de brevidade, não apresentamos aqui, num encontro.
Por fim, desejamos expressar nossa gratidão pelo fato de que, como líder religioso de bilhões de fiéis, o senhor se opõe com coerência a qualquer fenômeno de xenofobia e racismo, lembrando – a crentes e não crentes - o valor fundamental sobre o qual se baseia a nossa convivência comum, ou seja, nossa comum espécie humana.
1. Community Pope John XXIII
2. Danish Refugee Council (DRC)
3. ECHO100PLUS
4. ELIX
5. A Drop in the Ocean
6. Actionaid Hellas
7. ARSIS – Association for the Social Support of Youth
8. Βabel Day Center
9. Caritas Hellas
10.Centre Diotima
11.Changemakers Lab
12.Equal Rights Beyond Borders
13.Europe Must Act
14.Fenix – Humanitarian Legal Aid
15.Greek Council for Refugees (GCR)
16.Greek Forum of Migrants
17.Greek Forum of Refugees
18.Hellenic League for Human Rights
19.HIAS Greece
20.Humanrights360
21.INTERSOS
22.Odyssea
23.Symbiosis-School of Political Studies in Greece, Council of Europe
24.INTERSOS Hellas
25.Irida Women’s Center
26.Jesuit Refugee Service Greece (JRS Greece)
27.Lesvos Solidarity
28.Médecins du Monde – Greece
29.Network for Children’s Rights
30.Mobile Info Team (MIT)
31.Refugee Legal Support
32.Refugee Support Aegean (RSA)
33.Samos Advocacy Collective
34.Samos Volunteers
35.SolidarityNow
36.Still I Rise
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Da Grécia, carta aberta das ONGs ao papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU